Reflexão para o domingo, 19 de julho

Época de João Batista

Referente ao Perícope Mateus 14

Na vida seguimos em determinada direção fazendo planos para o futuro e cumprindo nossas tarefas com esperança de que poderemos tranquilamente chegar a bom termo com nossos planos. De repente, surge uma tempestade, não prevista que destrói nossos planos e nos remete a uma situação de emergência. Precisamos nos acalmar, nos recolher, buscar forças, remanejar, planejar de novo, buscar recursos externos e internos. Onde podemos encontrar forças? O que nos consola e traz paz interior para continuar? Será que a crise imprevista nos aponta para algo que havíamos ignorado? O que ela nos indica? O que negligenciamos? Pode ser que ela nos aponte justamente para o que é nossa missão, que no plano inicial não havia sido contemplada, ou talvez tenha ficado adormecida e precisa ser reavivada.
Quando Jesus soube da morte de João Batista ele se retirou para rezar e depois voltou a efetuar curas. Sobre a morte trágica e violenta que João sofreu, Jesus não pronunciou nenhuma palavra. Mas certamente em seu íntimo sentiu a dor da partida de seu amigo e precursor. Qualquer pessoa que tenha visto alguém com quem se importa morrer pode entender por que Jesus buscou a solidão quando soube da morte de João. Jesus viu no destino de João um prenúncio da cruz que estava no fim de sua vida na Terra. No entanto, como João, Jesus não se esquivou do custo de sua missão. João sai de cena, pois como ele mesmo havia dito ele devia diminuir para que Jesu pudesse crescer. Isso não significa que sua partida devesse ser de uma forma tão terrível. Mas a realidade espiritual por trás dos fatos é a que Jesus pôde vivenciar ao retirar-se. Constatou que João partiu da Terra, mas continuou presente em espírito, ele havia cumprido sua missão e deixava o palco para o que deveria seguir: a obra do Messias. Ao perceber a multidão que o seguia, não permitindo que pudesse ficar só em seu luto, poderíamos imaginar que lamentasse, mas ao contrário Jesus tem compaixão por aqueles que o buscam e, podemos dizer que ele honra o martírio de João ao continuar o seu trabalho e a sua missão, porque afinal era isso que João havia anunciado e indicado aquele que viria para tirar o pecado do mundo. Embora Jesus sofra a perda de seu querido amigo, seu sofrimento o capacita para cumprir seu trabalho. No meio de sua dor emocional, Jesus se voltou para fora, em vez de para dentro. Em vez de se entregar e pensar ‘ai de mim’, ele se volta para servir e amar as multidões. Na vida nós sofremos perdas, algumas muito dolorosas e é natural que nesses momentos queiramos apenas nos retirar para, no luto processar a perda. Mas a vida nem sempre permite essa retirada, ela continua com suas demandas. É necessário muita força de espírito para dar conta disso. Quando isso acontece podemos nos lembrar que aquele que sempre nos acompanha na alegria e no sofrimento nos consola, pois por experiência conhece o que sentimos. Ele é a fonte de onde retiramos força para continuar nossa jornada.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 18 de julho

“Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?’ Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que gosto’. Jesus lhe disse: ‘Cuida dos meus cordeiros’. E disse-lhe, pela segunda vez: ‘Simão, filho de João, tu me amas?’. Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que gosto’. Jesus lhe disse: ‘Apascenta minhas ovelhas’. Pela terceira vez, perguntou a Pedro: ‘Simão, filho de João, tu gostas de mim?’ Pedro ficou triste, porque lhe perguntou pela terceira vez se o amava. E respondeu: ‘Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que gosto’. Jesus disse-lhe: ‘Cuida das minhas ovelhas. Em verdade, em verdade, te digo: quando eras jovem, tu mesmo amarravas teu cinto e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te amarrará pela cintura e te levará para onde não queres ir’. Disse isso para dar a entender com que morte Pedro iria glorificar a Deus. E acrescentou: ‘Segue-me’.
Voltando-se, Pedro viu que também o seguia o discípulo que Jesus mais amava, aquele que na ceia se tinha inclinado sobre seu peito e perguntado: ‘Senhor, quem é que vai te entregar?’ Quando Pedro viu aquele discípulo, perguntou a Jesus: ‘E este, Senhor?’ Jesus respondeu: ‘Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa? Tu, segue-me’. Por isso, divulgou-se entre os irmãos que aquele discípulo não morreria. Ora, Jesus não tinha dito que ele não morreria, mas: ‘Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?’
Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e as pôs por escrito. Nós sabemos que seu testemunho é verdadeiro. Muitas outras coisas, porém, há ainda, que fez Jesus, as quais se se escrevessem uma por uma, creio que nem no mundo todo poderiam caber os livros que delas se houvessem de escrever.”

