Reflexão sobre o Evangelho de João, 9 de maio

“Alguns de Jerusalém diziam: ‘Não é este a quem procuram matar? Olha, ele fala publicamente e ninguém lhe diz nada. Será que os chefes reconheceram que realmente ele é o Cristo? Mas este, nós sabemos de onde é. O Cristo, quando vier, ninguém saberá de onde é.’
Enquanto, pois, ensinava no templo, Jesus exclamou: ‘Sim, vós me conheceis, e sabeis de onde eu sou. Ora, eu não vim por conta própria; aquele que me enviou é verdadeiro, mas vós não o conheceis. Eu o conheço, porque venho dele e foi ele quem me enviou!’
Eles procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos, porque ainda não tinha chegado a sua hora. Da multidão, muitos acreditavam nele, e comentavam: ‘Quando vier o Cristo, acaso fará mais sinais do que este?’”

João 7, 25-31

Sabemos de onde vem as pessoas que encontramos? Normalmente conhecemos seu nome, talvez sua profissão, o nome dos pais e o local de nascimento. Às vezes sabemos mais detalhes da sua vida… Assim entendemos de onde vem uma pessoa?
Todos viemos do mundo espiritual e temos uma essência espiritual. Ela se expressa em nossos ideais e vocação. Ela é o fundamento da nossa individualidade. Mas, essa essência pouco se revela através do nome ou descendência.
Sabemos de onde vem o outro? Normalmente conhecemos bem pouco seu ser espiritual. Dele, talvez tenhamos somente um vislumbre. Mas podemos nos desfazer de tudo oque acreditamos saber do outro e ao encontrá-lo, ter a pergunta interna: Quem és tu? De onde viestes? Assim criamos espaço para o ser espiritual do outro se revelar. Para ele se tornar visível no encontro e no diálogo. Através dele se revelará aquele que nos enviou para a Terra e nos deu a nossa missão: o Cristo.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 8 de maio

“Mas, no meio da festa subiu Jesus ao templo, e ensinava. E os judeus maravilhavam-se, dizendo: ‘Como é que ele sabe tanto, não tendo estudado?’
Jesus lhes respondeu, e disse: ‘O que ensino não vem de mim, mas daquele que me enviou. Se alguém quiser fazer a vontade dele, pelo mesmo ensinamento conhecerá se ele é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo. Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça. Não vos deu Moisés a lei? E nenhum de vós observa a lei. Por que procurais me matar?’
A multidão respondeu, e disse: ‘Tens demônio; quem procura matar-te?’
Respondeu Jesus, e disse-lhes: ‘Fiz uma só obra, e todos vos maravilhais. Pelo motivo de que Moisés vos deu a circuncisão (não que fosse de Moisés, mas dos pais), no sábado circuncidais um homem. Se o homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja quebrantada, indignai-vos contra mim, porque no sábado curei de todo um homem? Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça.’”

