Reflexão para o domingo, 8 de setembro de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 10, 1-20

O envio dos 72 no Evangelho de Lucas nos faz pensar a princípio no significado desse número. Sendo 72 múltiplo de 12, isso nos remete a ideia de que depois do envio dos primeiros discípulos, esses se multiplicam. Se pensarmos na continuidade dessa multiplicação, podemos dizer que hoje todos nós somos enviados. Mas a que circunstâncias somos enviados? Não necessariamente como andarilhos em cidades desconhecidas, mas justamente às próprias circunstâncias de nossas vidas.

Assim como árvore, ao nascermos, somos plantados no solo de nossas famílias, inseridos em nossas circunstâncias, pertencentes a um meio social que nos nutre, molda nossa existência, mas do qual, mais cedo ou mais tarde necessitamos nos libertar e, paradoxalmente, continuar a pertencer. Cada um de nós, como árvore, tem uma missão: crescer e florescer, levando vida ao nosso redor, e recebendo vida do nosso redor e do céu. Ao transpor a imagem do envio dos 72 no Evangelho de Lucas para nossas vidas, percebemos que, ao nos enraizarmos em nossa família e comunidade, estamos sendo enviados por Cristo a sermos sinais vivos de sua presença. Nossas raízes devem se aprofundar no amor, nossa sombra deve oferecer acolhimento, e nossos frutos devem nutrir aqueles que nos cercam.

O paradoxo se dá pelo fato de que embora essa seja a missão de cada um de nós, ela deve, ao mesmo tempo, ser livre. É em liberdade que escolhemos servir aos nossos irmãos. Ninguém pode nos obrigar a amar. Amor por obediência não é amor. Daí a metáfora da árvore já não mais nos serve. No entanto, jamais cumpriremos a missão de nos tornarmos verdadeiramente seres humanos se não realizarmos essa missão. Por mais que nos afastemos da missão do envio, mais cedo ou mais tarde, como filhos pródigos teremos que voltar. Mas nessa circunstância já teremos conquistado nossa liberdade.

Que possamos então nos ver como árvores plantadas por Cristo, crescendo e florescendo onde fomos colocados. Vamos estender nossos ramos, oferecendo abrigo, paz e frutos a todos que encontrarmos em nosso caminho, e assim, cumprir com alegria o chamado de sermos enviados por Ele ao mundo, mas o façamos livremente.

Carlos Maranhão