Reflexão para o domingo, 23 de maio

Época de Pentecostes

Referente ao perícope de João 14, 23-31

Cristo conduz seus discípulos à revelação que perdura desde então e está disponível a todos nós.
Ao desenvolvermos em liberdade, o amor genuíno pelo ser do Cristo nossas almas tornam-se receptivas à Palavra, ao Verbo. Intuímos sua magnitude e nossos corações tornam-se morada para Pai e Filho. Dessa nova morada, o Pai irradia através do Filho o Espírito Santo que vem em nosso auxílio para despertarmos em sabedoria e recordação. Recordação do mistério da vinda de Cristo para a Terra, seus ensinamentos, morte, vitória sobre a morte, ressurreição e ascensão. Esse despertar nos levará cada vez mais a recebermos a paz de Cristo. A paz verdadeira que erradica de nossos corações todo o medo e temor que acompanham nossa vida terrena e nos paralisam em nossas ações e sentimentos.
Por fim, soa o chamado: “Levantai-vos”.
Cristo nos exorta a nos posicionarmos e fazermos nossa parte na evolução. Tudo que precisamos para levantar e atuar está contido em nossos corações. O Pai, o Filho e o Espírito Santo nele habitam.
A espera que alguém nos diga o que devemos fazer, nos prende às correntes do passado. Já estamos na nova era, onde cada ser humano adulto que sente em si o Cristo, é responsável por criar na Terra comunidades que permitam a irradiação da Fé, do Amor e da Esperança.

Viviane Trunkle

Reflexão para o domingo, 16 de maio

Época de Ascencão
Referente ao perícope de João 16, 24-33

Um balanço é um brinquedo que alegra muito as crianças. Balançar para lá e para cá, sentir o vento no rosto, perder o peso quando ele chega ao seu ponto máximo. Mas as crianças muito pequenas ainda não conseguem balançar sozinhas, e precisam o tempo todo que alguém lhes dê um empurrão, para que o balanço continue em movimento. Numa determinada idade a criança aprende a balançar sozinha. Para isso ela tem que perceber o momento em que o balanço para o seu movimento no ponto mais alto, muda a direção, para então dar com o próprio corpo um novo impulso para o movimento. Quem consegue por si mesmo, nestes momentos de parada do balanço, dar um impulso para um novo movimento, pode balançar pelo tempo que quiser. Quem não consegue fazer isto, ou é dependente de receber o impulso de uma outra pessoa, ou balança somente por um tempo, até que o balanço pare por completo.
Em nossa vida interior podemos perceber algo semelhante ao balanço. Às vezes recebemos de fora, de alguém ou de um acontecimento, um impulso que nos movimenta, nos possibilita sermos ativos. Mas normalmente estes impulsos que vêm de fora, nos colocam em movimento somente por algum tempo, então se esgotam, enfraquecem, perdem a sua força. Para novamente sermos ativos necessitamos de um novo impulso de alguém ou de alguma coisa. Enquanto vivemos assim somos como crianças que ainda não aprenderam a balançar sozinhas. Mas também interiormente, com a nossa alma, podemos aprender a „balançar” sozinhos. Para isso necessitamos de momentos de silêncio, de calma, de falta de movimento. Exatamente nestes momentos podemos aprender a desenvolver uma atividade interior, independente de alguém ou de algo.
Aprendemos a dar, por nós mesmos, um novo impulso de atividade para a nossa alma. Esta é a qualidade que uma oração ou uma meditação podem ter: um momento de silêncio, de falta de movimento exterior, no qual podemos dar um novo impulso de movimento próprio, e continuar a “balançar“ em nosso caminho de vida.
João F. Torunsky