João 7, 14-24

Não sabemos exatamente o que Jesus ensinava. Mas seu sermão deve ter sido cheio de força e vida. Ninguém tinha nada para opor à sua autoridade, exceto os líderes religiosos. Como ele ousava pregar seu sermão no templo sem nunca ter tido lições de nenhum dos mestres de teologia? Primeiro, o fato de os ensinamentos de Jesus serem de Deus. “Jesus lhes respondeu, e disse: O que ensino não vem de mim, mas daquele que me enviou”. Este foi o ensinamento de Jesus acima de toda a sabedoria humana. As palavras de Jesus estavam acima das críticas. Como seu ensino era de origem divina, suas palavras eram absoluta verdade, intocável e eterna. “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pelo mesmo ensinamento conhecerá se ele é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo”. Ou seja, todos aqueles que desejam sinceramente fazer a vontade de Deus, terão a capacidade de saber se os ensinamentos de Jesus eram realmente de Deus, o reconhecimento de sua verdade depende da sinceridade do coração humano. Reconhecer a verdade em Cristo não tem nada a ver com educação religiosa ou posições políticas. Isso só tem a ver com a natureza do nosso coração. Se temos um desejo sincero de fazer a vontade de Deus, temos as condições ideais para conhecer a verdade em Cristo. A verdade de Jesus pode, portanto, ser testada e experimentada em nossos corações, não digo em nosso cérebro, mas num pensar do coração. “Quem fala de si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça”. Aqui estava outra indicação da autenticidade de Jesus. Ele nunca buscou sua própria glória, mas sempre a glória de Deus. Ele nunca buscou reconhecimento humano. Vemos seu completo desapego quando ele orou na cruz: “Pai, perdoai-lhes porque eles não sabem o que fazem.” Ele era a única pessoa que, com tudo o que tinha e o que era, estava completamente desinteressadamente comprometido com a glória de Deus. Isso o tornou absolutamente credível e autêntico. Eis o sumo critério para nossa busca da verdade e da justiça, sobretudo em tempos em que somos bombardeados por opiniões diversas, semiverdades e “fake-news”. Qual é o antídoto para uma concertada lavagem cerebral à qual querem submeter-nos os “poderosos de plantão?”: Ouvir a voz de Deus no próprio coração.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 7 de maio

“Depois disso, Jesus percorria a Galileia; não queria andar pela Judeia, porque os judeus procuravam matá-lo. Estava próxima a festa dos judeus: A Festa das Tendas. Os irmãos de Jesus disseram-lhe:‘Sai daqui e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Ninguém faz algo em segredo quando procura ser publicamente conhecido. Já que fazes essas coisas, manifesta-te ao mundo’. Pois nem os seus irmãos acreditavam nele.
Jesus, então, disse a eles: ‘Ainda não chegou o tempo certo para mim. Para vós, ao contrário, é sempre o tempo certo. A vós, o mundo não pode odiar, mas a mim odeia, porque eu dou testemunho dele, mostrando que suas obras são más. Vós podeis subir para a festa. Eu não subo para esta festa, porque meu tempo ainda não se cumpriu’. Dito isso, permaneceu na Galileia. Depois que seus irmãos subiram para a festa, Jesus subiu também, não publicamente, mas em segredo. Os judeus, no entanto, o procuravam na festa e perguntavam: ‘Onde está ele?’ Muito se murmurava a seu respeito no meio do povo. Uns diziam: ‘Ele é bom!’, outros: ‘Não, ele engana a multidão!’ Ninguém, entretanto, falava dele publicamente, por medo dos judeus.”

João 7, 1-13

Como um mosaico espiritual se nos apresenta o evangelho de João. Cada peça, colocada com precisão no lugar que só a ela pertence, forma uma magnífica composição de cores e formas. Nada está ali por acaso. Observar e compreender este mosaico espiritual, requer algumas vezes, olhar para o todo da obra, outras para os detalhes. Abrindo o capítulo, temos: “Estava próxima a festa dos judeus: A Festa das Tendas”. O que nos diz essa peça do mosaico?

