Reflexão para o domingo, 29 de setembro de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Mateus 22, 1-14

“O reino dos céus é como…” Essa grande parábola tem duas partes principais. Na primeira, os mensageiros do rei chamam os convidados para a festa, mas não são ouvidos.
Na segunda parte, o rei percebe que um dos convidados não está vestido com traje de festa. Ele é amarrado e lançado para fora da festa.
Surgem duas perguntas. Estamos abertos para ouvir os mensageiros dos céus? Conseguiremos vestir o traje de festa?
Para ouvir o chamado, precisamos estar abertos para ele. Isso será difícil enquanto estamos presos ao nosso dia a dia. Podemos desenvolver esse ouvir interno em momentos de silêncio, de oração e de reflexão.
Podemos ver o nosso corpo, a nossa alma e a nossa individualidade como a “roupa” do nosso ser eterno. Através dos desafios e crises da vida precisamos desenvolvê-los. Nesse caminho de desenvolvimentos, os nossos corpos se transformam pouco a pouco em um traje de festa para a grande festa de casamento nos céus.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 15 de setembro de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Mateus 6, 25-34

Não vos preocupeis com a vossa vida!

É possível não se preocupar com a própria vida?

Tal atitude não seria irresponsável?

No texto original grego, no lugar da palavra “preocupação”, há um termo cuja origem significa “dividir”, “separar uma parte da totalidade”.

Portanto poderíamos também dizer:

Não deixai que uma parte de vossa alma seja separada da totalidade do vosso ser. Permanecei inteiros, não deixeis que vossos pensamentos e vossas preocupações façam com que uma parte de vós se separe da totalidade da vida!

Nesta exortação, não se quer dizer que o ser humano não deva pensar em sua vida, ou que ele não busque ativamente fazer o que é necessário para suas necessidades.

Nesta exortação se trata de perceber que a inquietação, os medos ou os pensamentos que nos atormentam – que muitas vezes chamamos de preocupações – em geral não ajudam muito. Pelo contrário, em tais casos nossa consciência fica presa no problema e nas preocupações. Isso pode chegar a tal ponto que uma parte de nossa vida interior fica tão envolvida nos problemas e nas preocupações que tende a se separar do resto da vida. Tais preocupações e inquietações tendem a ganhar uma dinâmica própria. Elas sugam nossa atenção. Elas drenam nossas forças e nos fecham para a vida.

Cristo dirige o nosso olhar para a natureza!

Olhai os pássaros do céu!

Olhai os lírios do campo!

Não há ajuda quando nos deixarmos levar pelas preocupações.

É muito mais importante ampliar nossa visão, abril o olhar interessado para o mundo à nossa volta. O primeiro passo é liberar-nos da prisão das preocupações. Em seguida buscamos retornar à vida, à totalidade de nossas vidas, fazendo com que nossa consciência e nossos pensamentos não girem mais o tempo todo em torno de tais preocupações. Um olhar alegre e sereno para natureza pode ser de grande ajuda. Lá, na natureza, há algo que se ocupa de cada detalhe.

O Deus-Pai se ocupa de suas criaturas. Ele se preocupa por todas elas.

Também nós, seres humanos, podemos participar dessa força provedora e cuidadora. Mas isto só é possível se estivermos totalmente imersos na vida, se não permitirmos que nosso ser interior se divida por causa de medos e preocupações.

Todo ser vivo é uma totalidade em si mesmo e forma um organismo inteiro.

Somente assim – inteiro, sem se deixar dividir – ele faz parte da vida e as forças divinas lhe sustentam e lhe outorgam o que precisa para viver.