João 21, 15-25

Nesse final do Evangelho de João, Simão Pedro recebe a sua tarefa. Ele a recebe apesar de ter negado o Cristo três vezes. Apesar de não ter entendido a necessidade da passagem do Cristo pela morte. Como todos nós, Pedro tem dentro do seu ser, luz e sombra. Ele erra e nem sempre está no caminho certo. Mas, ele reconhece suas falhas e volta para o Cristo. Apesar dessas dificuldades, recebe uma tarefa importante. Cristo confia em Pedro e na possibilidade de seu desenvolvimento. Ele vê como Simão pode crescer com a tarefa.
Quando olhamos para a nossa biografia, vemos muitos momentos aonde erramos. Aonde não fizemos o necessário ou fizemos demais. Onde falhamos perante o outro ou perante nós mesmos. Isso nos pode deixar tristes e paralisados. Vemos mais a sombra do que a luz na nossa vida. Nesses momentos podemos nos lembrar de Pedro e da confiança do Cristo. Isso pode nos dar força para trabalhar nossos erros e superá-los. Os erros são uma grande possibilidade de nos desenvolvermos. Cabe a nós darmos os passos necessários. Pouco a pouco podemos nos fortalecer para realizar nossa tarefa de vida. Nela, o Cristo estará ao nosso lado.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 17 de julho

“Depois disso, Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades. A aparição foi assim: Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Gêmeo, Natanael, de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos dele. Simão Pedro disse a eles: ‘Eu vou pescar’. Eles disseram: ‘Nós vamos contigo’. Saíram, entraram no barco, mas não pescaram nada naquela noite.
Já de manhã, Jesus estava aí na praia, mas os discípulos não sabiam que era Jesus. Ele perguntou: ‘Filhinhos, tendes alguma coisa para comer?’ Responderam: ‘Não’. Ele lhes disse: ‘Lançai a rede à direita do barco e achareis’. Eles lançaram a rede e não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes.
Então, o discípulo que Jesus mais amava disse a Pedro: ‘É o Senhor!’ Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu e arregaçou a túnica (pois estava nu) e lançou-se ao mar. Os outros discípulos vieram com o barco, arrastando as redes com os peixes. Na realidade, não estavam longe da terra, mas somente uns cem metros.
Quando chegaram à terra, viram umas brasas preparadas, com peixe em cima e pão. Jesus disse-lhes: ‘Trazei alguns dos peixes que apanhastes’. Então, Simão Pedro subiu e arrastou a rede para terra. Estava cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e apesar de tantos peixes, a rede não se rasgou. Jesus disse-lhes: ‘Vinde comer’. Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu a eles. E fez a mesma coisa com o peixe. Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos.”

João 21, 1-14

Todas as noites dormimos. Nos despimos do nosso corpo e, como navegando num barco pelas ondas etéricas, procuramos no mundo espiritual a revitalização do corpo cansado, que ficou deitado na cama. Muitas vezes dormimos repletos de preocupações, mas também com a esperança de encontrar no sono um consolo: temos a esperança de acordar no outro dia com algo que nos possa dar uma orientação, com uma ideia que possa dar uma resposta para as perguntas que nos angustiam. Mas quantas vezes acordamos exaustos, como se não tivéssemos dormido, com a alma ainda repleta das mesmas preocupações que levamos ao sono, sem orientação, sem resposta, sem ânimo de levantar da cama. Às vezes trazemos da noite redes vazias.
Mas talvez, nesses momentos, quase antes de vestirmos o nosso corpo de novo, precisemos prestar atenção se alguém, além de nós e das nossas preocupações, está ali, na praia entre o mar etérico e a terra, no limiar entre a noite e o dia, esperando por nós. Quantas vezes não nos levantamos rápido demais, corremos para o nosso dia a dia, pensando em como conduzir a vida, mas na realidade sendo pressionado para seguir em frente, pressionados por tarefas e preocupações. Vale a pena fechar os olhos ao acordar e olhar para a praia, ver se Ele está lá. Quem sabe Ele, em silêncio, nos diz para qual lado devemos jogar a rede para, quem sabe, ainda conseguirmos pescar algo. Não precisa ser 153 peixes, pode ser apenas um, só um sentimento, um pensamento, um impulso; um peixe que nos mostre que não estamos sozinhos com as nossas preocupações. Quem já pescou assim, sabe a alegria que é, então, sentar-se na cama, sentir o calor das brasas no próprio coração e alimentar a alma com o peixe que Ele nos dá.

