Reflexão para o domingo, 3 de janeiro

Época de Natal

Referente ao perícope de João 1, 1-18

No princípio, o silêncio.
Silêncio por não saber o que dizer.
Silêncio no lugar de palavras inúteis.
Silêncio grávido da palavra viva…
A palavra-vida era a mãe do silêncio, e o silêncio não o sabia.
Apenas no silêncio voluntário, suportado e sofrido podia surgir de novo a força da vida que traz à luz a palavra-espírito na consciência humana.
Mas a consciência humana escolhia a palavra-sombra, a palavra-vácuo e a palavra-mentira…
Veio um tempo, em que a consciência humana se isolou, por vontade própria ou por vontade de outros ou por vontade de Deus, ela não o sabia.
O isolamento não era a palavra-viva, mas queria abrir os caminhos até ela. Ele abriria os caminhos a todos os que não o negassem e não fugissem dele, mas que o aceitassem como caminho para a palavra-vida.
O isolamento, seu nome é crise.
Crise é foco em si mesmo.
E na crise-foco, a consciência humana aprendeu de novo a ouvir;
a ouvir a si mesma,
a ouvir o gemido mudo da dor de fora,
a ouvir o silêncio.
E a palavra-vida ganhou corpo e força na consciência humana
e construiu nela sua morada,
e habitou de novo a voz humana
A voz que fala a palavra-vida em verdade, em coragem e em justiça,
E aprende a gerar do silêncio a palavra-humana que alberga em si a palavra-espírito, plena de força transformadora e de amor.
Amor ao diferente-outro,
Amor às viventes criaturas,
Amor à Terra-Corpo da Palavra-vida.

Com os melhores votos para 2021,
Renato Gomes

Reflexão para o domingo, 27 de dezembro

Época de Natal

Referente ao perícope da primeira carta de João 4, 7-21

“No amor não há medo.”


Um bebê normalmente vive no pleno amor do mundo espiritual e dos pais. Ele está cheio de confiança e não tem medo. Pouco a pouco perdemos essa confiança no amor incondicional através das desilusões e dores na vida. A confiança transforma-se em medo.
Nós precisamos fazer um trabalho para alcançarmos novamente a confiança no amor divino e para vencermos o medo. Podemos começar procurando o sentido nas dores e desafios da nossa vida. O que eles querem nos ensinar? Porque eles aparecem em nossa vida? Pouco a pouco podemos descobrir o nosso destino. Nele podemos sentir o atuar do mundo espiritual. Cada vez mais perceberemos o amor divino que acompanha todos os nossos passos. Podemos começar a amar os desafios e obstáculos da nossa vida e desenvolver uma nova confiança no amor divino. O medo pode se transformar  novamente em confiança.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 20 de dezembro

Época de Advento

Referente ao perícope de Mateus 25, 1-13

“Então o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo. Cinco delas eram insensatas, e cinco prudentes. Ora, as insensatas, tomando as lâmpadas, não levaram azeite consigo. As prudentes, porém, levaram azeite em suas vasilhas, juntamente com as lâmpadas.”

Mateus 25

Uma planta germina de uma semente, cresce, floresce e dá frutos. Assim se encerra um ciclo vegetativo. Se fosse somente assim, uma planta não teria um futuro. Ela existiria apenas uma vez. Mas a planta não forma apenas o fruto. No fruto ela forma uma nova semente, que garante para o futuro um novo ciclo de vida.

Aquilo que a natureza traz evidentemente em si, nós seres humanos temos que aprender: não olhar apenas para os frutos que podemos obter no presente, mas sentir a responsabilidade pelo futuro, criar hoje sementes que garantam a vida do amanhã.

Este é o conceito da sustentabilidade, que temos que aprender sempre mais; no âmbito da agricultura, da economia, do modo como lidamos com o meio ambiente, nos relacionamentos sociais. Precisamos desenvolver, o mais rápido possível, responsabilidade pelo futuro, antes que seja tarde demais.

Mas além desses âmbitos existe também uma sustentabilidade espiritual: a responsabilidade pelo nosso futuro espiritual, pelo futuro espiritual do ser humano e da Terra. Temos a tarefa de criar sementes que germinarão num futuro, às vezes um futuro muito longínquo.

