Reflexão para o domingo, 25 de outubro

Referente ao perícope da carta aos Efésios 6

“Revesti-vos de toda a armadura divina, para poderdes permanecer firmes contra as ciladas do adversário do homem.”

Efésios 6

O odor é algo que se propaga ao derredor daquilo que o exala, atraindo ou repelindo determinados seres. Algo com muito fedor atrai, por exemplo, moscas-varejeiras, enquanto uma flor, que exala um perfume suave, atrai borboletas. Nosso corpo também tem seus odores, alguns agradáveis, outros desagradáveis. Mas muito mais importante que os odores do corpo são os odores da alma. Em relação à alma, não se costuma falar em odores, mas em astralidade. Também nossa astralidade possui diferentes qualidades, às vezes como um fedor, às vezes como o perfume suave de uma flor. Insatisfação, crítica, fofoca, mentira, ódio, fedem; enquanto confiança, compreensão, verdade, amor, têm a qualidade de um perfume. Na realidade, os seres que nos rodeiam são atraídos ou repelidos por nós mesmos. Às vezes atraímos, por assim dizer, “borboletas”, às vezes “moscas-varejeiras”.

O Apóstolo Paulo, em sua carta aos Efésios, nos aconselha a vestir a armadura divina, com justiça, paz, fé, veracidade. Vestir a armadura divina significa trabalhar a própria astralidade. A luta que temos de lutar é aquela que travamos conosco mesmo. Quanto mais superarmos a negatividade e nos vestirmos com a positividade, tanto mais os demônios, que antes eram atraídos pelo fedor da nossa alma, se afastarão, e os anjos, atraídos pelo perfume suave, dela se aproximarão.

João F. Torunsky

Reflexão para o domingo, 18 de outubro

Referente ao perícope do Apocalipse de João 19

“Existe uma definição de indigeneidade, na minha perspectiva, que vai além de ser um indigena nativo de um certo lugar. Trata-se de ser nativo, nascer como um ser humano, algo que é muito mais antigo e inclui todos, inclui cada ser humano.”

Gregory Cajete

Professor universitário, educador indigena do Novo México, EUA

No pensamento deste educador, nascido na comunidade indígena de Tewa, percebemos que ele aponta para a terminologia “ser nativo” vinculada a outro termo, “povos nativos”, muitas vezes usados para denominar os povos indígenas originários deste continente. No pensamento de Gregory Cajete vive a ideia de que todos somos nativos de algum lugar e que em verdade é fato inerente a todo ser humano ser nativo do nosso mundo, nativo da Terra. Esta é a vivência primordial que todos compartilhamos, independente do lugar de nascimento. De nossa origem espiritual viemos à Terra para nos tornarmos nativos humanos. Nosso mundo é um só, apesar de sua imensidão e da diversidade de regiões e paisagens que nele existem. Trata-se, portanto, de um conceito simples e antigo, que os povos que habitavam este continente já o cultivavam em sua cultura.

Ao mesmo tempo, é um conceito moderno e em certa medida, futurista, pois faz-se necessário na atualidade e nos próximos tempos que tomemos seriamente este princípio. Todos compartilhamos o mesmo mundo. Quando o destruímos, quando o contaminamos, quando queimamos (ou deixamos queimar) estamos destruindo, contaminando ou queimando o nosso próprio ambiente nativo. Derrubar a floresta, queimar o pantanal, drenar os manguezais é como derrubar, queimar e soterrar nossa própria casa, fazer tudo isto com um local importante e significativo para todos nós. Não querer perceber este fato faz parte da miopia e da ganância que assola os tempos presentes e se alastra pelo mundo com consequências mais nefastas ainda que a própria pandemia dos tempos modernos. Somos nativos da Terra, filhos da Terra. Viemos aqui para aprender isto: a conviver em harmonia com a Terra e com os demais seres humanos que nela vivem!