João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João, 16 de julho

“Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: ‘A paz seja convosco.’ E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor. Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: ‘A paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.’ E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e disse-lhes: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos.’
Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: ‘Vimos o Senhor.’ Mas ele disse-lhes: ‘Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.’
E oito dias depois estavam outra vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: ‘Paz seja convosco.’ Depois disse a Tomé: ‘Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente.’ E Tomé respondeu, e disse-lhe: ‘Senhor meu, e Deus meu!’ Disse-lhe Jesus: ‘Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.’
Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.”

João 20, 19-31

Tomé quer saber. O que os outros dizem a ele não é suficiente. Ele não quer basear sua crença na ressurreição de Jesus no que os outros dizem. Ele tem uma mente crítica, a base de seu conhecimento é a dúvida. Ele quer provas, evidências, uma base sólida para o conhecimento. No entanto, após o encontro com Jesus, ele expressa sua fé de uma forma muito mais contundente do que seus pares: “Meu Senhor e meu Deus”. Aquele que duvidava e era o mais cético torna-se o mais profundo crente. Na verdade ele não necessitou colocar o dedo na ferida e tampouco tocar o lado de Jesus, bastou para ele o convite de Jesus para fazê-lo. Não é nem o toque nem a visão que ajuda na crença, mas o encontro.
Tomé, nesse sentido é um precursor do ser humano moderno. Nós também não queremos basear nossa crença em ouvir dizer, nos relatos dos outros, nas convicções dos outros, em dogmas ou determinações alheias. Nós queremos crer a partir de nossa própria vivência, em liberdade. E, como demonstra a passagem do Evangelho de João, Jesus não faz objeção a isso e até se coloca à disposição para isso. E, apesar de criticar essa atitude dizendo “bem aventurados os que não viram e creram”, ele se colocou e se coloca à disposição para os que querem experimentar para crer, porque afinal esses não querem apenas crer, mas querem saber. Esse saber não será resultado de evidências materiais como o tocar e o ver físico, mas uma vivência interior, mais profunda do que qualquer evidência material.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 14 de julho

“Maria tinha ficado perto do túmulo, do lado de fora, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se para olhar dentro do túmulo. Ela enxergou dois anjos, vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Os anjos perguntaram: ‘Mulher, por que choras?’ Ela respondeu: ‘Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram’.
Dizendo isto, Maria virou-se para trás e enxergou Jesus em pé, mas ela não sabia que era Jesus. Jesus perguntou-lhe: ‘Mulher, por que choras? Quem procuras?’ Pensando que fosse o jardineiro, ela disse: ‘Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o colocaste, e eu irei buscá-lo’. Então, Jesus falou: ‘Maria!’ Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: ‘Rabûni!’ (que quer dizer: Mestre).
Jesus disse: ‘Não me segures, pois ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’. Então, Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: ‘Eu vi o Senhor’, e contou o que ele lhe tinha dito.”

João 20, 11-18

Maria Madalena está cheia de tristeza e voltada para a morte do Cristo Jesus. Ela está voltada para um acontecimento no passado e não está presente no momento do encontro. Isso a impossibilita de reconhecer o ressurreto. Ela conversa com ele e não percebe quem ele é. Somente quando é chamada pelo nome, consegue fazer uma ‘virada’ interna e reconhecer o Cristo. Ela está novamente presente e pode vivenciar o encontro.
Quantas vezes nós não estamos realmente presentes? Estamos voltados para o passado, para uma tristeza ou um machucado recebido. Isso nos impossibilita ver o novo que quer acontecer no momento. Em um encontro, uma conversa e a cada instante da vida.
Temos em nós uma instância capaz de chamar e dirigir o nosso eu cotidiano: nosso eu superior, nosso ser eterno. Ele está ligado à nossa tarefa na Terra e através dele o Cristo está presente em nossa vida. Ele pode nos chamar pelo nome como Cristo chamou Maria, para estarmos presentes e sempre abertos para o novo que quer se revelar e realizar no mundo.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 13 de julho

“E no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro. Correu, pois, e foi a Simão Pedro, e ao outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: ‘Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram.’
Então Pedro saiu com o outro discípulo, e foram ao sepulcro. E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais apressadamente do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. E, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia não entrou.
Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis, e que o lenço, que tinha estado sobre a sua cabeça, não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte.
Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu. Porque ainda não sabiam a Escritura, que era necessário que ressuscitasse dentre os mortos. Tornaram, pois, os discípulos para casa.”