As cinco virgens prudentes criaram uma sustentabilidade para as suas lâmpadas, providenciando, durante o dia, o azeite que precisariam para a escuridão da noite. É o azeite que necessitam para acender as suas lâmpadas e se unirem com o noivo.

Quando nós cultivamos uma vida religiosa, temos também que pensar numa forma de sustentabilidade espiritual. O que formamos agora pelo nosso empenho de nos ligarmos com o divino, não trará necessariamente frutos para o nosso presente, mas com certeza ajudará a formar sementes que germinarão no futuro, ajudando a formar algo como o azeite que necessitaremos para acender a luz interior quando estivermos na escuridão e, assim, podermos nos unir com o Cristo.

João F. Torunsky

Reflexão para o domingo, 13 de dezembro

Época de Advento

Referente ao perícope de Lucas 1, 46-55

“Minha alma engrandece ao Senhor!
Meu espírito se alegra em Deus, meu salvador!
Pois olhou para a insignificância de sua serva…”

Estas palavras são o início do cântico de Maria, tradicionalmente chamado de “Magnificat”, cujas palavras expressam a exultante alegria que transborda de seu coração. Esta alegria surge da conscientização de que Deus “olhou a insignificância de sua serva”, ou seja, trata-se da vivência da alma humana que em certo momento percebe que está sob o olhar divino.
Num sentido genérico podemos dizer que Deus sempre está olhando para cada um de nós, mas tomar plena consciência deste fato é de grande significado para a própria alma.
O que significa, vivencialmente, que Deus está olhando para nós?
Todos bem conhecemos a vivência, muitas vezes sofrida e dolorosa, de percebermos que outra pessoa nos olha de maneira crítica ou má intencionada… Quem não sentiu “debaixo da pele” aquele olhar que humilha, despreza ou fere?
Podemos, com certeza, olhar as coisas com um olhar despretensioso e neutro, de modo que não evoque em nós quaisquer sentimentos. Isto é mais fácil com objetos inanimados e que nos são indiferentes. Entretanto, cada vez que olhamos para o ser humano surgem na alma, muitas vezes de forma pouco consciente, diferentes sentimentos ou emoções; simpáticas e amorosas, pois temos afeição por aquela pessoa; ou antipáticas e negativas pois talvez alguma experiência prévia com aquele individuo nos evocou tais sentimentos…
A partir desta experiência humana, cabe mais uma vez retornar a pergunta: como Deus, então, olha para o ser humano?
Se partimos da concepção de que o Criador nos conhece até melhor que nós mesmos, não é possível ocultar algo de seu olhar…
“…olhou para a insignificância de sua serva”
Maria (que aqui aparece como porta-voz da alma humana), entretanto, exulta ao perceber que está sob o olhar divino, pois não se trata de um olhar que critica, dilacera ou menospreza a latente “insignificância” do ser humano, mas que ao contrário, amorosamente é capaz de ver algo que está oculto até mesmo para nossa consciência, pois Deus é capaz de olhar-nos de tal modo que traz à luz de nossa consciência algo que talvez ainda não tenha se manifestado ou desenvolvido em nós, mas que o albergamos em potencial e um dia poderemos nos tornarmos nisto. E consegue olhar e reconhecer a imagem oculta de nosso próprio devir.
Alguns artistas contemporâneos estão desenvolvendo técnicas de trabalhos com luz e sombra, que estão sendo denominadas Shadow Art (em tradução livre: arte com sombras). Tais artistas constroem com materiais simples ou mesmo com sucata ou lixo, esculturas, que quando observadas não mostram ao olhar comum muito mais que um monte disforme de sucata ou de metal retorcido. Contudo, no momento em que tais esculturas são iluminadas por uma fonte de luz que provem de um lugar bem definido, elas projetam sombras que “revelam” algo que até então nosso olhar comum não era capaz de reconhecer.
Trata-se de um impulso artístico e criativo que muito pode nos ajudar em duas direções:
– inicialmente, podemos nos sentir estimulados a olhar a vida e as pessoas a nossa volta a partir de outros pontos de vista e assim aprender a descobrir e iluminar novos aspectos daquele ser, em especial quando nos acostumamos a vê-lo principalmente em seu lado menos nobre ou menos significativo…
– podemos também nos colocar no lugar de Maria e fazer-nos a pergunta: O que vive oculto em nosso ser e não chega a ser percebido, mas que se manifesta quando somos iluminados pelo olhar divino?
Tudo isto aponta para uma vivência primordial do Advento, pois neste período de preparação para o Natal, podemos tentar nos predispor animicamente a manter viva na alma a pergunta:
Qual é o foco que Deus usa para olhar a humanidade?
Como seu olhar divino ilumina cada ser humano?
Com certeza, Seu olhar amoroso vê algo na humanidade e em cada ser humano em particular que lhe motiva ininterruptamente a nos presentear com o impulso renovador do Seu Filho, quer nascer cada vez de novo no coração humano.

