Reflexão para o domingo

Reflexão para domingo 26 de abril de 2020
Referente ao pericópio: João 10,1-21

É notório que Jesus seja “o” bom pastor, não um bom pastor. Ele é único assim como cada um de nós é único. A imagem de sermos pequenas ovelhas que seguem cegamente um pastor é incômoda pois denota um espírito de rebanho, em que todos são iguais e preservam uma consciência de massa. Mas trata-se de um equívoco interpretar a parábola sob esse ponto de vista. O bom pastor atenta para cada uma das ovelhas e, caso uma delas se perca, ele vai atrás daquela que se perdeu para resgatá-la. A parábola não é literal, pois cada individualidade tem o livre-arbítrio de seguir ou não seguir, mas o não seguir traz consequências que levam a situações em que se desperta o desejo de retorno e de seguir. Há também que se reconhecer a voz do pastor e a voz do ladrão. Distinguir entre o chamado de Deus e o chamado do mundo. O pastor não dirige as ovelhas por trás, mas as precede para mostrar o caminho. O ladrão se espreita para levar o que não lhe pertence, mas usa de subterfúgios para enganar, seduzir, desviar.
Como “pastor”, Jesus não representa um Deus distante e inacessível, mas garante a verdade para a alma que o busca. Em outras palavras: como bom pastor, Jesus não representa uma doutrina, uma tradição, um conceito metafísico, mas a própria substância espiritual da qual partilhamos e almejamos. O ser o bom pastor pertence a uma das afirmações do “Eu Sou” no Evangelho de João, e é, portanto, uma das formas de nos aprofundar e realizar, em liberdade, a nossa identidade como filhos de Deus. Em tempos de crise, em que surge o sentimento de abandono, de medo, de insegurança diante do futuro. O sentimento de que estamos protegidos por aquele que nos conhece melhor do que nós mesmos nos conhecemos não é apenas alentador, mas fundamental para adquirirmos força interior para enfrentar todas as dificuldades. O bom pastor é aquele que nos dá essa força, nos protege, nos guia e aponta para um futuro melhor.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 25 de abril

“Depois disso, houve uma festa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Ora, existe em Jerusalém, perto da Porta das Ovelhas, uma piscina com cinco pórticos, chamada Bezata em hebraico. Muitos doentes, cegos, coxos e paralíticos ficavam ali deitados. Pois de tempos em tempos um anjo descia e movimentava a água da piscina. O primeiro que entrasse na piscina, depois da agitação da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse.
Encontrava-se ali um homem enfermo havia trinta e oito anos. Jesus o viu ali deitado e, sabendo que estava assim desde muito tempo, perguntou-lhe: ‘Tens a vontade de ficar curado?’ O enfermo respondeu: ‘Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água se movimenta. Quando estou chegando, outro entra na minha frente’. Jesus lhe disse: ‘Levanta-te, pega a tua maca e anda’. No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou sua maca e começou a andar. Aquele dia, porém, era um sábado.
Por isso, os judeus disseram ao homem que tinha sido curado: ‘É sábado. Não te é permitido carregar a tua maca’. Ele respondeu: ‘Aquele que me curou disse: Pega tua maca e anda!’ Então lhe perguntaram: ‘Quem é que te disse: Pega a tua maca e anda?’ O homem que tinha sido curado não sabia quem era, pois Jesus se afastara da multidão que se tinha ajuntado ali. Mais tarde, Jesus encontrou o homem no templo e lhe disse: ‘Olha, estás curado. Não peques mais, para que não te aconteça coisa pior’. O homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia curado. Por isso, os judeus começaram a perseguir Jesus, porque fazia tais coisas em dia de sábado. Jesus, porém, deu-lhes esta resposta: ‘Meu Pai trabalha sempre, e eu também trabalho’. Por isso, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, pois, além de violar o sábado, chamava a Deus de Pai, fazendo-se assim igual a Deus.”