סוכות. Sukkōt. Festa das Tendas. Tabernáculo
Em seus primórdios era um festejo realizado no início do outono para agradecer a Deus a colheita do ano e pedir o envio das águas para o próximo cultivo. Durante o período da colheita, as cabanas eram erguidas nos campos. Elas protegiam do sol do meio dia, serviam para festejos e também para o pernoite.
Com a fuga do Egito e os quarenta anos de peregrinação no deserto, a Festa das Tendas é acrescida de significado. Recordar e vivenciar a época onde o povo judeu viveu como nômade em tendas simples e recebia alimento e água enviados por Deus. Eram (e são) erguidas tendas ao ar livre constituídas de palha ou folhagem, que possibilitavam ver o céu. Por sete dias o povo vivia nas cabanas construídas. Pela manhã fluía uma imensa multidão para a piscina de Siloé. Sacerdotes enchiam um grande jarro de ouro com as águas da piscina e seguiam em procissão atravessando o vale do Quidrom até o átrio do templo, onde se reuniam na grande esplanada. Lá chegando, todos soltavam gritos de alegria e o sacerdote realizava a oblação. Para finalizar, ele despejava a água da piscina de Siloé em uma vasilha com furos. A água saltava dos diversos furos e molhava o local próximo. Depois, ele vertia vinho em uma vasilha de prata e assim como deixava, de certa forma, a fonte de água borbulhar para o oeste; ele deixava fluir o vinho da vasilha de prata para o leste, aspergindo o povo com esta bebida do sacrifício.
Esta é uma pequena pedrinha do mosaico.
Para esse imenso festejo os irmão de Jesus queriam que ele se dirigisse. Queriam que ele se mostrasse como o Messias em sua majestosidade. Eles ainda aguardavam o dia onde ele se revelaria como o Salvador do povo judeu. Ainda não haviam percebido que a missão do Messias era (é) a salvação da humanidade.
Ele sabiamente responde: “Ainda não chegou o tempo certo para mim”, e pouco depois – “Meu tempo ainda não se cumpriu.”
Assim como os grãos de trigo precisam amadurecer em suas hastes douradas, precisam ser colhidos, malhados, moídos para serem transformados em farinha, em pão; aquele que veio a ser o Pão da vida necessitou seu período de amadurecimento. Encarnou seu Ser Solar no corpo físico de Jesus, para somente depois passar pelo martírio, morte e ressurreição. Aparecer abertamente como Ser Solar no festejo do Sukkot, seria como um Domingo de Ramos prematuro. E sabemos que o caminho de Jesus de Nazaré é o oposto almejado por muitos que não o compreendiam. Em lugar das riquezas físicas, a pobreza, em lugar do culto ao ego, o equilíbrio do eu superior, em lugar de ser um rei na Terra, um servo do Deus Pai.
Este Ser permeia a festa do Sukkot de maneira invisível.
Uma bela imagem para nós, seres humanos modernos: As cabanas construídas não tem compartimentos e são bem pequenas, ela obriga quem ali habita (por sete dias) a se aproximar física e afetivamente. As cabanas são construídas de maneira que se possa ver as estrelas. Entra chuva e vento, mas também a luz do sol. Ela é simples, sem luxo algum e perene, efêmera.
Podemos formar cabanas com nossos familiares, grupos de amigos, nossos próximos. Elas nos unem em fraternidade e calor humano. No teto translúcido, sob nossas cabeças, as estrelas, o mundo divino espiritual será evocado em orações de gratidão, pedidos de proteção e esperançar pela redenção de todos nós. Ao raiar o dia o Ser Solar, agora sim visível e perceptível, virá, e preencherá nossos corações com centelhas de amor.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 5 de maio

“Jesus falou estas coisas ensinando na sinagoga, em Cafarnaum. Muitos discípulos que o ouviram disseram então: ‘Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?’ Percebendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso, Jesus perguntou:
‘Isso vos escandaliza? Que será, então, quando virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? O Espírito é que dá a vida. A carne para nada serve. As palavras que vos falei são Espírito e são vida. Mas há alguns entre vós que não creem’. Jesus sabia desde o início quem eram os que acreditavam e quem havia de entregá-lo. E acrescentou: ‘É por isso que eu vos disse: ‘Ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai’’.
A partir daquele momento, muitos discípulos o abandonaram e não mais andavam com ele. Jesus disse aos Doze: ‘Vós também quereis ir embora?’ Simão Pedro respondeu: ‘A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus.’ Jesus respondeu: ‘Não vos escolhi a vós, os Doze? Contudo, um de vós é um diabo!’ Ele falava de Judas, filho de Simão Iscariotes, pois este, um dos Doze, iria entregá-lo.”