Renato Gomes

Reflexão para o domingo, 6 de dezembro

Época de Advento

Referente ao Evangelho de Lucas 1, 26-38.

Neste segundo domingo de Advento, Maria é o foco central. A ela é feita a anunciação da chegada do filho de Deus para salvação da humanidade. Podemos dizer que, por meio dela, a humanidade está grávida e espera o nascimento do menino Jesus? Desde os tempo da queda do Paraíso, a expulsão de Adão e Eva por terem comido do fruto proibido, a humanidade esperava a vinda do Messias para efetuar a inflexão fundamental de redenção. O pintor renascentista Fra Angélico em sua pintura “A Anunciação” representou de modo exemplar a importância desse acontecimento, ao colocar o foco principal no coração de Maria para onde se dirige o Espírito Santo na forma de uma pomba, que emana da mão de Deus com num raio de luz. E no canto superior esquerdo do quadro, há uma pequena representação da expulsão de Adão e Eva do Paraíso. Num único quadro temos esse magnífico percurso evolutivo da humanidade que vai da queda ao resgate. Outro elemento importante na imagem é a atitude de Maria, que após o espanto, a indagação, a incompreensão, acolhe em seu coração sua tarefa com uma inclinação devota diante do anjo anunciador, o Anjo Gabriel, cruzando os braços em seu peito em sinal de total entrega à vontade de Deus.
Essa atitude e gesto é a mais sublime indicação de como nós também podemos acolher em nossos corações a vinda do Cristo. Não consideramos essa festa como algo que nos remete ao passado, mas ao futuro, pois como a própria palavra “Advento” indica, trata-se da festa sobre o que há de vir. E mesmo, considerando que se refere a fatos ocorridos há mais de dois mil anos, a cada ano nós revivemos os acontecimentos e nos preparamos para receber o Cristo vivo. Ele não nos abandonou após sua ascensão, mas permanece disponível para todo indivíduo que o quer acolher. É nesse sentido que a humanidade permanece grávida de Cristo após todos esses séculos, e assim permanecerá até que todos o tenhamos acolhido. Enquanto isso, contemplamos a imagem da Anunciação com veneração e respeito, buscando o exemplo da atitude anímica adequada para essa recepção.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 29 de novembro

Referente ao perícope Lucas 21, 25-36

Época de Advento

“…e para ficardes de pé perante o Filho do Homem.”

Ficar em pé, não significa simplesmente se levantar e ficar parada/o. Há um preparo anterior. No Ato de Consagração do Homem, temos dois momentos onde toda a comunidade fica “de pé perante”:
Durante o anúncio do perícope (evangelho) e ao receberem a hóstia o vinho e a benção da paz na comunhão. No primeiro momento tentamos nos liberar de nossas inquietações e formar um espaço interno qual cálice que receberá a palavra viva e sanadora do Cristo. No segundo momento, assumimos nossas debilidades e afirmamos nosso compromisso de ligarmo-nos em devoção à revelação divina.
O que almejamos?
A sanação e o fortalecimento de nossa alma. Preparar-se para ouvir a palavra e comungar requer olharmos previamente para as nossas dificuldades, nossas sombras e dispormo-nos a nos levantar e ficar de pé perante os desafios que representam. Todo esforço nessa direção pode parecer imperceptível, mas no futuro se revelará como os primeiros passos para um dia estarmos de pé perante o Filho do Homem.