Todo o capítulo 19 do Apocalipse nos remete a uma situação que pode encontrar na atualidade seus paralelos. Menciona inicialmente a grande “corrupção” que havia se instalado sobre a Terra e que chegou o momento de levantar a voz e atuar com “cetro de ferro” diante das infidelidades e mentiras que o próprio ser humano acabou criando. Pois, o ser humano se torna infiel em sua relação com própria Terra, quando a explora e a destrói; se torna insincero quando engana a si e aos demais com mentiras sobre os motivos pelos quais promove esta destruição. Na visão do cavaleiro montado no cavalo branco, que é fiel e verdadeiro, aparecem também aqueles que querem elevar sua voz e combater a seu lado. No contexto do apocalipse, estes, que estão vestidos de linho, vêm de todos os povos, línguas e nações da Terra. Trata-se de um empreendimento comum a todos! Todo “nativo da Terra” – parafraseando o prof. Cajete – é chamado a tomar consciência do que se passa a nossa volta e com coragem buscar impulsos para nosso atuar. Eis aqui um dos muitos desafios (micaélicos) de nossos tempos!

Renato Gomes

Esta reflexão está dedicada ao Cacique Raoni Metuktire, líder indígena brasileiro da etnia caiapó, que recentemente teve o seu nome indicado para o Prêmio Nobel da Paz, mas lamentavelmente não foi laureado. De qualquer modo sua longa e fiel luta pela Terra tem um enorme valor para todos os que de fato se sentem “nativos” da Terra.

Reflexão para o domingo, 11 de outubro

Referente ao perícope de Apocalipse 12

Poderíamos pensar que a imagem da mulher vestida de sol com a lua a seus pés poderia personificar a sabedoria cósmica que se manifestou desde tempos imemoriais como Ísis-Sofia ou mais tarde como a Virgem Maria. Na Idade Média, as sete artes liberais também eram representadas por figuras femininas. Mas não se tratava apenas de representação simbólica, mas uma personificação como vivenciou Boécio ao se deixar consolar pela grande dama, a Filosofia. Mas isso são águas passadas. A civilização se masculinizou a tal ponto que essas imagens só permanecem como figuras míticas e românticas.
Hoje, poderíamos considerar a emancipação da mulher e contemplar um futuro resgate do eterno feminino, em busca do equilíbrio entre as polaridades como uma tendência inexorável, dependendo apenas de um tempo de maturação das mentalidades. Assim, também o papel micaélico de administrar a inteligência cósmica em nossos tempos poderia tomar uma nova dimensão. Como podemos vislumbrar um espírito comunitário futuro na direção desse equilíbrio entre as forças amadurecidas do Eu e do amor crístico unido às qualidades mais fluidas que abarcam a totalidade com as diferentes características individuais. O ideal de unir a força incisiva e certeira do pensar cósmico objetivo às forças individualizadas do coração. Ou mesmo, se tomarmos a arte como meio de cultivo do sentir e a religião como resgate da integridade do ser humano, reunir o que a história separou: ciência, religião e arte. Sabemos dos perigos de instaurar utopias à força por grupos que tenham decidido arbitrariamente quais são os ideais. Mas pensar utopias não deveria ser proibido, pois ajudam a vislumbrar que tipo de sociedade queremos para o futuro.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 4 de outubro

