„No princípio era o Verbo,
e o Verbo estava com Deus,
e o Verbo era Deus.
Este no princípio estava com Deus.
Todas as coisas existiram por ação dele
e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida,
e a vida era a luz dos homens.
E a luz brilha na escuridão,
e a escuridão não a recebeu.“
João 1, 1-5
Se queremos nos conscientizarmos do nosso passado podemos começar relembrando o que aconteceu ontem, na semana passada, no mês passado, no ano passado e assim até o momento da primeira lembrança que temos na nossa vida. Mais para trás do que este momento não temos uma recordação. Com certeza nossos pais nos contaram algo desta nossa primeira infância tão remota. Mas independentemente do que outros nos contaram, temos o sentimento óbvio, de que nós existimos ante do período do qual podemos nos recordar. Assim podemos pensar nestes primeiros anos da nossa vida como bebês, no tempo da gestação no ventre de nossas mães. E chegamos ao ponto da nossa fecundação.
E o que fomos antes? Podemos despertar em nós o sentimento, a convicção de que nós já tivemos uma existência antes da fecundação: não o nosso corpo, mas a nossa alma. E como foi esta vida da nossa alma no mundo espiritual? Quantas vezes já nos encarnamos, nascemos e morremos? Se tentamos imaginar algo concreto sobre estes tempos tão distantes, corremos o risco de torná-los muito abstratos. Mas ao invés de tentarmos imaginar algo concreto, podemos procurar fortalecer sempre mais o sentimento que nós e tudo o mais no mundo já existem por tempos muito longínquos. Este exercício de sentir o passado, sentir sempre mais a imensidão da corrente do tempo não nos deve levar à abstração de que o tempo é infinito. O sentimento da imensidão do tempo e da existência pode nos levar à consciência de que há um início para tudo: para nós, para o mundo, para o espaço e para o tempo.
Este é o princípio de tudo, um princípio que não só determina o ponto de partida, mas também a intenção, o sentido da criação de toda a existência. Neste princípio não existia nada daquilo que para nós é algo, mas era aquele nada do qual toda existência foi criada. É o princípio divino, que dá existência e sentido a tudo e a todos. Mas para que do nada surja algo, este princípio divino tem que se transformar em uma potência criadora. Esta potência criadora é de natureza divina, e incorpora em si a potência de criar a partir de um princípio: criar o tempo, criar o espaço, criar o mundo, criar a nós.
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e Deus era o Verbo. Este, no princípio, estava com Deus. Todas as coisas existiram por ação dele e sem ele nada do que foi feito se fez.”
Se começamos a nos conscientizarmos da nossa existência percebemos que temos três níveis do nosso ser: temos um corpo (substância), temos vida e temos consciência. Um próximo passo de conscientização do divino na nossa existência é sentir que não apenas o mundo como substância tem sua origem num princípio divino, mas também nossa vida e nossa consciência.
“Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. “
Temos um corpo que dá a base para a nossa vida. Temos uma vida que dá a base para o desenvolvimento da nossa consciência. E aqui chegamos à pergunta básica da nossa existência: como podemos desenvolver uma consciência que seja capaz de receber a luz Divina que é a origem de tudo e de todos, que atua no mundo e em nós?
“E a luz brilha na escuridão, e a escuridão não a recebeu. “
João F. Torunsky