João 20, 1-10

O discípulo que Jesus amava é mais rápido do que Pedro. Ele chega antes  e compreende antes – ele viu o túmulo vazio e creu na ressurreição de Cristo. Podemos nos perguntar: Por que Jesus o amava especialmente? Mas na verdade não se trata de ele ser amado especialmente, trata-se antes de ele estar mais bem preparado para compreender – ele está mais próximo de Jesus por seus próprios atributos e assim obtém dele um grau superior de compreensão. É, por essa razão que cultivamos um cristianismo joanino, pois sabemos que o discípulo amado não é outro senão João o Evangelista. O Cristianismo joanino pretende não ser apenas um Cristianismo de fé, mas um Cristianismo de compreensão. Não uma compreensão meramente intelectual, mas uma compreensão profunda que emana do coração. O ser humano moderno, com seu distanciamento de mais de 2000 anos desde os fatos descritos no Evangelho, prepara-se para uma nova etapa de compreensão daqueles fatos. Trata-se de uma compreensão a partir do indivíduo autoconsciente autônomo. Ele não crê por força da tradição, dos costumes ou por seguir dogmas, mas por sua própria vivência e proximidade com o Cristo que nele vive. Assim, podemos seguir nossos próprios passos de fé, em liberdade. Podemos receber de Cristo um novo impulso de motivação, de renovação e de confiança de que o nosso futuro depende dessa atitude positiva de compreensão. A partir dessa atitude, todos nós podemos ser os discípulos amados de Cristo.

Carlos Maranhão

Reflexão para o domingo, 12 de julho

Época de João Batista
Referente ao Perícope João 5, 31–38

Neste perícope Cristo fala de três formas de testemunhos verdadeiros. O testemunho do outro, das obras e do mundo espiritual. Essas três formas podem nós ajudar no caminho do desenvolvimento interno?
O que recebemos do outro como testemunho, é como um espelho para nós. Através do espelhamento percebemos os efeitos dos nossos pensamentos, sentimentos e ações no mundo. Eles podem estar em harmonia com o nosso redor ou criar conflitos. Assim recebemos em cada encontro um testemunho da nossa atuação no mundo. Isso pode nos ajudar no nosso desenvolvimento.
Com nossas obras podemos estar voltados para o mundo físico, para o material. Nesse caso elas provavelmente darão testemunho do nosso sucesso na vida, da nossa riqueza e da nossa posição social. Nossas obras também podem estar mais voltadas para o social e para o espiritual. Nesse caso, elas talvez não sejam visíveis no mundo, mas também darão testemunho sobre nós. Nossas obras dão testemunho de nosso caminho aqui na Terra. Eles podem nós lembar do foco da nossa vida, do nosso eu.
O mundo espiritual também dá testemunho de nós. Ele o dá da essência espiritual divina no eu de cada um de nós. De nosso potencial em sermos um ser espiritual encarnado na Terra e de transformarmos a Terra através do espiritual. Esse testemunho, recebemos incondicionalmente. A nossa tarefa é desenvolvermos esse potencial.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 11 de julho

“Depois disso, José de Arimateia pediu a Pilatos para retirar o corpo de Jesus; ele era discípulo de Jesus às escondidas, por medo dos judeus. Pilatos o permitiu. José veio e retirou o corpo. Veio também Nicodemos, aquele que anteriormente tinha ido a Jesus de noite; ele trouxe uns trinta quilos de perfume feito de mirra e de aloés. Eles pegaram o corpo de Jesus e o envolveram, com os perfumes, em faixas de linho, do modo como os judeus costumam sepultar. No lugar onde Jesus foi crucificado havia um jardim e, no jardim, um túmulo novo, onde ninguém tinha sido ainda sepultado. Por ser dia de preparação para os judeus, e como o túmulo estava perto, foi lá que eles colocaram Jesus.”