Renato Gomes – Berlim

Reflexão para o domingo, 8 de setembro de 2024

Referente à perícope do Evangelho de Lucas 10, 1-20

O envio dos 72 no Evangelho de Lucas nos faz pensar a princípio no significado desse número. Sendo 72 múltiplo de 12, isso nos remete a ideia de que depois do envio dos primeiros discípulos, esses se multiplicam. Se pensarmos na continuidade dessa multiplicação, podemos dizer que hoje todos nós somos enviados. Mas a que circunstâncias somos enviados? Não necessariamente como andarilhos em cidades desconhecidas, mas justamente às próprias circunstâncias de nossas vidas.

Assim como árvore, ao nascermos, somos plantados no solo de nossas famílias, inseridos em nossas circunstâncias, pertencentes a um meio social que nos nutre, molda nossa existência, mas do qual, mais cedo ou mais tarde necessitamos nos libertar e, paradoxalmente, continuar a pertencer. Cada um de nós, como árvore, tem uma missão: crescer e florescer, levando vida ao nosso redor, e recebendo vida do nosso redor e do céu. Ao transpor a imagem do envio dos 72 no Evangelho de Lucas para nossas vidas, percebemos que, ao nos enraizarmos em nossa família e comunidade, estamos sendo enviados por Cristo a sermos sinais vivos de sua presença. Nossas raízes devem se aprofundar no amor, nossa sombra deve oferecer acolhimento, e nossos frutos devem nutrir aqueles que nos cercam.

O paradoxo se dá pelo fato de que embora essa seja a missão de cada um de nós, ela deve, ao mesmo tempo, ser livre. É em liberdade que escolhemos servir aos nossos irmãos. Ninguém pode nos obrigar a amar. Amor por obediência não é amor. Daí a metáfora da árvore já não mais nos serve. No entanto, jamais cumpriremos a missão de nos tornarmos verdadeiramente seres humanos se não realizarmos essa missão. Por mais que nos afastemos da missão do envio, mais cedo ou mais tarde, como filhos pródigos teremos que voltar. Mas nessa circunstância já teremos conquistado nossa liberdade.

Que possamos então nos ver como árvores plantadas por Cristo, crescendo e florescendo onde fomos colocados. Vamos estender nossos ramos, oferecendo abrigo, paz e frutos a todos que encontrarmos em nosso caminho, e assim, cumprir com alegria o chamado de sermos enviados por Ele ao mundo, mas o façamos livremente.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 25 de agosto

Referente à perícope do Evangelho de Marcos 7, 31-36

Uma semente de maçã, ao germinar, torna-se uma macieira. A ordem da vida estaria abalada se essa semente não germinasse e do germe não se desenvolvesse uma macieira.
A ordem do mundo também estaria abalada se o Verbo Divino, tendo se feito carne e habitado em Jesus, não pudesse ser revelado num outro ser humano.
O surdo de nascença, sem as técnicas de aprendizado modernas e sem a linguagem gestual, nunca poderia ser o portador da palavra, nunca poderia se tornar um verdadeiro homem. Quando Jesus Cristo se aproxima da região de Tiro, a própria comunidade de vida do surdo-mudo o leva ao Verbo encarnado. A sua condição de vida abala toda a comunidade, que busca uma solução, uma cura. Não consiste a condição humana no desenvolvimento de qualidades para se tornar o portador do Verbo Divino no seu cerne interior, no seu Eu? Para isso, o ser humano tem que desenvolver o sentido para poder perceber a atuação da palavra divina no mundo, para ouvi-la e então poder anuncia-la.
Já no Paraíso, Adão e Eva ouviam as palavras divinas. Ao comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, algo próprio se misturou às suas percepções puras, ou seja, seus pensamentos e representações mentais pessoais. Com o advento do materialismo o “ruído“ mental causado pelos pensamentos materialistas na alma impossibilitam a percepção da atuação divina no mundo, da atuação do Verbo Divino. O ser humano moderno se tornou “surdo“ para perceber a palavra divina.
Só o encontro com o próprio Verbo Divino poderá reverter essa condição trágica.
Jesus Cristo conduz o surdo-mudo para um lugar à parte. Para as pessoas da época isso significava um processo de vivência da própria individualidade. Seus sentidos interiores começam a se abrir para essa experiência única. Jesus Cristo, ao tocar os ouvidos e a língua do surdo-mudo com a sua saliva, supera as barreiras de isolamento da percepção pelo tato que traz por um lado uma consciência da doença no surdo, por outro, uma experiência do que poderia ser a cura, ou seja, vivência da força primordial da criação no seu Eu Sou, a vivência do Cristo em si. Nesse momento, Jesus Cristo profere a palavra curadora: “abre-te“! E essa palavra cai na alma como uma semente de vida. A força divina dos céus jorra para a Terra e impregna o surdo com forças curativas! Imediatamente ele consegue falar perfeitamente.
Hoje as palavras dos meios de comunicação se espalham por todo mundo como replicadas automaticamente. No entanto, estamos surdos para ouvir a palavra divina, para ouvir a palavra do Evangelho com os sentidos da alma, não encontramos as fontes de cura e de paz.
Nos sacramentos Jesus Cristo nos leva a um lugar à parte, somos tocados de várias maneiras e podemos ter um encontro íntimo com Ele. Ele abre os nossos sentidos para o Espírito, Ele nos torna portadores da sua Palavra, da sua Vida. E hoje não podemos cansar de anunciar isso com muita alegria e dinâmica, em atos e palavras.