João 5, 1-18

A esfera da vida é fortemente ligada à água. Sem água, a vida não é possível. Isso podemos observar na natureza, no reino dos animais e nos seres humanos. Através da água, as forças vitais podem se unir ao mundo físico. Na água elas convergem e possibilitam vida nova. Na entrada de Jerusalém havia uma piscina que recebia as forças vitais do mundo espiritual. Daí surgiu a possibilidade de curar os enfermos que entravam naquela água. Havia um homem que estava deitado, enfermo há muito tempo. Ele perdera a força de se levantar e assim a possibilidade de entrar na água.
A força de se erguer e agir no mundo é uma das qualidades centrais do ser humano. Ela está muito ligada à nossa vontade. Sem ela nós ficaríamos deitados o dia inteiro e não atuaríamos no mundo. A essa força, Cristo apela quando pergunta se ele tem a vontade de ser curado. Se tem a força de se erguer e lutar contra a enfermidade. Na resposta, fica claro que ele ainda não tem as forças da vontade em mãos. Ele olha para os impedimentos externos. Porém o ‘levanta te’ desperta sua força da vontade e mostra como o Cristo está ligado a essa qualidade. Ele se levanta, anda e leva a maca. Recuperando assim o impulso de se erguer e atuar no mundo.
Temos a força da vontade em nossas mãos? Podemos nos erguer e curar as nossas enfermidades? Ou estamos esperando impulsos externos? Provavelmente, cada um de nós pode encontrar em sua vida interior ou no dia a dia momentos onde ficamos ‘deitados’ esperando impulsos externos. Percebendo esses momentos podemos nos erguer e atuar para mudá-los. Essa atividade exercitará e aumentará a nossa força de vontade. Assim crescerá a possibilidade de superarmos maiores desafios. Com a força da vontade desenvolvida, nos tornaremos, passo a passo, companheiros do Cristo nas grandes batalhas do mundo.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 24 de abril

“Eles diziam à mulher: — ‘Agora não é mais por causa do que você disse que nós cremos, mas porque nós mesmos o ouvimos falar. E sabemos que ele é, de fato, o Salvador do mundo’. Depois de ficar dois dias ali, Jesus foi para a região da Galileia. Pois, como ele mesmo disse: ‘Um profeta não é respeitado na sua própria terra.’ Quando chegou à Galileia, os moradores dali o receberam bem. É que eles tinham ido à Festa da Páscoa, em Jerusalém, e tinham visto tudo o que Jesus havia feito lá.
Jesus voltou a Caná da Galileia, onde havia transformado água em vinho. Estava ali um alto funcionário público que morava em Cafarnaum. Ele tinha em casa um filho doente. Quando ouviu dizer que Jesus tinha vindo da Judeia para a Galileia, foi pedir a ele que fosse a Cafarnaum e curasse o seu filho, que estava morrendo. Jesus disse ao funcionário: — ‘Vocês só creem quando veem grandes milagres!’
Ele respondeu: — ‘Senhor, venha depressa, antes que o meu filho morra!’
— ‘Volte para casa! O seu filho vai viver!’ — disse Jesus.
Ele creu nas palavras de Jesus e foi embora. No caminho encontrou-se com os seus empregados, que disseram: — ‘O seu filho está vivo!’
Então ele perguntou há que horas o filho havia começado a melhorar. Os empregados responderam: — ‘Ontem, a uma da tarde, a febre passou’.

