Referente ao perícope do Evangelho de Lucas 1, 26-38
Ao observamos uma semente percebemos como é importante a terra em qual ela é semeada. Em uma terra boa ela cresce e se desenvolve. Em uma terra ruim, ela tem muita dificuldade de se desenvolver e talvez até morra. A Época de Advento é um tempo de preparação. Nela podemos preparar a nossa alma. Acalmar os ruídos que existem em nosso interior. Os que vem da correria do dia a dia e os que vem da correria dos nossos pensamentos. Tentemos nos abrir para o novo e desconhecido. Paremos e escutemos. Pouco a pouco prepararemos assim a “terra” da nossa alma para receber uma nova semente. Um novo impulso que quer nascer em nós. No tempo sagrado de natal receberemos a semente do Verbo Divino.
Advento é um período não somente para preparar a festa de Natal e celebrar o grande acontecimento do nascimento do menino Jesus. É também e, sobretudo, para nos prepararmos para a vinda do Cristo em nossos corações. Ele disse que estaria conosco até o fim dos tempos, portanto, ele veio, vem e virá sempre. Mas ele, que está presente na atmosfera etérica da Terra, só poderá nascer nas almas daqueles que estiverem despertos, atentos, orando e vigiando a cada momento. Vivemos em tempos de grandes tribulações. Mas o fato é que a história da humanidade está marcada desde sempre por grandes tribulações. Por isso, em cada geração há a oportunidade desse despertar. A mensagem apocalíptica não pertence ao fim dos tempos, mas sempre, em todas as gerações até o fim dos tempos. Ainda assim, podemos dizer que a nossa época proporciona uma oportunidade especial para esse despertar, são os sinais dos ramos tenros da figueira, pois além das tribulações, ela é marcada, pelo menos potencialmente, por um certo amadurecimento do “Eu”. Este é o porteiro que vigia, ele é responsável pela necessária autoavaliação da alma e a percepção de suas fraquezas, dando ensejo à decisão de unir-se com aquele que proporciona a força para a superação das fraquezas: o Cristo. Consequentemente a alma se abre para recebê-lo. Este é o sentido fundamental da vigília, que é também a marca da atitude da alma em cada ano cristão, mas especialmente no período do Advento, uma vez que precede o período das Noites Santas. Nesse período, os que estiverem despertos receberão as inspirações que os prepararão para a nova vinda de Cristo.
As seguintes palavras de Schiller podem nos fortalecer em muitos momentos: “Procuras o mais supremo e grandioso, a planta pode te instruir. O que ela é inconscientemente e sem intuito, sejas tu com intencionalidade e dedicação”.
Realmente uma espécie de planta pode vir a se adaptar a várias condições climáticas diferentes e, independente disso, sempre revelar no seu crescimento, nas suas folhas, flores e frutos a força de vida solar. Assim uma mesma planta cresce e se apresenta diferente nas altas montanhas ou nas margens úmidas de um rio! Também quando no ritmo do ano os dias se tornam curtos, a luz e calor do sol no inverno diminuem, muitas árvores deixam previamente cair suas folhas, suas seivas se retiram para dentro da Terra, deixando formado os brotos, quase imperceptíveis. Esses brotos são como um voto de confiança e de reconhecimento das forças de vida, que podem vencer sempre as forças da morte e das trevas. No seu sono invernal a planta se liga interiormente com a sua imagem arquetípica luminosa, que brilha no interior da Terra, aguardando o momento para se revelar no mundo sensorial. Assim, mesmo de maneira inconsciente, no inverno, a planta abdica de seu crescimento, de sua ligação viva com o ambiente formando o pequeno broto. No momento certo ele se abrirá e um novo ciclo de vida se iniciará.
Neste primeiro domingo de Advento se inicia um novo ciclo do ano cristão, durante o qual, nas celebrações das festas anuais, podemos vir a crescer no nosso envolvimento e comunhão com as forças solares do Cristo. Temos caminhado com Cristo desde a sua ressurreição para podermos alcançar nossa meta espiritual; a comunhão eterna com os seres divinos. No Advento devemos nos retirar de tudo o que procura desviar nossa atenção do nosso interior, da nossa alma, pois dentro dela vai se formando a imagem luminosa do Filho do Homem – nossa meta espiritual. Hoje esse movimento para dentro exige muito esforço. A enorme tecnologia com seus ruídos, com a imensidão invasiva de imagens exteriorizadas quer ocupar completamente a alma humana. Também todas as vivências dramáticas das catástrofes atuais nos querem tomar completamente. A alma fica paralisada.
Em comunidade podemos juntos virar as costas para todas as ações frenéticas e exteriores e criarmos o espaço de calma e atenção para ascender da consciência espiritual própria, vislumbrando o Filho do Homem, que vem ao encontro de cada um. Acendemos as velas do altar, o representante sacerdotal do Filho do Homem começa a atuar no altar. Ele vem ao encontro de cada um no momento da comunhão. Ele concede a cada um a substância da paz. Na alma humana vai se formando o germe de uma existência espiritual que preenche a alma de confiança, esperança e fortaleza para aguentar os desafios do mundo e com coragem construir o futuro.
Todas as tendências destrutivas da civilização atual podem parecer então, como a condição necessária para que cada um largue as preocupações para preservar a vida puramente terrena e transitória, a velha condição de existência, o velho mundo e começar a construir a sua nova morada, a sua veste espiritual. Com esta veste ele vai ser acolhido na comunidade universal de todos os seres divinos e ter acesso à fonte da água da vida. Este processo já não começou?