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 28 de abril

Referente à perícope do Evangelho de João 14, 1-16

Um caminho nos leva a um lugar onde não estamos no momento. Caminhando nele, nós nos movimentamos da nossa posição atual para o lugar que está a nossa frente, no futuro. Estamos nos movimentando em direção ao futuro.
“Eu sou o caminho.” Assim Cristo se denomina, o caminho que leva até o Deus Pai. Que leva até as moradas na casa do Pai.
Como trilhamos esse caminho do Cristo, com o Cristo? Podemos nos preencher com a sua palavra, com ele mesmo, que é a Palavra. Podemos seguir o seu exemplo no nosso dia a dia. Por exemplo, reconhecer, como ele, o ser humano em cada pessoa que encontramos e a criação divina no mundo ao nosso redor.
Assim estamos, pouco a pouco, trilhando um caminho para o futuro. O caminho do Cristo que nos leva ao mundo espiritual, às moradas na casa do Pai. Esse mundo espiritual e essas moradas se realizarão aqui na Terra, como é descrito no Apocalipse de João na imagem da nova Jerusalém. Com o tempo reconheceremos o Cristo como nosso companheiro nessa caminhada rumo ao futuro da humanidade.

Julian Rögge

Reflexão para domingo, 21 de abril de 2024

Referente ao Evangelho de João 15, 1-27

À medida que o sol se põe no horizonte, lançando tons dourados sobre a paisagem tranquila, uma videira solitária ergue-se no meio de um vasto pomar. Seus galhos, adornados com cachos de frutas, balançam suavemente com a brisa noturna. Cada cacho de uva, um testemunho das forças invisíveis que atuam dentro da árvore, traz a marca de sua fonte de vida. Na tranquilidade do pomar pode-se sentir mais do que apenas a beleza da natureza; há um sussurro de algo mais profundo, algo eterno. Assim como a videira produz frutos sem esforço, ela também oferece uma metáfora para a condição da alma humana. Pois o ser humano, tal como a videira, encontra o seu verdadeiro propósito e realização não no esforço e no trabalho com as suas próprias forças, mas na entrega ao poder interior de Jesus Cristo. Sem esta ligação divina, os seus esforços são tão fúteis como a madeira e o feno, destinados a serem consumidos pelo fogo. No entanto, no abraço gentil de Cristo, há uma transformação, um derramamento natural de vida que transcende o esforço humano. Assim como a uva não precisa lutar para amadurecer, a alma também encontra sua expressão mais verdadeira quando simplesmente permanece em Cristo. Na tapeçaria do crescimento espiritual, não há espaço para frutos forçados, nem lugar para o esforço artificial que tantas vezes caracteriza a atividade religiosa. Pelo contrário, há um chamado à entrega, à confiança na mão invisível que guia e dirige, à permanência naquele que é a fonte de toda a vida. Nesta união sagrada, a alma encontra a sua expressão mais verdadeira, produzindo frutos que não são produzidos por ela mesma, mas sim pela vida divina que flui através dela. E assim permanece o convite do Cristo: “Permaneça em mim, e eu em você. Assim como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também você, se não permanecer em mim”.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 10 de março