João 4, 42-52

Jesus esteve em Samaria e ficou lá dois dias. Muitos em Samaria acreditavam por causa das palavras que ele estava ensinando. Eles não creram mais por causa do testemunho da mulher, mas sua fé se aprofundou na crença em Jesus porque o ouviram por si mesmos. Agora, Jesus continua sua jornada para a Galileia e uma curiosa declaração é feita: “Um profeta não é respeitado na sua própria terra.” Ele está indo para a Galileia, onde não receberá nenhuma honra. Em Samaria, Jesus desfrutou de grande sucesso, sem oposição e de coração aberto. Agora Jesus retornará ao seu próprio povo, os judeus, e a resposta não será a mesma. Os samaritanos creram por causa do que Jesus disse. Essa crença levou à salvação deles porque eles reconhecem que Jesus é o Salvador do mundo. Eles estão experimentando a fé de mudança de vida que Jesus está pedindo. No entanto, isso não é verdade com seu próprio povo. Eles viram tudo o que ele havia feito em Jerusalém na festa. Eles o estão recebendo por causa dos sinais. Mas Jesus não quer uma crença de espetáculo, mas um novo nascimento. Jesus está tentando gerar uma mudança de vida, um novo nascimento, uma fé transformadora. Os samaritanos desprezados se voltam para Cristo com fé, enquanto a comunidade histórica de Deus não pode progredir além do fascínio por milagres.
Quando transformamos a adoração no que obtemos dela ou no que gostamos, então não temos uma fé transformadora. Vivemos na sociedade do espetáculo, onde a atração é medida pela boa música, pelo discurso eloquente ou pela satisfação imediata de desejos. Talvez o momento de crise que estamos vivendo nos desperte para o que realmente importa. Jesus pede um novo nascimento porque é isso que necessitamos.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 21 de abril

“Nisto chegaram os discípulos e ficaram admirados ao ver Jesus conversando com uma mulher. Mas ninguém perguntou: ‘Que procuras?’, nem: ‘Por que conversas com ela?’.
A mulher deixou a sua bilha e foi à cidade, dizendo às pessoas: ‘Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?’ Saíram da cidade ao encontro de Jesus.
Enquanto isso, os discípulos insistiam com Jesus: ‘Rabi, come!’ Mas ele lhes disse: ‘Eu tenho um alimento para comer, que vós não conheceis’. Os discípulos comentavam entre si: ‘Será que alguém lhe trouxe alguma coisa para comer?’
Jesus lhes disse: ‘O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e levar a termo a sua obra. Não dizeis vós: ‘Ainda quatro meses, e aí vem a colheita!’? Pois eu vos digo: levantai os olhos e vede os campos, como estão dourados, prontos para a colheita! Aquele que colhe já recebe o salário; ele ajunta fruto para a vida eterna. Assim, o que semeia se alegra junto com o que colhe. Pois nisto está certo o provérbio ‘Um é o que semeia e outro é o que colhe’: eu vos enviei para colher o que não é fruto do vosso cansaço; outros se cansaram e vós entrastes no que lhes custou tanto cansaço’.
Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus por causa da palavra da mulher que testemunhava: ‘Ele me disse tudo o que eu fiz’.
Os samaritanos foram a ele e pediram que permanecesse com eles; e ele permaneceu lá dois dias. Muitos outros ainda creram por causa da palavra dele, e até disseram à mulher: ‘Já não é por causa daquilo que contaste que cremos, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo’”.
João 4, 27 a 42

“O presente capítulo contém uma preciosidade única, que encontramos tão só no Evangelho de João: o extraordinário diálogo de Jesus com a Samaritana.”
Frederico Lourenço

