Reflexão sobre o Evangelho de João, 23 de maio

“Jesus ia passando, quando viu um cego de nascença. Os seus discípulos lhe perguntaram: ‘Rabi, quem pecou para que ele nascesse cego, ele ou seus pais?’ Jesus respondeu: ‘Nem ele, nem seus pais pecaram, mas é uma ocasião para que se manifestem nele as obras de Deus. É preciso que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia. Vem a noite, quando ninguém poderá trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.’
Dito isso, cuspiu no chão, fez barro com a saliva e aplicou-a nos olhos do cego. Disse-lhe então: ‘Vai lavar-te na piscina de Siloé’(que quer dizer: Enviado). O cego foi, lavou-se e voltou enxergando.
Os vizinhos e os que sempre viam o cego pedindo esmola diziam: ‘Não é ele que ficava sentado pedindo esmola?’ Uns diziam: ‘Sim, é ele.’ Outros afirmavam: ‘Não é ele, mas alguém parecido com ele.’ Ele, porém, dizia: ‘Eu sou.’
Então lhe perguntaram: ‘Como é que se abriram os teus olhos?’ Ele respondeu: ‘O homem chamado Jesus fez barro, aplicou nos meus olhos e disse-me: ‘Vai a Siloé e lava-te’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver.’ Perguntaram-lhe ainda: ‘Onde ele está?’ Ele respondeu: ‘Não sei.’”

João 9, 1-12

Os olhos são muito importantes para a nossa relação com o mundo. Através deles nos ligamos com todo nosso redor e recebemos uma ampla escala de informações e impressões. Necessitamos deles para atuar e trabalhar. No encontro com outro ser humano, os olhos revelam algo do ser interior do outro. Os olhos são como o limiar entre o mundo exterior e interior. Para ver algo, precisamos da luz do dia. Na escuridão os olhos perdem sua capacidade e a noite nós os fechamos.
Para nossa relação com o mundo espiritual também precisamos de olhos. O escritor francês Jacques Lusseyran, que perdeu a visão na infância, contou em sua biografia ‘Memorias de Vida e Luz’ como conseguiu superar a cegueira. Pouco a pouco ele aprendeu a enxergar com os olhos internos, os olhos da alma. Ele descobriu uma luz interna. Ele percebeu que essa luz só estava presente enquanto ele tinha coragem, confiança e paz. Ira, insegurança e agitação da alma o deixavam imediatamente na escuridão.
Nós também temos a possibilidade de abrirmos os olhos da alma e descobrir a luz interna. Cristo quer ser a luz do dia para os olhos da alma. Para isso ele nos mostra um caminho de coragem, confiança e paz. Ele nos ensina a aceitar e enfrentar os desafios de cada dia com coragem, e a termos confiança de que eles tem um sentido em nossa vida. E ele nos alerta a não esquecermos, nos obstáculos da vida, que o mundo físico não é nosso único lar.

“No mundo tereis aflições. Mas tende coragem! Eu venci o mundo.”
(João 16, 33)

Pouco a pouco podemos descobrir a luz interna e abrir os olhos da alma. Os olhos e a luz que não dependem do mundo físico. Eles nos mostram o nosso ser espiritual que sempre tem um lar no mundo espiritual.

Julian Rögge