Reflexão para o domingo, 9 de maio

Época de Páscoa
Referente ao perícope de João 14

Quando nascemos recebemos o nosso corpo como morada aqui na Terra. Ele é um presente dos nossos pais e dos seres espirituais. Na infância e na juventude tomamos cada vez mais posse deste corpo. Fazemos dele a nossa própria casa e ele nos serve como ponto de partida para nosso desenvolvimento na Terra. No momento de passar pelo limiar da morte deixamos essa casa terrena para trás e seguimos o nosso caminho no mundo espiritual.
No Evangelho de hoje, Cristo fala que preparará para nós, uma morada junto ao Deus Pai. Ele preparará nosso lugar no mundo espiritual que certamente também servirá como ponto de partida para nosso desenvolvimento. Onde está essa morada e como chegamos até ela?
O Cristo também fala sobre a força do amor. Em nossa vida temos várias possibilidades para aprender a amar: amar ao próximo e a nós mesmos; amar as alegrias e dores da vida; amar os reinos da natureza e o mundo espiritual. A cada passo neste caminho de aprendizado, nós nos abrimos cada vez mais. Nós nos abrimos para o mundo ao nosso redor, para nós mesmos e para o mundo espiritual.
Como a força do amor e os passos para uma abertura maior, pouco a pouco descobriremos um mistério: A morada que o Cristo prepara para nós junto ao Deus Pai não está longe, ela está em nós mesmos. Em nossa individualidade, em nosso ser eterno, se encontram o mundo espiritual e o mundo físico. Nessa essência do nosso ser, encontramos a morada preparada pelo Cristo. Nela estão presentes as forças do Deus Pai, do Cristo e do Espirito Santo. Essa morada espiritual servirá cada vez mais como ponto de partida para todos nossos caminhos aqui na Terra e no mundo espiritual.
Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 2 de maio

Referente ao perícope de João 16, 1-15

Após longo período de tempestades e escuridão, de repente surge um dia de sol. Sair para caminhar nesse dia ensolarado traz um prazer redobrado em contraste com os dias em que as nuvens escuras encobriam o sol. Mesmo sabendo que isso não ia durar, muitas vezes não é tão fácil manter um estado de espírito positivo. Mas toda tristeza fica para traz com o despertar de um dia brilhante de sol.
Toda despedia é triste e podemos imaginar como foi triste para os apóstolos de Jesus saber que ele não mais estaria com eles pouco antes da ascensão, quando ele diz que vai para o Pai. Jesus trata de consolar seus discípulos, sabendo de todas as agruras, sofrimentos e morte violenta que iriam sofrer com a perseguição dos judeus. Mas o consolo de Jesus ressuscitado para os discípulos, é o de não se entristecerem, pois ele enviará o consolador, o advogado, o paráclito. Este é o Espírito Santo que traz o entendimento, o esclarecimento, a luz da revelação. Sabemos que os discípulos de Jesus só estarão preparados para levar à frente sua missão de evangelização e criação de comunidades a partir de Pentecostes, que é o cumprimento da promessa de envio do Paráclito. Mais de dois mil anos depois, podemos nos perguntar como O Cristo nos consola diante da onda de descrença, tristeza, medo e desespero marcados pelas crises de nossos tempos. Por meio do Espírito Santo, o Cristo nos acompanha até o fim dos tempos, e as crises são oportunidades para despertar do sono de ilusão oferecido por um suposto conforto, que depois de alguma reflexão percebemos que na verdade não oferece consolo algum. A força do Espirito é o que nos move para frente e cria uma perspectiva abrindo nossos olhos para que possamos ver o que é bom e o que nos prejudica. Ele nos ajuda a entender os mistérios da vida, dando-nos força interior quando falta coragem e imaginação. Ele é um construtor de pontes: ele cria o novo começo e, assim, se conecta com a essência do que não pode perecer. O Espírito nos desperta do sono da insensatez e da ilusão, mantendo a nossa consciência desperta e nos indica caminhos, mostrando a luz brilhante do sol de um novo dia.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 25 de abril

Época de Páscoa

Referente ao perícope de João 15, 1-27

“O sangue de Jesus tem poder!”