Referente ao perícope de Mateus 22
“O reino dos céus é como…”
Este versículo se inicia com estas simples palavras, e então segue-se uma descrição de imagem próxima à nossa compreensão terrena.
Podemos interiorizar ainda mais a imagem: “O reino dos céus é como um rei, um rei é como um ser humano…”
O Eu superior humano está se preparando para um matrimônio, para a união eterna com o divino. Ao longo de sua existência de encarnação em encarnação ele pode ascender cada vez mais, através da missão humana na Terra. Ele permeia cada vez mais seu eu inferior, sua alma e seu corpo físico. Este permear é o resultado de nosso esforço em direção ao desenvolvimento espiritual. Assim possibilitamos ao nosso Eu, nosso rei, preparar o casamento. O alimento está pronto: a beleza da alma está cultivada. Finalmente podemos trazer os convidados para o festejo! Enviamos nossos servos ao mundo para levarem o convite. Nossos servos são nossos sentidos e ações quando cultivados. Estão a nosso serviço. Neste momento, temos a força necessária de abrir as portas da alma para todas as suas nuances, para os seres que a habitam e que fazem parte de nós. Em conjunto compartilharemos a alegria da futura união.
Mas, somos levados a perceber que nossa estadia na Terra traz consigo seus percalços. Muito em nós se perde na falta de interesse genuíno pelo outro, no orgulho, na soberba, na atomização. Este é o reflexo do ser humano no espelho dos convidados. Somos em grande parte: “Indignas criaturas”.
E é neste momento difuso e dramático onde Cristo nos entrega uma chave em mãos:
“Ide pois, lá, onde os caminhos se encontram e se cruzam, e chamem para o casamento quem vocês encontrarem” – Maus e bons.
Há aqui uma tarefa. Olhar para a própria alma e reconhecer que há nela o bem e o mal. Aprender em humildade a convidá-los para o casamento, cuidando para que nosso trabalho interior os purifiquem a ponto de receberem uma nova veste. O traje nupcial.
Nosso eu deve estar atento e alerta para os convidados em nossa alma. Para o que  todavia não estiver à altura de receber o traje, nossos servos devem dar especial atenção. O rei o trata de forma amistosa: “Meu amigo…”
É no emudecer deste convidado, onde nosso Eu superior pode perceber que se trata de um força fora do lugar. Ele ativa nossos sentidos e ação para contê-la e colocá-la em seu devido lugar. No lugar das forças que ainda não foram depuradas. As trevas exteriores, o choro e o ranger de dentes estão também em nós. Mas estão à parte de nosso relicário mais puro. Daquilo em nós que deve seguir imaculado. Nosso ser mais íntimo. É neste relicário onde Cristo pode atuar, se assim o quisermos e permitirmos. Ao ouvirmos seu chamado, ao nos prepararmos ao longo das repetidas encarnações, nos será permitido irmos adiante…

Viviane Trunkle

Reflexão para o domingo, 27 de setembro

Referente ao perícope de Lucas 7, 11-17

“Levanta-te!”

Vale a pena pesquisar no Novo Testamento e estudar os trechos nos quais se encontram a palavra “Levanta-te”. Encontrei-a trinta e uma vezes. Nos Evangelhos é uma expressão falada por Jesus Cristo em várias circunstâncias, principalmente aos enfermos, mas também um anjo fala „Levanta-te“ para José, como uma ajuda para que ele tome decisões de qual caminho deve seguir.

Quantas vezes na vida nos sentimos inseguros em tomar uma decisão, paralisados perante os desafios do destino, cegos para ver o caminho, surdos para escutar o nosso anjo. Que dor é perceber em nós como mortos, os ideais que na nossa juventude deram um sentido para a nossa vida. Em momentos assim é compreensível que roguemos pela ajuda divina, esperemos que o Cristo, ou ao menos um anjo, nos resolva o problema, nos carregue para o outro lado do abismo. Mas hoje, no ponto do desenvolvimento da humanidade em que nos encontramos, não é esta a ajuda que devemos desejar dos nossos guias espirituais. O que precisamos é a ajuda para fortalecer o nosso próprio eu, a força que, em nossa infância, nos possibilitou superar a gravidade e nos colocarmos eretos apoiados sobre os nossos próprios pés. É a mesma força de que precisamos hoje para superar o medo na alma, superar a cegueira e a surdez espiritual, reviver os ideais. Precisamos da força para nos colocarmos animicamente eretos, apoiados interiormente sobre os nossos próprios pés, e trilhar o difícil caminho até o outro lado do abismo.

O que hoje, mais do que nunca na história da humanidade, podemos esperar do Cristo é a força que flui da sua palavra e fortalece o nosso eu, quando Ele nos diz: Levanta-te!

João F. Torunsky

Reflexão para o domingo, 20 de setembro

Referente ao perícope de Mateus 6, 13-34

“Quando jejuardes…”

Os antigos entendiam que a privação de alimentos por um determinado período de tempo poderia ser um exercício religioso em si ou parte de uma exercitação mais ampla. O que acontece conosco durante um jejum?