João 6, 59-71

Nesse trecho do evangelho percebemos como as palavras de Jesus eram fortes. Nem todos dos seus discípulos conseguiram ouvir, entender e suportá-las. Eles ficaram escandalizados e deixaram de segui-lo. Só o círculo mais próximo de Jesus, os doze que ele havia escolhido, ficou. Nesse momento tenso, Simão Pedro reconhece o Cristo:
“Tu tens palavra de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus.”
Ele vê se revelar em Jesus, o Cristo, o Logos, o Verbo divino que em tudo atua desde o princípio. E que tem o poder de dar a vida eterna.
Cada um de nós, tem em si, um sopro do Verbo divino. Percebemos isso em nossa palavra: ela tem bastante poder. Com ela machucamos ou curamos, transmitimos amor ou ódio. O que falamos entra direto no coração do outro e pode ferir ou sanar imediatamente. A palavra é mais poderosa que qualquer arma ou qualquer remédio. Como cultivar esse sopro do divino em nós? Como trazer cada vez mais a palavra sanadora para o mundo?
Ao reconhecermos a força de nossas palavras e sua potência em ferir ou sanar, cuidaremos melhor do que falamos. E podemos nos abrir para o Verbo divino, para o Cristo. Em cada oração e meditação damos espaço para Ele em nossa alma. Assim seguiremos o caminho do apóstolo Paulo: “Não eu, mas o Cristo em mim.” Isso nos traz a possibilidade de deixar fluir sempre mais a vida do Cristo através das nossas palavras.

Julian Rögge

Reflexão para o Domingo, 3 de maio

Reflexão para o domingo, 3 de maio de 2020
Referente ao pericópio João 15

O primeiro milagre de Jesus relatado por João aparece no segundo capítulo, na passagem conhecida como as “Bodas de Caná”. Ali aparece um problema:
“Eles não têm vinho!” (João 2,3)
Maria, mãe de Jesus, é a pessoa que lhe chama a atenção para o que está acontecendo. Mas, o que de fato está acontecendo? A falta de vinho pode ser aqui entendida como a falta do elemento que traz alegria à festa, que deixa as emoções fluírem com mais facilidade, que de certa maneira, favorece a aproximação e a confraternização entre as pessoas. Se ‘falta o vinho’, significa que algo no contexto social pode estar em risco de deixar de fluir bem, pode estar a ponto de estancar ou de estagnar. Todos conhecemos bem aqueles momentos em festas, em reuniões de pessoas, ou mesmo no trabalho ou na família, nos quais às vezes a conversa ‘estanca’, ou surge uma tensão ou problema que ‘paralisa’. Em momentos assim é nítido que o elemento cordial, produtivo e benéfico da conversa deixa de fluir, ou seja, em outras palavras: ‘terminou o vinho’. Se não aparece alguém mais inspirado para motivar o grupo e retomar o fluxo da festa ou da reunião, pode ser que os presentes silenciem, que se tornem mais introspectivos, que se isolem uns dos outros. Dependendo da situação, pode também surgir desarmonias ou desavenças e se passa de um diálogo para uma discussão. Neste caso também poderíamos dizer que ‘acabou o vinho’, pois o que começa a fluir tende a ter um gosto mais próximo do fel.
Poder-se-ia olhar para a atualidade e perguntar: Acabou o vinho? Algo no fluir da vida humana estancou? Na saúde, na educação, nas atividades laborais e econômicas, nas artes e no lazer, nas relações entre as pessoas de uma mesma família ou entre amigos, tudo, de repente, foi interrompido, nos isolamos, nos afastamos uns dos outros. Talvez a pandemia seja, não a causadora de tudo, mas o fator que colocou em evidência algo que há muito se percebia: vinha faltando o vinho fraterno nas relações humanas.
A vinda de Cristo ao mundo é para trazer de novo “vinho”, pois o que temos está se acabando. Mas este novo vinho surge de outra maneira:  “Água foi vertida nas talhas de pedra” (João 2,6) para depois ser servida. Uma indicação que Seu Vinho, é mais sutil, flui, translúcido como a água, mas é percebido com agrado quando provado. O trecho que nos propomos meditar neste domingo, João 15, traz a última das sete frases de Cristo que se iniciam com as palavras: “Eu Sou”. Aproximando-se da culminação do evangelho, o Evangelista João nos apresenta neste capítulo a imagem que complementa o primeiro milagre descrito nas Bodas de Caná: “Eu Sou a videira verdadeira.” “Vós sois os ramos.”
Cristo almeja que força e impulsos espirituais possam ser vertidos na humanidade como um vinho novo, mas, para tanto, é necessário que encontre os ‘ramos’ por onde possam fluir, ramos que produzam frutos. Com estes frutos a humanidade poderá começar a suprir a falta do vinho da tradição, das forças naturais e espirituais que nos nutriram até o presente. Está cada vez mais claro para muitas pessoas, que para prosseguirmos numa direção evolutiva em nosso mundo é urgente encontrar o vinho novo, um novo caminho nos encontros humanos, na vida econômica, na relação com a natureza.
Este vinho não surgirá pronto, ele poderá surgir a partir de cada ser humano que queira se conectar com a videira primordial e verdadeira, e que assim aprenda a produzir a partir de si os frutos que serão colocados a disposição da coletividade humana. A pergunta mais urgente não é, portanto, em que momento a quarentena ou o isolamento social terminarão, mas se a partir da experiência de tudo que vivemos nos últimos tempos conseguiremos ser capazes de produzir frutos que possibilitarão, como vinho novo, a transformação positiva que a humanidade necessita.