Viviane Trunkle

Reflexão para o domingo, 22 de novembro

Referente ao perícope do Apocalipse de João 21

Época de Trindade

„E aquele que estava sentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas.“

Apocalipse 21,5

Toda manhã, ao nascer do sol, o dia se renova. Todo domingo a semana se renova. A cada germinar de uma semente a natureza se renova. O nascer de uma criança renova a humanidade. E toda a nossa biografia é renovada com uma nova esperança, um momento de amor, um gesto de perdão. Existe no mundo uma força de renovação que é muito mais do que um mecanismo celeste, um casualismo biológico, uma psicologia subjetiva. O que renova o mundo é uma potência divina, é a força que nos criou e que pode abrir um espaço no presente para que aquilo que vem do passado receba um impulso do futuro: seja renovado.

A nossa Comunidade de Cristãos traz, além deste nome, a descrição: Movimento de renovação religiosa. Algumas pessoas entendem a Comunidade de Cristãos como um movimento para a renovação da religião. Mas esta compreensão não abrange a dimensão completa da nossa tarefa. Não se trata somente de um impulso para renovar a nossa vida religiosa. Se trata de um impulso para renovar a nossa vida, de uma forma religiosa. Não são somente os domingos que necessitam de uma renovação. Muito mais são os dias de semana que necessitam de um impulso religioso. O cristianismo atingirá a sua meta quando não for mais visto como uma religião ou confissão. Mas como um impulso que permeia a nossa vida, o nosso dia a dia, do despertar ao adormecer. O impulso do Cristo quer renovar a nossa ligação com o divino, para que não esqueçamos da Sua presença em tudo, em todos, em qualquer momento. Renovar a vida de uma forma religiosa, esta é a nossa tarefa.

João F. Torunsky

Reflexão para o domingo, 15 de novembro

Época de Trindade

Referente ao perícope do Apocalipse de João 7

O fortalecimento da individualidade é uma característica de nossa época. Trata-se de algo que podemos ver como um processo evolutivo natural e necessário em nosso desenvolvimento como seres humanos.
Cada vez mais vemos a nossa volta as expressões destas “marcas” individuais seja nos círculos mais próximos, seja num contexto mais abarcante. Um risco latente deste princípio de individualização, entretanto, se manifesta quando algumas pessoas, por carisma ou oportunismo, imprimem fortemente suas ideias e terminam com isso arrebanhando outros de maneira unilateral. Disto podem nascer tendências radicais e até intransigentes frente a outras posturas que também podem e devem surgir a partir de manifestações individuais divergentes.
Na sociedade moderna (mundial) tal tendência à cisão vem se fazendo notar de modo cada vez mais crescente no incremento das tensões na sociedade civil e comunidade internacional.
O que urge muitas vezes é tornar-se consciente de que a cada momento somos confrontados com a necessidade de tomar decisões. O fenômeno da pandemia trouxe inúmeros exemplos disto:
Aceitamos ou não o uso das máscaras de proteção?
Mantemos ou não o isolamento social/domiciliar?
Queremos tomar esta, aquela ou nenhuma vacina?
Percebe-se que as medidas aconselhadoras ou restritivas dos órgãos de governo, em todos os seus níveis, cada vez menos conseguem exercer um efeito amplo e duradouro nas pessoas, pois justamente cada vez mais o ser humano se sente capaz e no direito de decidir o que é melhor para si.
Certa vez uma frase lida num livro deixou-me refletindo:

450 milhões de dólares disponíveis,
anualmente, para o homem chegar
a Marte.
450 milhões de crianças
com fome chegam
à Morte.*

Trata-se aqui também do mesmo princípio:
Qual é a minha escolha frente a essa situação? Qual das frentes me sensibiliza mais e, portanto, me mobiliza a fazer algo?
Se temos consciência dos desdobramentos das escolhas que fazemos em nossas vidas, perceberemos, em algum momento, que estaremos contribuindo numa ou noutra direção. Tanto nesta quanto nas inúmeras questões que a vida moderna nos traz.
Talvez não seja arriscado dizer que os tempos modernos nos colocam, de certo modo, diante de um importante divisor de águas na evolução do ser humano e da Terra, pois serão as escolhas conscientes que fizermos que possibilitarão delinear caminhos futuros (isto, se não quisermos abrir mão do direito de fazer escolhas em prol da escolha de outros que estão ávidos por decidir no lugar de cada um que se omita – o que em si não deixa de ser também uma escolha…).
Na linguagem imaginativa do Apocalipse, este princípio aparece na imagem do selo “impresso na fronte” dos filhos de Israel.
Aqui se deve entender que se tratam de todos aqueles (multidões de todas as tribos, nações e línguas) que, com consciência, decidem deixar-se impregnar nos pensamentos (na fronte) pelo impulso (selo) do Cordeiro (Cristo) para que tais impulsos iluminem o sentir (vestes brancas) e vivifiquem o querer (palmas nas mãos) humano individual.
Retornando à frase anterior:
Não sabemos se algum dia o ser humano chegará a Marte e que benefícios isto trará para a humanidade ou para alguns poucos. Entretanto sabemos bem que por algumas de nossas decisões cotidianas podemos contribuir para que seres humanos, em especial, os mais jovens, não tenham que ser abandonados à morte.