É provável que muitos já tenham ouvido ou lido esta frase em algum lugar…

Recentemente, dirigindo na estrada, ao ultrapassar um veículo me deparei com esta frase na traseira de um grande caminhão.

As sensações e associações que vieram à mente foram muitas, não me foi possível negar também um certo “incômodo”, pois tais assuntos que tocam o religioso, em geral, não me parecem apropriados para traseiras de caminhões… mas será certo?

Havia ainda um bom trecho de estrada pela frente e as reflexões prosseguiram…

No Evangelho que refletimos este domingo encontramos a imagem da videira e dos ramos. Cristo se autodenomina a videira verdadeira e acrescenta que todo aquele que quer ser seu discípulo pode se tornar um ramo desta videira e deve dar bons frutos.

A seiva que flui pelo tronco da videira é a mesma que corre pelos inúmeros ramos. Leva água e nutrientes, retirados das profundezas do solo, que servirão de matéria-prima para a formação dos frutos.

Seguindo a sequência desta analogia, Cristo é quem traz das profundezas do Ser do Pai os “nutrientes espirituais” e os deixa fluir através de seus “discípulos-ramos”, na esperança de que deles surjam bons frutos. Aqui cabe então a imagem do sangue, pois a seiva é para o reino vegetal, aquilo que nos animais e no ser humano é manifesto no sangue.

Prossigamos: Seu Sangue começa a fluir no fluir do nosso sangue, cada vez que nos denominamos Seus discípulos. Exteriormente a imagem não faz sentido, mas se percebemos que este fluir ocorre noutro âmbito, a imagem ganha força e veracidade: Cada vez que lemos, estudamos, interiorizamos Sua Palavra, ela começa a ganhar vida e fluir dentro de nós. A Boa-Nova do Seu Evangelho (a boa notícia, que se transmitiu pela palavra), não deve ser algo abstrato retido no intelecto humano, mas deve tornar-se num elemento vivo e poderoso que flui e transforma a vida daquele que se deixa permear por ela.

“… Eu sou a Videira, vós sois os ramos!”

Eis aí a bela e difícil tarefa de tornar-se discípulo: deixar fluir sua “seiva sangue” em nós que somos os ramos e deste modo, compenetrados com a força da sua palavra, poderemos vir a gerar bons frutos.

Assim chegamos à pergunta central:

Como nos tornamos permeáveis a força da Sua Palavra?

Outros talvez venha a formular esta pergunta de outra maneira:

Como percebemos o poder que flui do Seu Sangue, portador de Sua Palavra?

Neste ponto retornamos à frase de caminhão, mencionada no início.

Às vezes, nós – seres humanos – precisamos percorrer diferentes caminhos para, mais a frente, reconhecer que queríamos chegar a lugares parecidos.

O “incômodo” inicial com a frase do caminhoneiro, se diluiu um pouco e surgiu a sensação de que provavelmente aquele motorista, usando sua própria linguagem, estava tentando dizer a todos que quisessem ler em seu caminhão, algo sobre este empenho genuíno em tornar-se discípulo de Cristo. A limitação era minha em não haver percebido isto…

A videira é única, os ramos podem ser muitos e os frutos serão os mais diversos.

Nestes tempos confusos e contraditórios de pandemia, onde parece que crescem cada vez mais a intolerância e os motivos para nos separarmos e segregarmos dos que pensam diferente de nós, a lição aprendida com aquele caminhoneiro desconhecido, me fez refletir sobre a necessidade de maiores doses de humildade e de boa vontade, se queremos de fato nos tornar ramos desta Videira Verdadeira.

Renato Gomes

Reflexão para o domingo, 18 de abril

Época de Páscoa

Referente ao perícope de João 10, 1-18

Ao anunciar: “Eu sou a porta”, Cristo posiciona-se como o ser do limiar. Passagem entre o plano físico e o plano divino espiritual.