Nos primeiros versículos do capítulo quatro, encontramos várias referências dignas de uma leitura à parte para enriquecer o panorama no qual João insere este encontro/diálogo. Jacó: Gênesis 25, 19 a 50. E em João 4,10, ‘água viva’: Zacarias 14, 8; Jeremias 2, 13 e Ezequiel 47, 9.
Historicamente, temos um Jesus no início de sua atuação como Cristo na Terra. E imediatamente ele nos mostra à que veio e por meio de quem veio.
O diálogo com a Samaritana, ganha em majestosidade por indicar claramente a transição dos tempos. Aqui está o Filho do Homem, revelando através da alma da Samaritana: ‘Deus é espírito!’ Desde então o ser humano pode encontrá-lo em espírito e verdade. Ela reconhece o Messias e ele pronuncia pela primeira vez (exatamente no centro do quarto capítulo), o que poderíamos traduzir como: Eu sou o Eu sou.
A mulher samaritana anunciará ao seu povo a chegada do Messias. E muitos reconhecerão, por esforço próprio, o Ser que se apresenta à sua frente.
Os discípulos retornam. Agora os 12 são conduzidos através do diálogo com o Cristo a perceberem os mistérios do espírito.
Eles ‘elevam’ o olhar. Não significa que olhavam para o chão e agora erguiam a cabeça. E, sim, muito mais um indicativo do erguer o olhar para uma realidade espiritual. Qual realidade?
Com a samaritana o tema inicia na sede, água, água viva e estende um arco até a renovação dos tempos: Deus é espírito.
Com os discípulos o tema parte da fome, alimento, fazer a vontade de Deus e conduzir sua obra à meta. O arco que aqui se estende leva à elevação em espírito para a percepção da realidade espiritual.
‘Elevem seus olhos e observem os campos; eles já estão plenos de luz (tradução próxima ao texto em grego: brancos) para a colheita’.
Um campo foi semeado, as sementes germinaram, cresceram e deram frutos. Agora estão maduros para a colheita. Serão cortados. Passarão pelo processo da morte. Isto é oque veem nossos olhos físicos. Somos estimulados a olhar com nossos olhos da alma o que ocorre no espírito. A fronteira da morte encontra-se próxima à fronteira da vida. No espaço ‘entre’, pulsa o grande mistério divino: O momento da morte é o momento da vida…

“Em realidade trata-se da parte invisível do ser que se revela quando a parte visível atual decompõe-se. Se nos é revelado oque no momento é estado germinativo e invisível.”

Gérard Klockenbring

Tomamos parte no que foi semeado pelo Semeador espiritual para o ser humano. Podemos elevar nosso olhar para o espírito e nos transformarmos em trabalhadores da colheita de luz. Os processos de morte em nossa biografia, são germens de uma nova vida. A luz que colhemos do espírito, podemos semear por toda a humanidade.
O Semeador se alegra em conjunto com o trabalhador da colheita, mesmo sabendo que o campo semeado morrerá. Ambos conhecem o mistério da nova semente!

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 20 de abril

“Jesus soube que os fariseus ouviram dizer que ele reunia mais discípulos e batizava mais do que João – se bem que Jesus mesmo não batizasse, mas os seus discípulos. Por isso, saiu da Judeia e voltou para a Galileia. Era preciso que ele passasse pela Samaria.
Chegou, pois, a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto da propriedade que Jacó tinha dado a seu filho José. Havia ali a fonte de Jacó. Jesus, cansado da viagem, sentou-se junto à fonte. Era por volta do meio-dia.
Veio uma mulher da Samaria buscar água. Jesus lhe disse: ‘Dá-me de beber!’ Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar algo para comer.
A samaritana disse a Jesus: ‘Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?’ De fato, os judeus não se relacionam com os samaritanos. Jesus respondeu: ‘Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: ‘Dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva’.
A mulher disse: ‘Senhor, não tens sequer um balde, e o poço é fundo; de onde tens essa água viva? Serás maior que nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual bebeu ele mesmo, como também seus filhos e seus animais?’ Jesus respondeu: ‘Todo o que beber desta água, terá sede de novo; mas quem beber da água que eu darei, nunca mais terá sede, porque a água que eu darei se tornará nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna’. A mulher disse então a Jesus: ‘Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir aqui tirar água’.
Ele lhe disse: ‘Vai chamar teu marido e volta aqui!’ – ‘Eu não tenho marido’, respondeu a mulher. Ao que Jesus retrucou: ‘Disseste bem que não tens marido. De fato, tiveste cinco maridos, e o que tens agora não é teu marido. Nisto falaste a verdade’. A mulher lhe disse: ‘Senhor, vejo que és um profeta! Os nossos pais adoraram sobre esta montanha, mas vós dizeis que em Jerusalém está o lugar em que se deve adorar’. Jesus lhe respondeu:

‘Mulher, acredita-me: vem a hora em que nem nesta montanha, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. Estes são os adoradores que o Pai procura. Deus é Espírito, e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade’.