Marc Chagall – A Madona da aldeia (1938–1942)

Referente a perícope do Evangelho de João 8, 46-59

Segundo o prólogo de João, uma das mais elevadas faculdades humanas é ser testemunha da luz! A luz, essa qualidade contida na vida divina e na unidade primordial do logos, antes mesmo que o mundo existisse. Esse testemunho é o que capacita o ser humano a seguir os intuitos divinos para o bem! No entanto, com que sentido podemos vir a ser testemunha do divino? Não somos clarividentes… No passado pudemos contar com os grandes iniciados e os profetas, que puderam receber a revelação divina, ouvir a palavra divina e guiar os seus respectivos povos. Do passado nos alcança a glória de grandes iniciados como Zaratustra na época cultural persa, dos faraós egípcios como o famoso Aquináton, a glória de Abraão, Moisés e Elias no povo israelita. No entanto, a medida que a alma humana foi se individualizando e despertando os sentidos, sobretudo para a realidade física, a humanidade foi perdendo a possibilidade de pelos métodos de iniciação antigos ter experiências no mundo divino. As fontes de luz e vida das antigas iniciações foram se exaurindo. A pobreza espiritual da humanidade foi se alastrando e com isso as doenças e todos tipos de problemas.
A partir de então, não havia mais a autoridade espiritual para orientar os povos. O ser humano, afastado do mundo divino, fica encapsulado em si, fica sujeito ao egoísmo. As leis que regem os povos tentam preservar a sociedade dos abusos do egoísmo e da falta de orientação espiritual. Para tal se iniciam processos para julgar os indivíduos e nesses processos estão envolvidas as testemunhas. Ninguém podia então se apresentar em nenhuma situação como testemunha de si mesmo. Pelo menos duas testemunhas eram necessárias para assegurar a veracidade de um acontecimento ou a legitimação de uma autoridade.
Como representante de toda a humanidade, ninguém viveu tão profundamente a perda das fontes divinas para a renovação da vida como Jesus na sua juventude. Na suas andanças como carpinteiro pôde constatar como mesmo os lugares mais sagrados haviam sido entregues às forças demoníacas. Os povos se encontravam à mercê da atuação maligna dos seres adversos. De uma forma latente, Jesus aspirava intensamente uma reversão dessa calamidade!
Isto aconteceu por uma intervenção divina no batismo do Jordão! O espírito de Cristo desceu e se incarnou em Jesus. Esse é um novo modelo para uma nova iniciação válida para todo o futuro da humanidade! A alma humana se submete a iniciação pela incorporação do espírito de Cristo em si, o Eu Sou da humanidade. Agora o espírito de Cristo na alma vai ser testemunha da luz divina no mundo. Ele está habilitado a ser testemunha autêntica, legítima da atuação e metas divinas. O casamento da alma humana com o espírito de Cristo é o novo órgão do sentido para testemunhar a luz. O Eu Sou de Cristo realiza a vontade do Pai. O Eu Sou de Cristo é completamente isento de qualquer egoísmo e tudo que aspira é para o bem de todas as criaturas, mesmo para o bem de toda a Terra. Não há nenhum novo paradigma para solucionar os imensos problemas da atualidade senão aspirar esse casamento da alma humana com o espírito de Cristo. Esse casamento acontece dentro de si mesmo ou ele pode ser reconhecido em outros seres humanos. Esse casamento fundamenta a formação de comunidades espirituais, que se agregam a seres espirituais. Essa comunhão de almas humanas com seres divinos poderá continuar o processo de reversão da degeneração espiritual da Terra e da humanidade. É a reversão da degeneração para uma elevação, para uma ascensão e uma espiritualização!
Sejamos aqueles que se reúnem para festejar esse casamento, que já está acontecendo e evolvendo na alma humana. Esse festejar – que também celebramos nos sacramentos – vai restaurar as fontes de vida e luz perdidas para um futuro prometedor!