Nos primórdios do desenvolvimento da humanidade, nossas habitações não tinham portas. Estávamos imersos na natureza em completa união com os seres espirituais. Passo a passo, fomos nos internalizando. Adentramos cada vez mais nossa morada, criamos limites ao nosso redor, criamos a porta e a fechamos. Este enorme passo evolutivo conteve em si a oportunidade de voltarmo-nos para nós mesmos e desenvolvermos a consciência, porém levou-nos também à suscetibilidade da alma. Estivemos à mercê do ser que ao encontrar as portas fechadas e, estando temporariamente em posse das chaves, trancou-as para que não mais pudéssemos sair à luz do dia, não reconhecêssemos no sol o ser divino que nos supria, nem percebêssemos nos astros os seres divinos. A alma fez-se escuridão, as cortinas cerraram-se e a porta não se abria para o livre ir e vir.
Eis que o Verbo se fez carne e caminhou entre nós!
Ele descerrou nossos olhos, e conclamou: “Levanta-te, vem para fora!”.
As cortinas se rasgaram, as portas se destrancaram e os seres humanos puderam receber o sopro do Divino Espírito Santo; a escuridão do túmulo da alma tornou-se luz no altar da alma. Cristo é a porta que nos leva ao mundo espiritual. Cabe a cada um de nós perceber cada vez mais seu auxílio, descerrar os olhos, levantar, tocar a porta, abrir a porta, ser a porta que nos conduz à “re-união” com o espírito. O Eu sou a Porta aguarda no limiar e nos recebe de braços abertos, de portas abertas.

Viviane Trunkle

Reflexão para o domingo, 11 de abril

Época de Páscoa

Referente ao perícope de João 20, 10-29

“Chega aqui o teu dedo,
e vê as minhas mãos;
chega a tua mão,
e coloca-a no meu lado;
não seja incrédulo
mas tenha fé.“
João 20, 27

Uma ferida provoca dor, e a dor provoca consciência para, muitas vezes, uma parte do nosso corpo que nos é inconsciente. O processo de cura que então se desenvolve é algo maravilhoso. O corpo tem a possibilidade de constituir sua própria integridade. Com o tempo superamos a dor, fecha-se a ferida, o corpo se recompõe. Mas esse processo tem os seus limites. Às vezes o ferimento nos deixa apenas uma cicatriz, mas, se for profundo demais, além da possibilidade de o corpo se recuperar, em casos extremos pode levar até a morte. Mas quando o corpo consegue se recuperar, pode significar para nós mais uma experiência de vida, mais um aprendizado, mais uma possibilidade de amadurecer o nosso ser. Vivenciamos não só os ferimentos em nosso corpo, mas muito mais os ferimentos em nossa alma. No nível anímico, as feridas superadas têm um significado ainda maior para o nosso desenvolvimento. É um conhecimento importante para a nossa vida perceber que não nos desenvolvemos tanto pelas alegrias que passamos, mas muito mais pelos sofrimentos. Aqueles sofrimentos que abalaram o nosso ser, mas perante os quais encontramos esta força maravilhosa de nos reestabelecermos, é o que mais nos ajuda em nosso desenvolvimento. Não somos os mesmos depois de uma crise superada: crescemos interiormente, amadurecemos.
O Cristo Ressurreto, em seu encontro com Tomé, se deixa reconhecer pelas feridas em suas mãos, em seu lado. Tomé toca suas feridas e reconhece-o.
Também nós, muitas vezes, tocamo-nos uns aos outros, em nossas feridas. Isso pode acontecer sem cuidado, com preconceitos e até com alguma má intenção, provocando novamente uma dor. Mas também pode acontecer com carinho, sem julgamento, somente com o impulso de querer reconhecer no outro a sua verdadeira essência, que, em grande parte, é o fruto dos sofrimentos que se passa pela vida.