A mulher disse-lhe: ‘Eu sei que virá o Messias (isto é, o Cristo); quando ele vier, nos fará conhecer todas as coisas’. Jesus lhe disse: ‘Sou eu, que estou falando contigo.’”

João 4, 1-26

Na magnífica e rica conversa entre a mulher samaritana e Jesus, eles chegam ao ponto de falar sobre a forma de adorar o Deus Pai. Cristo menciona os locais antigos, as montanas dos patriarcas e Jerusalém como não sendo mais os únicos lugares para fazer orações. Deus pode ser adorado em toda a Terra.
Cristo Jesus indica como podem ser feitas as orações: ‘em espírito e verdade.’ Qual caminho nos indicam essas palavras?
Nosso espírito pode nos dar clareza, presença e vivacidade. Ele pertence ao mundo divino. Como uma gota d’água que saiu do mar e voltará a ele. Assim, o espírito é como uma pequena gota do Divino em cada ser humano. É essa gota que nos permite reconhecer o Divino no mundo. Para despertar e usar essa dádiva divina, necessitamos um esforço da vontade. Precisamos ser ativos em nosso eu.
Encontramos a verdade através de duas forças da alma humana. No coração, pelo qual sentimos fortemente se algo é verdadeiro ou não. E no pensar, através do qual podemos entender e reconhecer as leis do mundo físico e do mundo espiritual. Somente as duas forças juntas nos dão a certeza de estarmos no caminho certo. Quanto mais reconhecemos a verdade, mais sentimos segurança na vida e no mundo espiritual. Para realizar isso na Terra, precisamos ativar nossa vontade na ação.
Criar um ambiente para uma oração e orar é uma ação da vontade. Também é um esforço da nossa vontade estar presentes com nosso eu na oração. Nas orações podemos procurar uma segurança no mundo espiritual através da verdade. Podemos estar cada vez mais inteiros na oração e usar as forças do nosso ser. Assim criamos um ambiente no qual o mundo espiritual e o Cristo podem revelar-se a nós.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo

Reflexão para o domingo,19 de abril de 2020
Referente ao pericópio João20, 19-29

“Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: ‘A paz esteja convosco’. Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor. Jesus disse, de novo: ‘A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio’. Então, soprou sobre eles e falou: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão retidos’.
Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos lhe contaram: ‘Nós vimos o Senhor!’ Mas Tomé disse: ‘Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei’. Oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco’. Depois disse a Tomé: ‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!’
Tomé respondeu: ‘Meu Senhor e meu Deus!’
Jesus lhe disse: ‘Creste porque me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!’”

Quantas vezes quisemos ‘ver para crer’?
Estamos ainda em uma fase do desenvolvimento da humanidade onde os sentidos nos são de suma importância. Assim o era para Tomé. Ele ainda não havia atingido o grau de iniciação cristã que consiste o ‘Crer’. Este grau, não representa uma força qualquer, mas uma força vidente interior, tendo como base o Mistério do Gólgota.
Ao caminharmos, em nossas meditações e orações, em direção a nos permearmos com essa força interior, paulatinamente não precisaremos mais do sensorial para reconhecer e viver a verdade.
Passamos agora por momentos delicados da evolução humana. Estamos apartados, os sentidos que tanto nos alimentam estão restritos. Aos poucos, angústia e medo tendem a se apoderar de nossa vida interna. Eis o momento de grande oportunidade. Fortificar com orações e meditações a força interior. Não nos vemos, mas podemos formar comunidades cristãs que sentem em si o Cristo. Não frequentamos igrejas físicas, mas temos em nosso coração a catedral de onde pode vir a irradiar a força vidente interior: ‘O Crer’.