João 19, 38-42

Quem são os personagens colocados, pelo evangelista, nos últimos momentos onde os sentidos humanos puderam acompanhar o corpo físico de Jesus? José de Arimateia, discípulo de Cristo. Por medo dos judeus, até então não se revelara como tal. Nestes versículos, surge liberto de seus receios e quando todos os outros fogem, ele vai a Pilatos e pede o direito de depor o corpo da cruz e sepultá-lo. Ao longo dos séculos ele ficará intimamente ligado ao Santo Graal, à saga do rei Artur e os cavaleiros da távola-redonda. No cálice da Santa Ceia, onde Cristo transubstanciara vinho em sangue, José de Arimateia recolhe o sangue que ainda escorre do corpo deposto da cruz. Temos a imagem do corpo e do sangue de Cristo. Eucaristia.
Nicodemos, um dos chefes dos judeus e membro do sinédrio. Em João 3, 1-21 acompanhamos seu encontro com Cristo à noite, nas esferas espirituais e o vemos receber a indicação do novo nascimento; do alto, do espírito. Ele como dirigente dos judeus, pertence aos devotos e crentes cumpridores da lei. Nicodemos traz trinta quilos de mistura de Mirra e Aloé. Quantia suficiente para o funeral de um rei! Vemos o reconhecimento do raiar dos novos tempos. O mestre que reconhece em Cristo o rei dos reis. O mestre que sabe oque deve ser feito e atua. Ele está preparado para deixar as antigas esferas religiosas e adentrar a nova esfera que está nascendo. Um de seus legados foi a tradição oral, escrita nos anos 300 ou 400, o Evangelho de Nicodemos (Apócrifo). É o primeiro evangelho a falar sobre a vivência do Cristo na morte, daquilo que chamamos “descida aos infernos”. Este ser humano, um dos discípulos íntimos e esotéricos de Cristo, está nos primórdios do reconhecimento da atuação do Cristo no reino dos mortos.
Ambos estão no ponto de partida de uma corrente espiritual. Como guardiões do portal da nova era, nos enviam imagens para o prosseguimento de nossa evolução: Reconhecer o nascimento do alto, do espírito. Perceber o corpo e o sangue não somente como um símbolo sacramental, mas sim como uma verdade espiritual real. Adentrar os mistérios da morte, superação da morte e ressurreição.
Nos ligaremos cada vez mais à obra de José da Arimateia e Nicodemos ao meditarmos e tecermos pensamentos e sentimentos sobre este legado. Ao atuarmos com este conhecimento no mundo.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 10 de julho

“Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: ‘Mulher, eis o teu filho!’ Depois disse ao discípulo: ‘Eis a tua mãe!’ A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu. Depois disso, sabendo Jesus que tudo estava consumado, e para que se cumprisse a Escritura até o fim, disse: ‘Tenho sede!’ Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram num ramo de hissopo uma esponja embebida de vinagre e a levaram à sua boca. Ele tomou o vinagre e disse:
‘Está consumado’. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
Era o dia de preparação do sábado, e este seria solene. Para que os corpos não ficassem na cruz no sábado, os judeus pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas dos crucificados e os tirasse da cruz. Os soldados foram e quebraram as pernas, primeiro a um dos crucificados com ele e depois ao outro. Chegando a Jesus, viram que estava morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas, mas um soldado golpeou-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. (Aquele que viu dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; ele sabe que fala a verdade, para que vós, também, acrediteis.) Isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura que diz: ‘Não quebrarão nenhum dos seus ossos’. E um outro texto da Escritura diz: ‘Olharão para aquele que traspassaram’.”