Helena Otterspeer

Reflexão para segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Frade Francke, 1425

Todo ano jorra na noite de Natal a plenitude de vida e luz, que tocou a Terra pela primeira vez na virada dos tempos! Nessa imagem acima do Natal

Primordial, a escuridão da noite, que não revela os seus mistérios aos sentidos humanos, transforma-se em decidida vontade do mundo divino de se revelar à humanidade na Terra. O azul escuro da noite se transforma no vermelho irradiante da manifestação da vontade divina. Em outras palavras, o Pai, através de Maria, envia seu Filho para o lugar de pobreza do espírito, a Terra. Maria, representando idealmente todas as almas humanas, portanto, em sua própria essência completamente devotada ao espírito, torna-se nesse momento um instrumento da vontade divina, irradia a luz divina do seu interior. Seu manto azul escuro cai como um véu, e sua roupa é luz, a luz divina.

A pura criança divina não encontra uma casa, uma morada apropriada para a sua natureza divina. Desde então, cada um de nós pode se esforçar em preparar essa morada no seu coração. Pela ressurreição essa fonte inesgotável do Natal primordial se ligou primeiramente à alma humana nos encontros de Jesus Cristo com os discípulos e mais tarde a todo o planeta Terra pela ascensão do ressuscitado aos céus. Os ciclos de vida da Terra se tornaram os ciclos de vida do Redentor. Sua respiração se tornou o respirar da atmosfera da Terra nas estações do ano. A humanidade vive e respira com e no seu Corpo-Espírito. O primeiro Natal do mundo ficou gravado na Terra e na sua atmosfera e todo ano volta a acontecer.

Outrora a natureza acolheu a vinda da palavra divina primordial no anseio por se liberar da prisão e do peso da matéria pela prometida redenção de toda criatura. Uma luz natalina se espalhou por toda a natureza e os pastores, que conviviam estreitamente com seus ritmos, receberam a mensagem do mundo divino, anunciada pelos anjos. Essa mensagem aqueceu seus corações e eles se puseram a caminho para encontrar a criança divina, a adorarem e oferecer suas dádivas a ela.

Desde então, o coração humano foi se endurecendo cada vez mais com o passar dos séculos e com a ascensão do materialismo. Mas também a mensagem de luz e vida do Evangelho foi tocando vários corações humanos. São esses que permitem que a cada ano novamente aconteça o Natal com a sua promessa da vinda do reino dos céus. O reino dos céus não  se estabelece fora, mas em nós. O despertar da criança espírito na alma humana é o Natal de hoje. O Filho, o Cristo nasce na alma humana e traz sua mensagem de paz para a Terra. O barulho das armas, das catástrofes da natureza, dos prantos dos famintos e infelizes querem abafar essa mensagem. Cada um de nós pode ser um portador da luz e da mensagem de paz do Natal. Ela é o verdadeiro consolo e cura de toda a calamidade atual. Sejamos inabaláveis como o autor e filósofo russo Wladimir Solowiof, que disse:

É verdade que inúmeros pecados e crimes terríveis

Ainda ocorreram desde a virada dos tempos.

Mesmo que a consciência, desde então, teve de nos julgar culpados,

O seu fogo sagrado não pode e não irá mais desaparecer.

Pois não foi em vão que a luminosa noite apareceu,

Em que a criança, a quem os anjos servem,

Nesse mundo nasceu

Do Pai, acima do céu estrelado, seu Filho.