“Eis o meu segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer(…)”
Antoine de Saint-Exupéry

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 18 de abril

“Depois disto foi Jesus com os seus discípulos para a terra da Judéia; e estava ali com eles, e batizava. Ora, João batizava também em Enom, junto a Salim, porque havia ali muitas águas; e vinham ali, e eram batizados. Porque ainda João não tinha sido lançado na prisão. Houve então uma questão entre os discípulos de João e os judeus acerca da purificação. E foram ter com João, e disseram-lhe: ‘Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tu deste testemunho, ei-lo batizando, e todos vão ter com ele.’ João respondeu, e disse: ‘O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu. Vós mesmos me sois testemunhas de que disse: Eu não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele. Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já este meu gozo está cumprido. É necessário que ele cresça e que eu diminua. Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos. E aquilo que ele viu e ouviu isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho. Aquele que aceitou o seu testemunho, esse confirmou que Deus é verdadeiro. Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida. O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos. Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.’ ”

João 3, 22-36

João é conhecido como o Batista, o precursor de Jesus, o preparador de caminho. Estava ele satisfeito em seu papel? Não desejaria mais do que isso? Mas ele diz: “É necessário que ele cresça e que eu diminua”.
Ele tem consciência do seu papel e do limite de seu papel, mas também da grandeza de seu papel. Não apenas porque não faz sentido querer ser outra pessoa – isso apenas levaria à perda da vida. Não porque ele teria que suportar o fato de que não é outro. Não inveja a popularidade de Jesus. Ele poderia dizer: “Eu sou eu e Jesus é Jesus”. Não se trata de falsa modéstia, mas de reconhecimento de seu próprio valor, de seu verdadeiro papel, de sua missão de precursor. É difícil acreditar nisso? A ideia de diminuir-se perante o outro, mesmo que esse outro seja Jesus é incômoda porque o nosso ‘eu’ nos é muito caro. Mas que ‘eu’ é esse? Seria o nosso verdadeiro ‘Eu’, ou antes seria uma ideia falseada desse ‘Eu’, o que comumente chamamos de ‘ego’: uma autoimagem, uma fachada, uma máscara?
Poderíamos nos perguntar o que em nós deveria diminuir, o que em nós deveria crescer. Afinal, somos precursores do verdadeiro ‘Eu’ que deve crescer em nós. Somos precursores do ‘Cristo em mim’, do qual nos fala Paulo.
‘O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu’, nos diz João. O que precisamos fazer com nossas vidas? O que temos que não tenha sido recebido dos céus? Não somos apenas o papel que desempenhamos na sociedade ou perante família, amigos, colegas. Há um ser em cada um de nós que necessita ser descoberto e que pode desempenhar um papel maior na grande história divina, se apenas pudermos aprender a reconhecer esse verdadeiro ‘Eu’. Não podemos tirar do céu nada que não nos tenha sido dado desde o princípio. Esta é a nossa alegria: crescer em Cristo para alcançar quem realmente somos e diminuir no que é apenas aparência, sombra, ilusão.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 17 de abril

“Nicodemos respondeu, e disse-lhe: ‘Como pode ser isso?’ Jesus respondeu, e disse-lhe: ‘Tu és mestre de Israel, e não sabes isto?
Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho. Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais? Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu. E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.’”