Nosso corpo é privado de alimentos. Se isto ocorre por um período prolongado, vários processos bioquímicos se alteram em nossas células. Aos poucos o metabolismo começa sofrer uma transição e substâncias nutritivas que estavam apenas armazenadas em algumas partes do nosso organismo começam a ser mobilizadas para produzir a energia (fogo) que necessitamos para nossas funções vitais. Quanto mais prolongado o tempo de jejum, maior a mobilização dessas reservas. Tais reservas são normalmente conhecidas como ácidos graxos ou gorduras, que, ao longo da vida, se condensam e se ‘solidificam’ ao redor dos órgãos internos e debaixo da pele. Se nos alimentamos ininterruptamente e, na atualidade muitas vezes comemos mais nutrientes do que de fato necessitamos, este princípio de acumulação e condensação vai progredindo, ao mesmo tempo, se desenvolve paralelamente outro mecanismo anímico que se manifesta como uma espécie de insaciedade, pois muitas vezes parece que quanto mais comemos, maior se torna a vontade de comer. Se tentarmos olhar o que nosso corpo físico e vital nos ensinam com tudo isto, poderíamos dizer numa linguagem imaginativa o seguinte: Na abundância de alimentos nosso corpo acumula a matéria condensando-a. Aqui se pode ver um processo de maior materialização ou, usando uma expressão da antiga doutrina dos quatro elementos, condensar é formar ‘terra’ (imagem para o estado mais denso da matéria).

Quando estamos num prolongado período de jejum todo este processo se redireciona para o lado oposto: as reservas materializadas e guardadas se tornam fluidas, circulam por nosso sangue e vão se tornando a fonte de energia para a vida. Aqui podemos falar do processo do ‘fogo’.

Neste sentido, podemos formar a imagem de que o jejum significa para o nosso corpo a transição da ‘terra’, o elemento mais denso, para o ‘fogo’ o mais sutil. Talvez os antigos, mesmo sem conhecer muito do que a ciência e a biologia nos ensinam hoje, tinham por meio da intuição um conhecimento destes processos.

Se nos direcionamos para a Terra, nos envolvemos cada vez mais com as forças e com as leis que regem o mundo físico. Quando almejamos alcançar os Céus, temos que nos orientar na direção oposta e buscar nos compenetrar com o calor e o fogo do Espírito. Fica assim evidente, a partir desta abordagem, o princípio desta antiga prática religiosa: Jejuar significava se elevar da Terra ao espiritual! Também no judaísmo a prática do jejum era conhecida e muito respeitada. O que o cristianismo acrescenta a tudo isto?

“…quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam.(…) Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para não pareceres aos homens que jejuas…”

Cristo coloca a ênfase na atitude interna. Não faz sentido jejuar a partir da sensação de que se suporta um pesado jugo; pior ainda, seria fazer disto uma manifestação exterior, para chamar a atenção dos demais. “Lavar o rosto e ungir a cabeça” eram maneiras de expressar bem-estar interior e alegria. A prática do jejum não significava uma meta em si, mas uma maneira de se ‘soltar’ um pouco do peso terreno e se elevar interiormente ao fogo Espírito. Isto deveria trazer bem-estar e alegria ao ser humano, do contrário a prática se esvazia de sentido religioso.

Na atualidade, contudo, o jejum deixou de ser para a grande maioria uma prática para o desenvolvimento interior como o foi no passado. Estão mais em voga, hoje, práticas dietéticas com finalidades terapêuticas, nutricionais ou até mesmo estéticas. Entretanto, mesmo na modernidade, estamos sujeitos a situações em que nos vemos privados de algo que nos é importante. Podemos em tais situações falar num sentido figurado de um ‘jejum’. A inesperada virada mundial que se espalhou pela humanidade trouxe consigo inúmeros destas privações. Houve ‘jejuns’ nas relações e contatos entre as pessoas, que tiveram que se manter mais isoladas umas das outras, ‘jejuns’ nas atividades de lazer e ao ar livre para manter-se em casa durante a quarentena, ‘jejuns’ para crianças, jovens e tantos outros alunos e estudantes, que tiveram que se privar das aulas presenciais e do convívio com colegas e professores, entre outras tantas situações. Também foi necessário cumprir um ‘jejum’ em relação à participação nos cultos. Muitos sentiram profundamente esta privação. Aqui cabe também uma reflexão. Todo este período em que não foi possível celebrar o Ato de Consagração do Homem com a presença da comunidade deve ser visto como uma tragédia ou uma grande perda? Ou, o quanto esta privação exterior foi um impulso para mobilizar reservas adormecidas do fogo interior na tentativa de buscar uma íntima conexão com o Espírito?