Renato Gomes

Reflexão sobre o Evangelho de João, 2 de maio

“No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar notou que antes havia aí um só barco e que Jesus não tinha entrado nele com os discípulos, os quais tinham partido sozinhos. Entretanto, outros barcos chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças. Quando a multidão percebeu que Jesus não estava aí, nem os seus discípulos, entraram nos barcos e foram procurar Jesus em Cafarnaum. Encontrando-o do outro lado do mar, perguntaram-lhe: ‘Rabi, quando chegaste aqui?’
Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade, vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes saciados. Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até à vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois a este, Deus Pai o assinalou com seu selo.’
Perguntaram então: ‘Que devemos fazer para praticar as obras de Deus?’
Jesus respondeu: ‘A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou.’
Eles perguntaram: ‘Que sinais realizas para que possamos ver e acreditar em ti? Que obras fazes? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: ‘Deu-lhes a comer o pão do céu.’’
Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade, vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu. É meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.’
Eles então pediram: ‘Senhor, dá-nos sempre desse pão!’
Jesus lhes disse: ‘Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede. Contudo, eu vos disse que me vistes, mas não credes. Todo aquele que o Pai me dá, virá a mim, e quem vem a mim eu não lançarei fora, porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia.
Esta é a vontade do meu Pai: quem vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia.’”

João 6, 22-40

E Jesus disse: “O pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.”
“Eu sou o pão da vida.”
Ali estava o Filho de Deus, encarnado em um corpo humano, a ensinar, curar e dar livremente sua vida em sacrifício para sanar a humanidade. O pão da vida entregou-se à morte, desceu ao mundo dos mortos, resgatou as almas humanas que já não ascendiam às alturas espirituais e venceu a morte. Seu corpo transubstanciado ligou-se eternamente à Terra, seu corpo e a Terra são apenas um. O que nos sacia não é mais somente o pão de Deus que desce dos céus à Terra. É o pão que passa pela dor, morte e trevas. É o pão que transmuta a dor, a morte e as trevas. Pois nós vivemos em dor, morte e trevas, aprisionados em um corpo físico, esperançando a redenção. O que nos alimenta é termos o pão da vida como irmão. Cristo caminha à nossa frente em seu corpo ressurrecto. Ao irmos a seu encontro, nunca mais teremos fome. Este caminhar requer ser praticado diariamente.
“Que devemos fazer para praticar as obras de Deus?” “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou. Quem crê em mim nunca mais terá sede.”
“Porque a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna.” (João 4, 14)
Ao caminharmos em sua direção, ele vem ao nosso encontro e nos alimenta com suas forças – o pão da vida. Ao crermos nele, ele nos dá água viva.
A cada passo de nossa jornada interior rumo ao Cristo, podemos pronunciar como oração: “Senhor, dá-nos sempre desse pão.”
Tomemos tento: dá-nos. Oro também para meus irmãos, para todos que sofrem e talvez não tenham forças para unir as mãos em prece e rezar.