Referente ao perícope do Apocalipse de João 7, 9-17
Uma grande multidão se apresenta a visão do Apocalíptico. Há pessoas de todas as nações, tribos, povos e línguas. Certamente as pessoas também têm diversas ideias, pensamentos e ideais. Porém, todas elas se unem na oração e no culto perante a Deus e ao Cordeiro. Elas vestem roupas brancas. Para vestir as roupas brancas, elas passaram pelos desafios e dificuldades da vida. Elas as branquearam na dor e no sofrimento. Elas se superaram e trilharam um caminho de transformação. Purificando suas roupas, pouco a pouco. Esse caminho de superação e purificação também está aberto para nós. Ele é árduo e longo. Ele demorará mais de uma vida. Só conseguiremos dar pequenos passos. Todo esforço nesse caminho vale muito, pois ele nos leva à meta da humanidade, à Nova Jerusalém. Até lá, se realizará uma nova relação entre os seres humanos e o Cristo. Neste caminho, nós nos tornaremos cada vez mais colaboradores dos céus e nos integraremos novamente nas hierarquias celestiais.
A existência da Terra e da humanidade, desde sempre, esteve ligada com desenvolvimento, com transformação contínua de formas de vida e de consciência. O início se deve graças à dádiva divina e a finalidade se apresenta como um estar novamente integrado no mundo espiritual, a fonte de toda a existência.
O que move o desenvolvimento não é tanto o que é conhecido do passado e pode ser compreendido como causa para uma transformação, mas muito mais uma aspiração inerente à toda criatura de voltar ao colo divino, voltar a ser uma parte viva da existência divina. Portanto, o desenvolvimento é movido muito mais por forças do futuro, ele se dá a partir do espírito. O que já constitui um recente órgão para tal no ser humano é o seu Eu, a sua consciência espiritual.
As comunidades são os lugares na Terra onde se acende a consciência espiritual na alma humana e onde os candelabros brilham do altar, como no culto, e os seres humanos aí atuam com os seres divinos. Nestes lugares o verdadeiro desenvolvimento se torna possível. As cartas de João às sete comunidades constituem uma perspectiva de um caminho de desenvolvimento para uma verdadeira vida no Espírito. Elas constituem um apelo para formar e alcançar uma consciência espiritual. Esta consciência espiritual exige uma autoconsciência de cada um. Assim, a carta de João à comunidade de Laodiceia, parte da situação da cidade e de seus moradores naquela época, aponta para um futuro e pode ser vista como um arquétipo de um passo num verdadeiro desenvolvimento, até hoje válido.
Laodiceia significa etimologicamente o direito do povo, o tribunal do povo, o poder do povo. Antigamente se entendia como o lugar onde, em comunidade e diante do mundo divino, se tenta, mesmo na Terra, estabelecer a justiça divina. Naquela época isto significava naturalmente que as ações humanas eram contempladas desde o olhar espiritual, como está escrito no começo da carta.
Nesta cidade florescia naquela época o comércio e seus habitantes gozavam de bem-estar e riqueza. Laodiceia era sobretudo conhecida pelas nobres vestimentas de sua lã negra e de um produto natural para curar os olhos. A água vinha de uma fonte natural de água quente, conduzida de uma região vizinha por aquedutos. Chegava à cidade morna, não sendo apreciada nem para beber nem para os usos conhecidos de água quente.
O apelo da carta é o de transformação, transformação de uma situação terrena conhecida e cômoda, para um estado novo de espírito. A carta menciona que os membros dessa comunidade eram como mendigos cegos e nus, apesar de sua riqueza e de seus recursos, das suas vestes negras e do seu remédio para os olhos. Sim, as vestimentas terrenas e transitórias deveriam ser transformadas nas vestes brancas espirituais. A alma deveria se enobrecer e ganhar uma veste digna para o espírito. Ela deveria se purificar de modo que a riqueza externa pudesse ser transformada em ouro espiritual. A consciência terrena deveria se ampliar até os âmbitos superiores, superando a sua cegueira espiritual.
A comodidade provinda de um bem-estar externo deve dar lugar a uma disposição de se transformar pelas provas do destino.
Sobretudo se trata de reconhecer que a humanidade se encontra num limiar, num portal, somente acessível para os que se mostram dignos de ultrapassá-lo. Este portal pode ser estreito e desafiador, mas os que conseguem penetrar no novo âmbito de vida poderão receber e comungar das novas forças de vida de Cristo. Poderão enfrentar muitas provas, fortalecidos na sua fé.
A mensagem para Sardes não precisaria ser escrita ao anjo se, ao ser proferida uma única vez, já fosse realizada com boa vontade de transformação. Precisou ser escrita, pois é válida permanentemente.
Pertence à nossa constituição que nossas ações ainda tenham pouco peso no mundo dos céus. Que nosso nome ‘Ser Humano’ promete mais do que de fato conseguimos sustentar. Que a superação deve ser constantemente desempenhada – em todas as frentes.
Para aqueles que se sentem tocados, existe somente a escolha: ou resignar e degradar, ou aceitar o desafio e a batalha da superação. A remuneração por isso será a luz espiritual, que torna reluzente de dentro para fora as nossas vestes e envoltórios com todas as suas manchas e zonas escuras.