João 3, 9-21

Na Bíblia podemos ler: “E disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança’” (Gênesis 1,26).
Isso aconteceu no sexto dia da criação. Depois temos o relato do paraíso e da tentação de Adão e Eva pela serpente. Normalmente se olha para essa tentação como algo negativo, que nos levou ao pecado original. Mas na realidade ela é a única possibilidade de que a criação do homem, como imagem e semelhança de Deus, possa prosseguir. Pela tentação da serpente, Adão e Eva comeram da árvore do conhecimento e começaram a ter a possibilidade de desenvolver um livre arbítrio, entraram na esfera da liberdade. Deus reconhece isso e diz depois da tentação: “Então disse o Senhor Deus: ‘Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal’” (Gênesis 3,22). Pela ajuda da serpente, da influência luciférica, ganhamos a possibilidade do conhecimento e estamos nos tornando semelhantes ao Divino: com a possibilidade de reconhecer o bem e o mal e, em liberdade, tomar a decisão, com qual qualidade queremos nos unir. Na realidade deveríamos sentir uma profunda gratidão pela serpente, que nos ajudou nesse caminho, mesmo que a intenção dela seja nos separar do Divino.
Mas tudo isto teve uma consequência para a serpente: “Então o Senhor Deus disse à serpente: ‘Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida’” (Gênesis 3,14). A serpente é amaldiçoada a ser presa à terra, a rastejar sobre o seu ventre. Seria uma ingenuidade muito grande pensar que esses relatos tratam de realidades da natureza, que está se falando aqui de uma cobra. Seria não apenas uma ingenuidade, mas na realidade um materialismo religioso. Esses relatos são imaginações, se referem a acontecimentos espirituais. A realidade desses relatos podemos verificar na nossa própria alma. O fato de que ‘comemos da árvore do conhecimento’ vivenciamos todos nós, pois temos, uns mais, outros menos, a possibilidade de reconhecer o que é o bem, e o que é o mal. Que a partir dessa possibilidade entramos na esfera da liberdade, vivenciamos também, pois muitas vezes não sabemos como nos decidir. E muitas vezes todas as preces para que Deus nos diga o que temos que fazer, não nos ajuda: ele nos deixa livres. Mas o que em nossa época podemos vivenciar com muita clareza é que a possibilidade do conhecimento, que ganhamos da serpente, de Lúcifer, foi amaldiçoada, se ligou a um impulso arimânico: o conhecimento do ser humano se aprisionou sempre mais à matéria, se tornou materialista. Somos nós, com o nosso pensar, que rastejamos por sobre a terra. A serpente é amaldiçoada em nossa consciência.
Devemos ter uma imensa gratidão pela serpente que nos deu a possibilidade da liberdade. Mas devemos ter também uma enorme responsabilidade de redimir a serpente, libertando-a da prisão da matéria, de ‘levantar a serpente no deserto’. A qualidade horizontal, que o nosso pensar desenvolveu com o materialismo, temos de transformar em uma qualidade vertical, dar a verticalidade humana à serpente, a possibilidade de unir céu e terra. Na espiritualização do nosso pensar erguemos a serpente, redimimos Lúcifer. Essa é a tarefa do Filho do Homem e essa é a nossa tarefa como aspirantes a nos tornarmos Filhos do Homem.

João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João, 16 de abril

“Havia alguém dentre os fariseus, chamado Nicodemos, um dos chefes dos judeus. À noite, ele foi se encontrar com Jesus e lhe disse: ‘Rabi, sabemos que vieste como mestre da parte de Deus, pois ninguém é capaz de fazer os sinais que tu fazes, se Deus não está com ele’.
Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade, te digo: se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de Deus!’
Nicodemos perguntou: ‘Como pode alguém nascer, se já é velho? Ele poderá entrar uma segunda vez no ventre de sua mãe para nascer?’
Jesus respondeu: ‘Em verdade, em verdade, te digo: se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus.
O que nasceu da carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito.
Não te admires do que eu te disse: É necessário para vós nascer do alto.
O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito’”.
João 3, 1-8