Ainda hoje, o mundo, nas suas profundezas sabe,

Que a fonte da verdade e da vida jorrou completamente;

E também soam em luto, em um campo de escombros

Suas palavras – como sinos – soam alto e claro.

O mundo rejeitou a luz que nele nasceu,

Mas ela brilha na consciência como uma tocha na noite.

O regente deste mundo perdeu a sua vitória,

Derrubado pela força do espírito e não pelo poder externo.

Helena Otterspeer

Reflexão para o domingo, 5 de novembro

Referente ao Apocalipse 3, 1-6

Na mensagem de hoje do livro do Apocalipse, somos apresentados a uma frase marcante: “Eu conheço suas obras: seu nome é que você está vivo e está morto”. Esta frase tem uma mensagem profunda para nós, uma mensagem sobre nosso modo de vida, de como nos afastamos do mundo espiritual. Ficamos tão focados em nossas vidas ocupadas que esquecemos de refletir sobre nossas ações e seu impacto. A mensagem de Sárdis nos lembra de dar um passo atrás e reavaliar nossas prioridades. Perseguimos coisas superficiais e ficamos presos na agitação da vida. É como viver em um estado de semiconsciência. Mas a mensagem de Sárdis é um chamado para despertar, para se libertar do ciclo de superficialidade e encontrar o verdadeiro significado e propósito.
A mensagem é sobre ir além da mentalidade “olho por olho, dente por dente” e abraçar a paz e a compreensão. Isso se aplica não apenas às nossas vidas pessoais, mas também a questões globais, como as guerras e disputas políticas.
Agora, quem é o anjo a quem esta carta é endereçada? O anjo é o destinatário da mensagem do Cristo. Não necessitamos pensar muito para chegar à conclusão que se trata do “Espírito da Época” em que vivemos: Micael, que nos indica o caminho e nos exorta para que nos preparemos, de modo que no futuro possamos estar entre aqueles que se apresentam ao Cristo de roupas brancas, ou seja, de almas lavadas, unificadas pela dor e pelo despertar da consciência. Mas a ideia mais importante aqui é que o anjo da comunidade nos convide, de braços abertos, a vir a Cristo em Sárdis. O convite é simples: deixe para trás o que dificulta a vida e leva ao desespero e à falta de sentido. Esteja atento, olhe para sua alma e veja o que necessita ser transformado, desperte e olhe para as necessidades dos outros, do mundo. Olhe para o seu tempo, olhe para a sua fonte espiritual, para Deus.
Compartilhe esta mensagem com aqueles que buscam vida, alegria e significado. Deixe-os saber que seus nomes podem ser escritos no livro da vida e falados por Cristo diante de Deus e dos anjos, mas que isso depende de seu autoconhecimento, de sua capacidade de compaixão e de sua livre vontade como força de decisão.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 27. agosto

Referente à perícope do Evangelho de Marcos 7, 31-37

Marcos nos conta, no Evangelho de hoje, de uma pessoa que não ouve nem fala. Suas possibilidades de se ligar com o mundo são reduzidas. Cristo conduz a pessoa para longe da multidão, para curá-la. Ele a leva até si mesma. Nessa solidão, ela tem um encontro íntimo com o Cristo. A pessoa sai desse encontro com as forças renovadas. Ela pode ouvir e falar e, assim, se comunicar.
Para nos ligarmos de uma forma saudável com as outras pessoas, de tempos em tempos precisamos nos voltar para nós mesmos. Precisamos fortalecer o nosso centro. Nesses momentos de solidão, no íntimo do nosso ser, podemos encontrar o Cristo. Isso acontece na essência do nosso eu. Nesse encontro, todo o nosso ser é fortalecido.
Com as forças da nossa individualidade assim renovadas podemos nos abrir novamente para o mundo. Ouvindo e falando renovamos os nossos laços com ele, e encontramos melhor o nosso lugar de atuação.

Julian Rögge