“…pois [por causa do Cordeiro] nunca mais terão fome, nem sede, nem calor algum lhes atormentará”

Renato Gomes

*Paco Cac [Paulo Cézar Alves Custódio], no livro “Pulso” Brasília: Edição do Autor 2004

Reflexão para o domingo, 8 de novembro

Época de Trindade

Referente ao perícope do Apocalipse de João 3

Comparada aos seres humanos, a natureza é um milagre de perfeição. Quando precisamos de paz interior, sempre ajuda dar um passeio por uma paisagem natural. É bom sentir o vento fresco no rosto, observar a liberdade dos pássaros, observar o movimento da água no lago ou no rio e admirar a beleza das folhas das árvores no chão. Nossa alma se acalma aos poucos, como se tentasse imitar a natureza. E quando reclamamos do tempo, quando está muito frio ou muito quente ou muito úmido para nós, não demoramos muito para perceber que essas mudanças no clima fazem parte do equilíbrio dos ritmos das estações.

O corpo humano também é perfeito porque, entre outras coisas, é um fenômeno natural. E se não fosse por nossos abusos, teria uma tendência constante em manter-se sano. Mas não precisamos olhar muito em nossa alma para perceber o quão longe estamos dessa perfeição com todas as nossas fraquezas e dificuldades em tentar melhorar nosso caráter. Mas, sem dúvida nos damos conta que vivemos em processo de aperfeiçoamento, essa é a nossa natureza.

Lemos no Apocalipse de João sobre a comunidade de Sardes, que representa justamente a condição do ser humano no seu processo e de, quanto está ainda aquém daqueles que serão revestidos de vestes brancas, ou seja, os que puderam por meio do Cristo purificar suas almas. Surge um desejo profundo de que possamos também estar entre eles. Saber como as roupas da nossa alma estão sujas nos ajuda a decidir lavá-las. Mas essas vestes não podem ser lavadas em água alguma, mas devem ser alvejadas no sangue do Cordeiro. O branqueamento é o nosso próprio processo de autoconhecimento e autotransformação tendo o Cristo como modelo. Estamos no processo, não importa quanto tempo ele possa durar, mas prosseguimos continuamente.

A consciência de nossa impotência permite que nos conectemos com Cristo, obtendo dele a força para continuar. Enquanto isso, podemos continuar a observar a natureza. Sua perfeição nos estimula a nos conectar com a fonte primordial de toda beleza e seguir adiante em nosso processo.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 1 de novembro

Referente ao perícope do Apocalipse de João 1

Na ilha de Patmos João recebe o apocalipse. Em uma primeira imagem vemos aquele que fala: “Não tenhas medo. Eu sou o Primeiro e o Último, aquele que vive. Estive morto, mas agora estou vivo para todo o sempre.” Podemos reconhecer o ressurreto, o Cristo.

Ao mesmo tempo, se manifesta nessa imagem o Filho da Humanidade, nosso ideal e meta de desenvolvimento. Ele é descrito com certos atributos e qualidades. Temos as imagens das vestes e dos cabelos. Outras que trazem as qualidades ligadas às forças da natureza, com o fogo e a água. E ainda as imagens que representam forças cósmicas: as estrelas, a palavra e o brilho do sol. Podemos nos perguntar o significado dessas qualidades e como podemos desenvolvê-las.

O Cristo nos precedeu no desenvolvimento das qualidades humanas. Seguindo seus exemplos e trabalhando as imagens do apocalipse podemos desenvolver pouco a pouco tais qualidades. Esse pode ser um caminho para a humanidade tornar-se frutífera para a Terra e os céus. As grandiosas imagens do apocalipse acompanham o desenvolvimento da humanidade que culminará na Nova Jerusalém.

Julian Rögge