João F. Torunsky

Reflexão para o domingo, 4 de abril

Época de Páscoa

Referente ao perícope de Marcos 16

No domingo de Páscoa a mulheres se perguntaram, quem removeria a pedra da entrada do túmulo. Só quando chegaram, perceberam que a pedra já não estava mais no seu lugar. Elas entraram no túmulo e procuraram o corpo do crucificado para prepará-lo para o sepulcro. Mas ele não estava mais lá. Em profundo luto, ainda voltadas para o fato da morte, elas não conseguiram entender as palavras do jovem: “Ele não está aqui! Ele ressuscitou!” Em temor e fora de si elas fugiram do túmulo. Só mais tarde Maria foi a primeira a reconhecer o Cristo ressuscitado.
Na época da Paixão talvez tenhamos sentido o nosso coração também como um túmulo. Um túmulo frio e abandonado pelo Espírito, como um lugar de solidão e da morte. Essas experiências foram ampliadas neste ano pela solidão do isolamento social, pela tristeza de não celebrarmos o Ato de Consagração do Homem em conjunto e pela consciência do grande número de mortos em todo o país. Podemos  fazer a mesma pergunta como as mulheres: Quem vai tirar a pedra do nosso coração, do nosso túmulo?
Será que percebemos que a pedra foi removida e que a luz da Páscoa entrou na escuridão do túmulo do nosso coração? Para vivenciar o feito da Páscoa, precisamos olhar em outra direção. Enquanto olharmos somente para o túmulo, a solidão e a morte, não perceberemos que algo se transformou profundamente. Se ficarmos presos ao passado, o futuro não poderá se revelar. No momento em que mudarmos a direção do olhar, perceberemos o Ressuscitado vindo ao nosso encontro. Ele nos chama pelo nosso nome mais profundo, assim como chamou Maria no primeiro Domingo de Páscoa. Iremos reconhecê-lo?

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 28 de março

Domingo de Ramos

Referente ao perícope de Mateus 21

A pergunta mais óbvia do Domingo de Ramos é: “Como as mesmas pessoas que gritaram ‘Hosana!’ No domingo podem se virar e gritar ‘Crucifica-o!’ Na sexta-feira santa?” Os aplausos se transformaram em zombarias e a adoração do Rei se transformou em condenação. Como foi possível isso no transcurso de uma semana?

Todos estavam procurando por algo diferente em Jesus, e muitos estavam desapontados com quem ele realmente era. Eles queriam um Jesus milagroso. Eles provavelmente adoraram o fato de ele ensinar parábolas mais fáceis de entender do que o raciocínio obscuro que ouviram dos fariseus. Eles foram atraídos por ele porque ele era um líder vigoroso e dinâmico. Eles gostaram quando ele colocou os fariseus em seus lugares. Mas de todas as qualidades de Jesus que as multidões amavam, a que mais os atraia era o fato de fazer milagres. As multidões se aglomeraram ao redor dele quando o viram curando os coxos, os cegos e os enfermos. E eles clamavam por mais. E eles devem ter ficado especialmente desapontados nas sete ocasiões no Evangelho de Marcos em que Jesus realizou um milagre e depois lhes disse para não contar a ninguém sobre isso. As multidões queriam um Jesus milagroso, mas ele os desapontou. Quem era Jesus para os fariseus? Eles queriam um Jesus ritualístico. Eles pensavam que a questão mais importante da religião devia ser encontrada, não em como criam ou oravam, mas em como se vestiam, se lavavam e comiam. Mas Jesus os desapontou. Quem foi Jesus para os zelotas? Eles queriam um Jesus militar. Os zelotes eram os nacionalistas radicais que estavam prontos para usar a força, até mesmo o terrorismo, para derrubar a mão opressora do governo romano. O verdadeiro significado da Semana Santa, no entanto, o significado de toda a sua vida, morte e ressurreição, é que ele veio e morreu por nós. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”