“Senhor dá-nos sempre desse pão.”

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 1 de maio

“Ao anoitecer, os discípulos desceram para a beira-mar. Entraram no barco e foram na direção de Cafarnaum, do outro lado do mar. Já estava escuro, e Jesus ainda não tinha vindo a eles. Soprava um vento forte, e o mar estava agitado. Os discípulos tinham remado uns cinco quilômetros, quando avistaram Jesus andando sobre as águas e aproximando-se do barco. E ficaram com medo. Jesus, porém, lhes disse: ‘Eu sou. Não tenhais medo!’ Eles queriam receber Jesus no barco, mas logo o barco atingiu a terra para onde estavam indo.”

João 6, 16-21

No começo do sesto capítulo, Jesus Cristo realizou o sinal da alimentação dos 5000. Isso aconteceu em uma montanha, em um âmbito especial: “Jesus subiu a montanha e sentou-se lá com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Levantando os olhos e vendo uma grande multidão que vinha a ele (…)” João 6, 3-5. A multidão recebeu uma alimentação espiritual.
Agora os discípulos voltam desta situação. Descem a montanha, entram em um barco e estão no mar. Já estava escuro pois a noite havia chegado. A descrição nos indica o lado espiritual desse momento. Eles estão na água. Ela está ligada às forças da vida, as forças vitais. No ser humano as forças vitais estão próximas a alma. Por um lado ela está ligada a esse âmbito e por outro ao nosso espírito. A descrição ‘já estava escuro’ aponta para o âmbito do espírito no qual nós entramos todas as noites. Eles estavam no mar, entre os acontecimentos da montanha e a terra firme na qual queriam chegar. As esferas vitais e do espírito pelas quais passavam estavam agitadas. Nessa situação o Cristo os encontrou, andando sobre o mar. O Cristo aparece para eles no âmbito das forças vitais. Nesse âmbito os discípulos não tinham segurança e estavam amedrontados. Ao contrário deles Cristo está pleno e responde da profundidade de seu ser:
“Eu sou. Não tenhais medo”. O mar se acalma e no mesmo instante eles chegam ao outro lado. O Cristo está seguro em todas as esferas e pode dominá-las.
Sentimos insegurança e medo no âmbito da alma e do espírito? Como ganhamos segurança nessas esferas? O Cristo nos mostra o caminho através do ‘Eu sou’. Ele está seguro em seu ser, em seu eu. Precisamos fortalecer nosso eu, e aproximá-lo cada vez mais da parte eterna de nosso ser para ganhamos segurança nesses âmbitos. Isso fazemos quando estamos ativos internamente em nosso eu: Superando os desafios da vida, olhando e trabalhando os sentimentos da nossa alma e entrando no reino espiritual através da oração e da meditação. E, como os discípulos no barco, nesse caminho para consolidar nosso eu, podemos sempre contar com a ajuda do Cristo.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 30 de abril

“Depois disto partiu Jesus para o outro lado do mar da Galileia, que é o de Tiberíades. E grande multidão o seguia, porque via os sinais que operava sobre os enfermos. E Jesus subiu ao monte, e assentou-se ali com os seus discípulos.
E a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima. Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha ter com ele, disse a Filipe: Onde compraremos pão, para estes comerem? Mas dizia isto para o experimentar; porque ele bem sabia o que havia de fazer. Filipe respondeu-lhe: Duzentos dinheiros de pão não lhes bastarão, para que cada um deles tome um pouco.
E um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe: Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?
E disse Jesus: Mandai assentar os homens. E havia muita relva naquele lugar. Assentaram-se, pois, os homens em número de quase cinco mil.
E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos pelos que estavam assentados; e igualmente também dos peixes, quanto eles queriam. E, quando estavam saciados, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca.
Recolheram-nos, pois, e encheram doze alcofas de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido. Vendo, pois, aqueles homens o milagre que Jesus tinha feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo. Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem rei, tornou a retirar-se, ele só, para o monte.”