Aos poucos o Ato de Consagração do Homem retornará a ser celebrado com a presença da comunidade. Almejemos do fundo do coração que este retorno após o prolongado ‘jejum’ nos encontre de ‘rosto lavado e cabeça ungida’ co-celebrando diante do altar de Cristo.

Renato Gomes

Reflexão para o domingo, 13 de setembro

Referente ao Perícope de Lucas 17, 5-10

A maioria das pessoas obtém consolo a partir da ideia de que basta uma fé pequena como a semente de mostarda. Mas sementes de mostarda crescem. Portanto, Jesus não está apenas chamando a atenção para o tamanho pequeno dessas sementes. As traduções do Evangelho dizem geralmente “fé do tamanho de um grão de mostarda”, mas a palavra “tamanho” ou seu equivalente não aparece no grego original. Jesus simplesmente diz “fé como um grão de mostarda”. Sem dúvida, a pequenez dessas sementes está em primeiro lugar, mas Jesus tem em mente muito mais do que o tamanho.
E a semente está viva, embora pareça estar morta por fora. viva de tal maneira que conduz à produção de frutos. Portanto, fé que é eficaz é uma fé que é viva, é uma fé que tem obras. Também podemos descrever essa fé como aquela que dá frutos. Em segundo lugar, aquela pequena semente se transforma em uma planta muito grande. O próprio Jesus enfatizou este aspecto da semente no início de Mateus. Ele propôs outra parábola. “O reino dos céus é como um grão de mostarda que a pessoa colhe e semeia no campo. É a menor de todas as sementes, mas quando totalmente crescida, é a maior das plantas. Torna-se um grande arbusto, e os pássaros do céu vêm e habitam em seus galhos (Mateus 13, 31-32). O uso da metáfora não pode ser acidental, poi é pela fé, que o reino dos céus cresce. Assim, a mensagem subjacente não é tanto o poder da fé para transformar o mundo ao seu redor, mas é o potencial de transformá-lo em sua alma, crescendo de uma semente a uma árvore magnífica. Quanto à mudança da amoreira e seu plantio no mar, certamente isso parece uma impossibilidade física, pois no mar não há nada para as raízes da árvore se fixarem. Mas Jesus está dizendo que é possível. Em outras palavras, a fé nos permite permanecer alicerçados mesmo nas situações aparentemente mais instáveis. É do mundo interior que estamos falando. A alma necessita de um alicerce numa força imponderável, mas que pode crescer e vivificar. Ela se fortalece na medida em que se reconhece a sua fonte. O poder de transportar montanhas, de encontrar um alicerce no mundo espiritual é de Deus. Mas, nós que fazemos parte dele, compartilhamos desse poder, desde que estabeleçamos relação com a fonte. E como podemos fazer isso? Por meio da oração, do contato, da comunhão.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 6 de setembro

Referente ao perícope de Lucas 10, 1-20

“O Senhor escolheu outros setenta e enviou-os, dois a dois, à sua frente, a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir. E dizia-lhes: ‘A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita. Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não vos demoreis para saudar ninguém pelo caminho!
Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; senão, ela retornará a vós. Permanecei naquela mesma casa; comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador tem direito a seu salário. Não passeis de casa em casa.
Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’. Mas quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: ‘Até a poeira de vossa cidade que se grudou aos nossos pés, sacudimos contra vós. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo!’
Eu vos digo: naquele dia, Sodoma receberá sentença menos dura do que aquela cidade.
Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Se em Tiro e Sidônia se tivessem realizado os milagres feitos no meio de vós, há muito tempo teriam demonstrado arrependimento, vestindo-se de saco e sentando-se sobre a cinza. Pois bem: no dia do julgamento, Tiro e Sidônia terão uma sentença menos dura do que vós. E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Até o inferno serás rebaixada! Quem vos escuta, a mim escuta; e quem vos despreza, a mim despreza; ora, quem me despreza, despreza Aquele que me enviou’.
Os setenta e dois voltaram alegres, dizendo: ‘Senhor, até os demônios nos obedecem por causa do teu nome.’ Jesus respondeu: ‘Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. Eu vos dei o poder de pisar em cobras e escorpiões, e sobre toda a força do inimigo. Nada vos poderá fazer mal. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos se submetem a vós. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos nos céus’.”