Eles não compreendiam o significado da vinda do Cristo e tampouco sua missão, salvar a humanidade do abismo ao qual se dirigia por efeito da queda e do afastamento do Espirito. Agora, dois mil anos depois, o que importa é não só compreender isso, mas sobretudo abrir a alma para recebê-lo e atuar a partir da luz dessa compreensão. Esse é o verdadeiro sentido da festa de ressurreição que se segue apos o seu sacrifício.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 21 de março

Época de Paixão

Referente ao perícope de João 8


Jesus escrevia na terra, enquanto, com insistência, os escribas e fariseus lhe confrontavam com as acusações de adultério cometido por aquela mulher.
O que Ele escrevia?
O texto do Evangelho de João silencia sobre isto.
Podemos imaginar que não se trata de um detalhe sem importância ou de uma atitude de descaso por parte de Jesus em relação aos seus interlocutores. Se Ele quis escrever algo na terra, provavelmente este ato tinha algum significado para Ele.
Mas se alguém escreve na terra, no pó ou na areia, em geral isto é algo efêmero, não pode durar muito…
Neste ponto, podemos começar a nos perguntar, qual teria sido sua intenção ao escrever, e por que escrever na terra?
No final da narrativa ouvimos que Ele não a condena, apenas lhe faz uma advertência:

“… não peques mais!”

Com certeza toda esta situação deve ter ficado profundamente gravada na consciência daquela mulher. Estava na iminência de ser apedrejada e no momento seguinte foi liberada deste castigo, apenas com esta advertência. Tal advertência só faz sentido se o fato que gerou tudo isto não se apagar da sua memória, ou seja, se ficar gravado, registrado na sua consciência. Além disso para não tornar a repetir o mesmo ato, era necessário que algum tipo de mudança e de transformação interna viesse a ocorrer naquela mulher, naquele ser humano, para que, dali para frente, adotasse uma atitude diferente na sua vida.
Cristo parece estar mais preocupado com isto do que com o fato em si e com a necessidade de cumprir a lei.
A lei mosaica era uma lei escrita. No livro do Exodus lemos que Moisés subiu a montanha e retornou com as pedras da lei, onde Deus havia escrito e gravado esta lei.
Isto nos aponta ao aspecto duradouro e imutável que a lei antiga possuía. Até nos dias de hoje, no âmbito jurídico, se fala de “cláusula pétrea” para se referir aqueles artigos da lei que não podem ser mudados: estão como que escritos em pedra.
Os doutores da lei fazem referência a este princípio inflexível, que deve ser cumprido.
Cristo não se contrapõe a isto, mas direciona o foco para a consciência moral de cada um dos ouvintes 

“… quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra”

Suas palavras expressam de certo modo sua atitude: se olhamos apenas para a lei pétrea, nada muda, no final sobrará pedra sobre pedra… mas o ser humano não é um ser pétreo, imutável. O ser humano é feito de outro material.
Retomemos então a imagem da criação: o ser humano foi feito do barro da terra, ou seja, algo mole que se deixa plasmar.
Neste âmbito podemos imaginar que quando Cristo escreve na terra ou no pó exterior o que ele escreveu logo iria desaparecer, mas a sua intenção primeira era “escrever” num lugar mais sutil e ao mesmo tempo mais profundo no ser humano. Ele foi capaz de escrever e de tocar o ser humano em seu interior, em sua consciência moral e a partir daí ajudá-lo a tomar novas decisões na vida. Portanto, sua forma de escrever ganha uma dimensão transformadora.
Cristo nos mostra que é possível “escrever” num lugar onde a memória dos fato pode ficar presente (independente dos registros exteriores) e ao mesmo tempo este lugar possui a força e a dinâmica que podem ajudar o ser humano em seu processo de evolução e transformação.
Eis aqui um magnífico (e difícil) exercício que nos pode motivar a inúmeras reflexões neste período do ano em que celebramos a Paixão.



Renato Gomes