João 6, 1-15

Os sinais no Evangelho de João tem a função de levar os seres humanos a reconhecer as forças espirituais que atuam nele e apontam, portanto, para uma realidade superior. Assim, cada passagem do relato é significativa para auxiliar-nos na compreensão dessa realidade. “E Jesus subiu ao monte, e assentou-se ali com os seus discípulos”. Ele os leva a um estado de consciência superior.
De lá vê a multidão que o segue e que tem fome. A multidão não o segue porque tem fome de pão, mas porque tem fome de espírito. Nós vivenciamos isso a cada noite quando dormimos, que o nosso corpo é alimentado de forças espirituais que atuam em nosso sono, sem as quais não sobreviveríamos. Da mesma forma são forças espirituais do Cristo que atuam no pão e no vinho na transubstanciação do pão e do vinho no ato cúltico. O comer e beber são expressões externas da comunhão com o Cristo. Podemos ver então o paralelo desse sinal com o relato da última ceia na Semana Santa da Paixão de Cristo. Se o sinal, fosse apenas o milagre da multiplicação dos pães, com o mero propósito de mostrar a força de Cristo em poder alimentá-los para atender a necessidade física dos que o seguem, a história seria pequena e pobre em significado. As pessoas que o seguem descobrem o que de fato os nutre e preenche, pois veem nele a fonte da vida e o princípio da abundância. Ele é abundante com todo o seu ser. Cinco mil estarão saciados – indicando que toda a humanidade pode ser saciada, à condição de que o busque, porque Ele nos da esperança e nos mantém vivos agora e sempre.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 28 de abril

“Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro. Há outro que testifica de mim, e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro. Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade. Eu, porém, não recebo testemunho de homem; mas digo isto, para que vos salveis. Ele era a candeia que ardia e alumiava, e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz.
Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que eu faço, testificam de mim, que o Pai me enviou. E o Pai, que me enviou, ele mesmo testificou de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes o seu parecer. E a sua palavra não permanece em vós, porque naquele que ele enviou não credes vós. Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam; e não quereis vir a mim para terdes vida.
Eu não recebo glória dos homens; mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu Pai, e não me aceitais; se outro vier em seu próprio nome, a esse aceitareis. Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem.”

João 5, 31-44

 

Apesar do texto do Evangelho de João ser bastante complicado e possa nos parecer algo abstrato, ele toca em um tema bem atual: a verdade e as fake news.
Os historiadores e sociólogos dão nomes para períodos da história da humanidade caracterizando a qualidade da sociedade de então. Houve a época da modernidade, seguida depois da época pós-moderna. Há alguns anos fala-se que a humanidade entrou em uma nova época: a época da pós-verdade. Estamos vivendo uma realidade a qual não havia antes: a verdade está perdendo a sua importância. Sempre houve a mentira, mas ela sempre foi considerada algo errado por si. Sempre houveram pessoas que procuraram, a partir de mentiras, conquistar o poder. Mas elas sempre procuraram esconder a mentira. Agora está se tornando cada vez mais algo normal que se manipule a realidade por mentiras evidentes. Se torna sempre mais difícil punir alguém por ter mentido conscientemente. Ainda que se esteja produzindo inquéritos para agir contra fake news, todos sabem que os diferentes grupos usam esse caminho para manipular e atingir o poder. Nesse contexto se torna muito atual e existencial a pergunta: quem dá testemunho pela verdade? Já não podemos esperar que pessoas que ocupam cargos importantes na nossa sociedade sejam aquelas que dão testemunho da verdade, nem dos meios de comunicação que têm como tarefa nos informar sobre o que realmente acontece. Com certeza ainda há pessoas em cargos públicos que almejam serem testemunhas da verdade. Mas infelizmente cada vez mais raras são essas pessoas e, para elas, se tornou quase impossível não fazer parte de um sistema pós-verdade.
E quanto mais nos falta o testemunho da verdade na sociedade, tanto mais temos que encontrar em nós mesmos algo que nos ofereça uma orientação para aquilo que sentimos como verdade. A pergunta mais importante hoje não é: onde posso encontrar alguém que dê o testemunho da verdade? Hoje a pergunta mais importante é: podemos tomar a decisão de nos comprometermos com a verdade, de sermos nós mesmos, cada um de nós, no âmbito social que o destino nos colocou, uma testemunha da verdade?