Lucas 10, 1-20

Assim como os setenta, nós também somos enviados. Enviados dos céus para a Terra. Temos uma missão a realizar e um caminho de desenvolvimento à nossa frente. Somos trabalhadores e podemos nos tornar trabalhadores em nome do Senhor. Dele recebemos o necessário para cumprirmos nossa tarefa.
De vez em quando podemos parar e nos perguntar: Já encontrei minha missão? Estou no meu caminho de desenvolvimento? O que realmente preciso para minha tarefa? Talvez precisemos mudar nossa direção ou nos libertar do supérfluo acumulado. Momentos de reflexão podem nos ajudar a olhar com clareza para nossa biografia e  separar o importante do insignificante. Isso nos dar força para o essencial e clareia nosso caminho.
No momento da nossa volta aos céus, prestaremos conta dos nossos pensamentos, sentimentos e ações. Nesse momento veremos onde conseguimos seguir nossa missão, onde fomos trabalhadores em nome do Senhor, e onde erramos. Perceberemos nosso nome eterno escrito nos céus.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Salmo 29

“Dai ao SENHOR, ó filhos dos poderosos, dai ao SENHOR glória e força.
Dai ao Senhor a glória devida ao seu nome, adorai o Senhor na beleza da santidade.
A voz do Senhor ouve-se sobre as suas águas; o Deus da glória troveja; o Senhor está sobre as muitas águas.
A voz do Senhor é poderosa; a voz do Senhor é cheia de majestade.
A voz do Senhor quebra os cedros; sim, o Senhor quebra os cedros do Líbano.
Ele os faz saltar como um bezerro; ao Líbano e Siriom, como filhotes de bois selvagens.
A voz do Senhor separa as labaredas do fogo.
A voz do Senhor faz tremer o deserto; o Senhor faz tremer o deserto de Cades.
A voz do Senhor faz parir as cervas, e descobre as brenhas; e no seu templo cada um fala da sua glória.
O Senhor se assentou sobre o dilúvio; o Senhor se assenta como Rei, perpetuamente.
O Senhor dará força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com paz.”

Salmo 29

Os sete trovões

Uma forte tempestade está se aproximando do mar. O olhar piedoso do Antigo Testamento vê nas manifestações da natureza lá fora uma solene antecipação, pois é esperada uma grande revelação. Um relâmpago cintila no céu rasgando as nuvens. Ele também rasga uma cortina sobre o olho que o observa. A alma sabe que não está mais no âmbito da Terra, mas sim vivenciando um culto no céu, tal como é celebrado pelos habitantes dos mundos superiores.

Voltando à Terra, a alma agora, consagrada pela visão, é capaz de dar o nome correto: “A voz do Senhor” — (qôl Yahweh). — Para os hebreus essa era uma designação de trovão. Sete vezes esse chamado “qôl Yahweh” soa no Salmo 29.

A voz de Yahweh sobre as águas — a memória surge no início da criação, como o espírito de Deus uma vez pairou sobre as águas. Do mar para a terra. O que se solidificou e endureceu no âmbito da Terra é o que no início ainda era um mar formativo. O mundo do que se tornou treme diante da palavra criativa do Altíssimo. O que tomou forma na terra parece questionado quando o Eterno fala novas palavras com autoridade. O salmo vê isso em imagens múltiplas. Cedros antigos e árvores altas foram atingidos por raios e quebrados. Quem pode olhar para isso sem se deixar dominar pela seriedade do Juízo Final? As montanhas estremecem, sacudidas por um terremoto — A tempestade passou em sete fortes trovões, três sobre o mar, quatro sobre a terra. Isso faz lembrar os sete trovões do Apocalipse de João: “Os sete trovões emitiram as suas vozes” (Apocalipse João 10,3).

Glória ao Senhor — ele está entronizado sobre o dilúvio. Sim, ele, o Senhor, será entronizado, um rei para sempre. O Senhor — ele dará força ao seu povo. O Senhor — ele abençoará seu povo com paz.