Nicodemos nos precede com a pergunta atualíssima: Como alguém pode nascer do alto se já é velho? Como encontrar o caminho que nos leva do calor amoroso do ventre da mãe cósmica à visão do Reino de Deus?
Nicodemos e Cristo, nos entregam pérolas luminosas para o caminhar na noite escura de nossas almas. De um lado as forças ‘velhas’, do outro a força da água, elemento que descreve a vida. Avançamos mais um degrau no caminho descrito por João evangelista, primeiro reconhecer o corpo físico como templo, agora direcionar a percepção para o corpo da vitalidade. Como cuidamos de nossa vitalidade? Muitas vezes é mais fácil reconhecer o que nos tira a vitalidade. Horas à frente do computador, reuniões exaustivas, trabalhos não cessáveis, pensamentos desgastantes, ambientes anímicos tóxicos…
Tentar equilibrar essas situações com momentos de ‘respiro’, pausas, movimento para o corpo, exercícios de pensamentos positivos e purificação de ambiente, podem paulatinamente despertar em nós a consciência para o corpo vital. Os cuidados dedicados ao corpo da vida, nos aproxima cada vez mais do Ser que nos dá a água da vida. Ao nos acercarmos dele, avançaremos mais um degrau de nosso caminho. Estaremos receptivos ao Espírito, ao sopro divino que insufla nossos pulmões de ar dos desígnios cósmicos e nos liberta do terreno. Liberdade na medida correta de equilíbrio entre matéria e espírito, Terra e céus.
Como o vento que vem e vai, viremos e iremos entrar no Reino de Deus.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 15 de abril

“Então os judeus perguntaram a Jesus: ‘Que sinal nos mostras para agires assim?’ Jesus respondeu: ‘Destruí vós este templo e em três dias eu o reerguerei.’ Os judeus, então, disseram: ‘A construção deste templo levou quarenta e seis anos, e tu serias capaz de erguê-lo em três dias?’ Ora, ele falava isso a respeito do templo que é seu corpo.
Depois que Jesus fora reerguido dos mortos, os discípulos se recordaram de que ele tinha dito isso, e creram na Escritura e na palavra que Jesus havia falado.
Estando em Jerusalém, na festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, vendo os sinais que realizava. Jesus, no entanto, não lhes dava crédito porque conhecia a todos e não precisava de ser informado a respeito do ser humano. Ele bem sabia o que havia dentro do homem.”
João 2, 18-25

O nosso corpo é o nosso templo, o templo nosso corpo. Como esse templo foi construído? Antes do nascimento, o corpo cresceu no ventre da mãe. Dela recebemos o necessário para o crescimento do corpo físico e do corpo vital. Do mundo espiritual, nosso ser superior, trabalhou também na formação do corpo no qual ele moraria. A influência do nosso ser superior fica mais evidente após o nascimento. Com o passar do tempo o corpo fica cada vez mais individual. A forma como nos movimentamos, o semblante, a postura do corpo – tudo mostra a individualidade de uma pessoa. O ser superior se revela também em nossos ideais e vocação.
O corpo precisa constantemente ser alimentado pelas duas esferas. Da esfera física, recebemos o alimento do dia a dia. Nós o transformamos e dele o corpo se renova constantemente. Da esfera espiritual precisamos uma alimentação através de tudo que é ligado ao mundo do espírito. Esse alimento pode se manifestar na arte, na ciência e na religião. Para viver e trabalhar na Terra precisamos um equilíbrio constante entre as duas esferas.
Nesse trecho do evangelho, o Cristo fala da reconstrução do corpo em três dias, ele fala da ressurreição. Os três dias podem ser vistos também como a ‘gravidez’ no ventre da mãe Terra. Só após três dias o corpo da ressurreição é construído. Assim torna-se visível para os seres humanos. Cristo começou esse processo bem antes da sua morte. Desde a sua chegada à Terra, ele cuidou da ligação com o mundo espiritual. Nas ações, ensinamentos e orações.
Podemos também cuidar da ligação com o mundo do espírito? Podemos espiritualizar nosso pensar, sentir e agir e olhar: Quais das nossas ações tem um valor para os outros seres humanos? Quais sentimentos nos abrem para o mundo? Quais verdades eternas podemos atingir com nosso pensar? Ao trabalharmos com essas questões, criaremos um tesouro valioso para além da nossa vida na Terra.

Julian Rögge