João 19, 25-37

As últimas palavras de Jesus Cristo na cruz foram: “está consumado”.
Quando nós celebramos o culto da Comunidade de Cristãos, as primeiras palavras que falamos são: “Consumemos dignamente o Ato de Consagração do Homem”.
Toda criação tem a sua origem no divino, assim como também nós, seres humanos. No princípio estávamos unidos com o divino, fato que encontramos na Bíblia, no relato sobre o paraíso. A natureza poderia ter permanecido nessa ligação. Mas não o ser humano, pois, para desenvolver a sua liberdade, foi necessário que ele se separasse do divino e deixasse o paraíso. Ao sair do paraíso levamos conosco toda a natureza. A natureza tem a sua origem em Deus, mas hoje, como a encontramos em nosso derredor, ela se apresenta como obra divina, como a consequência da criação que ocorreu no princípio. Hoje, a potência criadora divina não atua mais diretamente na natureza; a obra divina se repete nos processos naturais.
Mas a natureza não tem, em si, a possibilidade de voltar a se unir com a sua origem divina. Apenas nós, seres humanos, temos essa possibilidade de, em liberdade, nos unirmos com o divino. E, por termos levado a natureza, no caminho de separação da origem divina, temos a responsabilidade de levá-la conosco, no caminho de unirmo-nos novamente com o divino. Este processo de unir um ser à sua origem divina, seja nós mesmos ou um ser da natureza, é o que chamamos de consagração. Consagrar algo é possível por um culto religioso, seja a consagração de substâncias ou de uma igreja, e também a consagração de um sacerdote. Mas todos nós, quando celebramos o culto, almejamos unir a nossa existência terrestre com a realidade divina, consagrando assim o ser humano. Consagrar algo é possível pela arte, quando num processo realmente artístico, uma realidade espiritual pode manifestar-se numa expressão sensorial, consagrando o nosso dia a dia pela criatividade. Consagrar algo também é possível pelo conhecimento, quando procuramos reconhecer que o divino espiritual criou o mundo, nele atua como obra, mas vive como ideia que pode ser pensada por nós. Ideia que podemos unir com a percepção do mundo, no momento do processo espiritual do conhecimento. Consagramos o mundo unindo, em nossa consciência, a percepção com a ideia. Religar o homem e a natureza com sua origem divina, seja pela religião, pela arte ou pela ciência, tornou-se possível porque o Cristo consumou essa religação pela sua vida e morte na Terra. Um ser divino se une conosco e consuma a possibilidade de nós, em liberdade, nos unirmos a Ele.  Aquilo que falamos no início de nosso culto é, na realidade, a meta para a nossa vida, em qualquer momento, em qualquer lugar. Que o nosso esforço seja realmente dedicado a consumar o ato de consagração do homem.

João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João, 9 de julho

“Carregando a sua cruz, ele saiu para o lugar chamado Calvário (em hebraico: Gólgota). Lá, eles o crucificaram com outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio. Pilatos tinha mandado escrever e afixar na cruz um letreiro; estava escrito assim: ‘Jesus de Nazaré, o Rei dos Judeus’. Muitos judeus leram o letreiro, porque o lugar onde Jesus foi crucificado era perto da cidade; e estava escrito em hebraico, em latim e em grego. Os sumos sacerdotes disseram então a Pilatos: ‘Não escrevas: ‘O Rei dos Judeus’, e sim: ‘Ele disse: Eu sou o Rei dos Judeus’’. Pilatos respondeu: ‘O que escrevi, escrevi’.
Depois que crucificaram Jesus, os soldados pegaram suas vestes e as dividiram em quatro partes, uma para cada soldado. A túnica era feita sem costura, uma peça só de cima em baixo. Eles combinaram: ‘Não vamos rasgar a túnica. Vamos tirar sorte para ver de quem será’. Assim cumpriu-se a Escritura: ‘Repartiram entre si as minhas vestes e tiraram a sorte sobre minha túnica’. Foi isso que os soldados fizeram.”

João 19, 17-24

Nos capítulos 18 e 19 do Evangelho de João, Pôncio Pilatos tenta descobrir a verdade sobre o Cristo. Ele conversa com Jesus e com os judeus. Sua busca passa pela pergunta: “O que é a verdade?”, segue ao reconhecer o “Ecce homo” e chega até a frase do letreiro na cruz. Nesse caminho Pilatos descobre pelo menos uma parte do ser do Cristo. Ele tenta liberá-lo, mas não tem a força de se opor aos judeus. Ele não tem a segurança interior para transformar em ação sua percepção da verdade. Só no final deste processo, ele pronuncia a frase, manda colocar o letreiro na cruz e mantém sua decisão.
Podemos seguir o caminho de Pilatos e procurar a verdade através da força do pensar e do sentir. Pouco a pouco descobriremos partes da verdade universal. Mas o exemplo de Pilatos nos mostra que precisamos de uma terceira força: a força da vontade.
A busca da verdade ganha sentido ao permear nossa vida e mudar nossas ações. Ao conseguirmos trazê-la para a Terra e para o nosso dia a dia. Ao colocarmo-la em prática. Este pode ser um caminho árduo e solitário, porque precisamos mudar nossos hábitos e pensamentos. Só é possível nos transformar e não ao outro. Os passos que conseguirmos fazer, em sua maioria, serão pequenos. Mas podemos ter a certeza da ajuda das forças espirituais nesse caminho.

Julian Rögge