O salmo termina onde começou: no santuário celestial. Lá em cima se ouve a “Gloria in excelsis” das hostes celestiais. No Apocalipse de João, é particularmente impressionante como, em meio às visões de destruição, a imagem do trono celestial aparece repetidamente como um mastro de repouso, o que nos dá a certeza de uma última direção significativa dos eventos. A última palavra deste salmo de tempestade é “paz”. O arco-íris, sinal divino da salvação da aliança, segue a tempestade. Quem passou pela tempestade e se deu conta de sua imortalidade sente a passagem pela zona de destruição como um aumento de força interior. “O Senhor dará força ao seu povo.” Depois desta palavra de força vem a palavra de paz!

“Gloria in excelsis” é respondido pelo “et in terra pax”. Através do tempo, o homem sabe que está conectado com aquele que está entronizado em majestade eterna. Há paz divina no trono celestial, há paz e esperança poderosa abaixo nos corações dos seres humanos. Em meio às tempestades e crises pelas quais passamos, nos conscientizamos das manifestações de Deus na Terra e nos voltamos interiormente ao que realmente importa, despertando do sono e nos voltando para a realização de nossa missão, a construção da paz.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 30 de agosto

Referente ao perícope de Marcos 7, 31-36

“E ele, tornando a sair dos termos de Tiro e de Sidom, foi até ao mar da Galiléia, pelos confins de Decápolis. E trouxeram-lhe um surdo, que falava dificilmente; e rogaram-lhe que pusesse a mão sobre ele. E, tirando-o à parte, de entre a multidão, pôs-lhe os dedos nos ouvidos; e, cuspindo, tocou-lhe na língua. E, levantando os olhos ao céu, suspirou e disse: Efatá; isto é, Abre-te. E logo se abriram os seus ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e falava perfeitamente.
E ordenou-lhes que a ninguém o dissessem; mas, quanto mais lhos proibia, tanto mais o divulgavam.”

Marcos 7, 31-36

A audição e a fala são dons que temos e estão intimamente relacionados um com o outro. Quando falamos, nos escutamos a nós mesmos. E quando escutamos alguém falando, nossas cordas vocais vibram simultaneamente. Na realidade, quando ouvimos uma outra pessoa falando, não apenas as nossas cordas vocais vibram: nosso corpo inteiro vibra muito suavemente também. Fisiologicamente não existe um ‘falar sem ouvir’, tampouco um ‘ouvir sem falar’. Falar e ouvir são como dois lados de um todo. Vemos na fisiologia, assim como em tantas outras situações, que recebemos inconscientemente uma sabedoria do nosso corpo, tal como uma orientação para aquilo que temos de desenvolver conscientemente em nossa alma: a audição e a fala necessitam estar intimamente relacionadas, uma com a outra.
Aquilo que não é possível fisiologicamente, pode se tornar o normal animicamente. Que, quando escutamos o outro falar, não estamos realmente ‘vibrando’, no íntimo, com aquilo que ele está nos dizendo. Quantas vezes, enquanto escutamos o outro, estamos pensando os nossos pensamentos, sentindo os nossos sentimentos. Estamos com a boca cerrada, mas ao mesmo tempo falando em nosso íntimo e não estamos, realmente, escutando o outro. Nos admiramos, então, que não compreendemos o outro.
Quando falamos para o outro, quantas vezes não estamos, na verdade, escutando aquilo que estamos dizendo, ou seja, não estamos ponderando o significado que a nossa fala terá para o outro, não estamos sentindo as consequências que as nossas palavras terão para o relacionamento. Nos admiramos, então, que o outro não nos compreenda.
Podemos ouvir e falar no âmbito do nosso corpo, mas corremos o risco de sermos surdos e mudos no âmbito das nossas almas.
O que nos pode ajudar nessa situação é aquilo que o Cristo Jesus falou para o surdo e mudo, quando o curou: “Efatá, isto é, Abre-te.”
Não são os nossos ouvidos que têm de se abrir para que possamos ouvir. Não é a nossa boca que tem de se abrir para que possamos falar. O que tem de se abrir é o nosso coração. Com os ouvidos podemos ouvir o que o outro está nos dizendo. Com o coração podemos compreender o que o outro está querendo nos dizer. Com a boca podemos falar o que queremos dizer. Com o coração podemos ponderar como nós devemos dizer, para que o outro possa nos compreender.
Assim podemos sentir o Cristo Jesus falando para nós: Efatá, isto é, abre o teu coração, quando estiver ouvindo; abre o teu coração quando estiver falando.

João F. Torunsky