João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João, 27 de abril

“Jesus então deu-lhes esta resposta: ‘Em verdade, em verdade, vos digo: o Filho não pode fazer nada por si mesmo; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho o faz igualmente. O Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que ele mesmo faz. E lhe mostrará obras maiores ainda, de modo que ficareis admirados.
Assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, o Filho também dá a vida a quem ele quer. Na verdade, o Pai não julga ninguém, mas deu ao Filho o poder de julgar, para que todos honrem o Filho assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade, vos digo: quem escuta a minha palavra e crê naquele que me enviou possui a vida eterna e não vai a julgamento, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade, vos digo: vem a hora, e é agora, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem viverão. Pois assim como o Pai possui a vida em si mesmo, do mesmo modo concedeu ao Filho possuir a vida em si mesmo. Além disso, deu-lhe o poder de julgar, pois ele é o Filho do Homem. Não fiqueis admirados com isso, pois vem a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão sua voz, e sairão. Aqueles que fizeram o bem ressuscitarão para a vida; e aqueles que praticaram o mal, ressuscitarão para a condenação. Eu não posso fazer nada por mim mesmo. Julgo segundo o que eu escuto, e o meu julgamento é justo, porque procuro fazer não a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou’.”

João 5, 19-30

No versículo anterior (Jo 5, 18) temos: “Por isso, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, pois, além de violar o sábado, chamava a Deus de Pai, fazendo-se igual a Deus”
Nos versículos que se seguem, Jesus evidencia ainda mais sua qualidade de Filho de Deus. Para o povo judeu, que até então vivia das forças das Escrituras Sagradas, de onde não podiam nem mesmo pronunciar o nome de Deus, (3° mandamento: “Não falarás o nome de teu Deus em vão”), ouvir uma pessoa dizer-se Filho de Deus, era uma blasfêmia.
Jesus é o expoente de uma nova ordem cósmica. A partir de então, o Filho pode fazer oque o Pai faz. Ao Filho foi entregue a chave dos destinos humanos. E o Filho nos oferece o livre-arbítrio para escutarmos ou não a sua palavra e crermos, ou não no Pai. No evangelho, imediatamente neste ponto surge a relação morte/vida. A morte será vida quando aprendermos a ouvir a palavra do Filho. Tudo em nós que está estagnado e condenado a morrer, passará por um processo de transformação e voltará à vida.
Ouvir a Palavra, requer nos fazermos recepo. Purificar tudo aquilo que nos impede a escuta do altíssimo. Abrir o túmulo de nossa alma e permitir à Palavra que nos adentre e nos ilumine, nos propiciará crer conscientemente no Pai. E é deste crer consciente que poderemos nos chamar a nós mesmos de filhos de Deus.
Cristo nos entregou ainda uma oração na qual em suas duas primeiras palavras está contida toda a nova ordem cósmica: “Pai Nosso”
No evangelho de Mateus 6, 5-15 antes de ensinar os discípulos a orarem, Ele diz:
“Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao Teu Pai que está no escondido.” Mt 6, 6
Ele não fala somente de um quarto físico, um local apropriado para orar. Ele se refere também ao nosso ser como templo. Temos que nos voltar para dentro de nós mesmos, lá, no escondido, reside o Pai.

Viviane Trunkle

PS.: Para receber o Pai Nosso orado na Comunidade de Cristãos, entre em contato com um dos sacerdotes.