Reflexão sobre o Evangelho de João, 28 de abril

“Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro. Há outro que testifica de mim, e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro. Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. Eu, porém, não recebo testemunho de homem; mas digo isto, para que vos salveis. Ele era a candeia que ardia e alumiava, e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz.
Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço, testificam de mim, que o Pai me enviou. E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecer. E a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou não credes vós. Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; e não quereis vir a mim para terdes vida.
Eu não recebo glória dos homens; mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis. Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem.”

João 5, 31-44

 

Apesar do texto do Evangelho de João ser bastante complicado e possa nos parecer algo abstrato, ele toca em um tema bem atual: a verdade e as fake news.
Os historiadores e sociólogos dão nomes para períodos da história da humanidade caracterizando a qualidade da sociedade de então. Houve a época da modernidade, seguida depois da época pós-moderna. Há alguns anos fala-se que a humanidade entrou em uma nova época: a época da pós-verdade. Estamos vivendo uma realidade a qual não havia antes: a verdade está perdendo a sua importância. Sempre houve a mentira, mas ela sempre foi considerada algo errado por si. Sempre houveram pessoas que procuraram, a partir de mentiras, conquistar o poder. Mas elas sempre procuraram esconder a mentira. Agora está se tornando cada vez mais algo normal que se manipule a realidade por mentiras evidentes. Se torna sempre mais difícil punir alguém por ter mentido conscientemente. Ainda que se esteja produzindo inquéritos para agir contra fake news, todos sabem que os diferentes grupos usam esse caminho para manipular e atingir o poder. Nesse contexto se torna muito atual e existencial a pergunta: quem dá testemunho pela verdade? Já não podemos esperar que pessoas que ocupam cargos importantes na nossa sociedade sejam aquelas que dão testemunho da verdade, nem dos meios de comunicação que têm como tarefa nos informar sobre o que realmente acontece. Com certeza ainda há pessoas em cargos públicos que almejam serem testemunhas da verdade. Mas infelizmente cada vez mais raras são essas pessoas e, para elas, se tornou quase impossível não fazer parte de um sistema pós-verdade.
E quanto mais nos falta o testemunho da verdade na sociedade, tanto mais temos que encontrar em nós mesmos algo que nos ofereça uma orientação para aquilo que sentimos como verdade. A pergunta mais importante hoje não é: onde posso encontrar alguém que dê o testemunho da verdade? Hoje a pergunta mais importante é: podemos tomar a decisão de nos comprometermos com a verdade, de sermos nós mesmos, cada um de nós, no âmbito social que o destino nos colocou, uma testemunha da verdade?

João F. Torunsky