Reflexão sobre o Evangelho de João, 14 de abril

“Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias. E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambistas assentados. E tendo feito um chicote de cordas, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambistas, e derrubou as mesas; e disse aos que vendiam pombos: ‘Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda.’ E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me consome.”
João 2, 12-17

No casamento em Caná, João nos transmite o Mistério do sangue. Com a purificação do Templo trata-se do Mistério do corpo. Simbolicamente a purificação do templo significa a purificação do corpo humano. Quando o ser divino de Cristo penetra no corpo humano terrestre, todos os animais e impulsos animalescos devem ser expulsos para que ele possa ser um templo do Espírito Santo. O corpo de Cristo primeiro é purificado e depois através da morte levado à ressurreição. Corpo e templo são a mesma coisa. Esse Mistério é uma preparação para o profundo Mistério da Ressurreição, a superação da morte. O corpo é o nosso templo e sabemos o quanto ele tem sido negligenciado. Ele representa os valores que cultivamos. Porque quais são os valores reais da vida?  O que nos sustenta na vida, o que nos dá coragem em tempos difíceis, o que nos consola na doença e, não menos importante, no encontro com a morte?  Esse é o amor de Deus, o conhecimento de que ele me carrega, aconteça o que acontecer.  Os valores meramente materiais não nos ajudam nesse aspecto, o mundo é implacável e não dá consolo. Mas é diferente com Deus: se o mundo lhe diz que você não vale nada, porque você não cumpre a norma, então Deus diz que seu valor é infinitamente grande porque você é criado à sua semelhança. Se você se sente pequeno por ter sofrido uma derrota, novamente, o amor de Deus diz que seu valor não depende de suas realizações, mas do fato de que Cristo morreu por você. Com todo o dinheiro do mundo, seu valor único não pode ser superado. O corpo é o templo de nossa alma e assim como todos os templos ele deve ser limpo, leve, e emanar vibrações positivas e sagradas. Quando dizemos que a cura está em nossas mentes, significa que tudo que pensamos se materializa em nossa vida e em nosso corpo físico. A expressão do corpo, nada mais é que a linguagem simbólica de como esse milagroso instrumento está funcionando, e como ele é uma unidade, se o que pensamos são vibrações negativas e toxinas psíquicas, automaticamente nosso corpo físico dará sinais de desgastes e desequilíbrios ocasionando as doenças.
Quando adquirimos a consciência que a cura depende da nossa vontade de nos amarmos e nos perdoarmos, começamos um processo de retrocesso; onde olhamos para dentro de nossa alma e por meio desse olhar identificamos a verdadeira causa da enfermidade. Assumimos então a responsabilidade sobre o processo de cura e através de meditações profundas sobre o que podemos mudar em nossos pensamentos, o corpo entrará automaticamente no caminho inverso da doença, adequado para abrigar o espírito curador.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 13 de abril

“E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galileia; e estava ali a mãe de Jesus. E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas. E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: ‘Não tem vinho.’ Disse-lhe Jesus: ‘Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. ‘ Sua mãe disse aos serventes: ‘Fazei tudo quanto ele vos disser.’
E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes. Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. E disse-lhes: ‘Tirai agora, e levai ao mestre-sala.’ E levaram.
E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo, e disse-lhe: ‘Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.’
Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galileia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.”
João 2, 1-11

É possível transformar água em vinho?
Obviamente, a natureza faz isso todo ano. Das profundezas da terra a videira eleva a água que está em um nível mineral e a coloca em um processo vital, preenchendo as uvas com ela. A videira assimila a força do sol e transforma a água em suco de uva, incrementando o açúcar. Em um segundo processo o suco de uva pode fermentar e se transformar em vinho. Transformar água em vinho não é algo excepcional, ainda que na natureza seja um milagre.
O excepcional é que na narração das bodas de Caná isto acontece pela atuação do Jesus Cristo. Podemos olhar isto como milagre, no sentido de algo mágico, que exige a nossa crença. Mas também podemos olhar isso como um acontecimento que, como imagem, descreve algo que tem a ver conosco, com um caminho espiritual que queremos seguir para nos unirmos com o Jesus Cristo.
A transformação da água em vinho é o primeiro passo de um processo que se completará na transformação do vinho em sangue na Santa Ceia. A transformação da água em vinho é um processo natural que acontece no reino vegetal. A transformação do vinho em sangue também é um processo que acontece continuamente, mas não na natureza, no mundo vegetal fora de nós, mas na natureza dentro de nós, no nosso próprio corpo. Continuamente nós estamos a partir da alimentação transformando aquilo que recebemos do reino vegetal em nosso corpo, em nosso sangue. Esses processos são naturais, tanto fora do nosso corpo, quanto dentro do nosso corpo. Fora do nosso corpo acontecem pela força do Sol, dentro do nosso corpo pela força do nosso próprio Eu.
Em nosso caminho espiritual temos a tarefa de, pela nossa consciência, elevar aquilo que é ‘natural’ para uma esfera na qual pode se unir com o Cristo.
Normalmente cultivamos a natureza e pensamos que, obviamente, as plantas crescem, frutificam e amadurecem. Comemos o que a natureza nos oferece e pensamos que, obviamente, somos nutridos. Transformamos o alimento em nosso corpo e em nosso sangue e pensamos que isso, obviamente, acontece. Não é óbvio: é um milagre. Acontece fora de nós pela força do Sol, acontece dentro de nós pela força do nosso próprio Eu.
E qual é essa força de transformação que o Sol tem, que o nosso Eu tem?
Não é necessário acreditar no milagre que parece ter acontecido nas Bodas de Caná. O que precisamos é prestar atenção para essa força de transformação que atua na natureza fora de nós, que atua em nosso corpo dentro de nós, e que atua também em nossa alma. Então iremos, com certeza, vivenciar milagres de transformações que continuamente acontecem em nosso dia a dia, na natureza e em nossa alma, e poderemos, talvez, sentir nesses processos a presença do Cristo.

João Torunsky

Reflexão para o Domingo de Páscoa

Ao acompanharmos os acontecimentos da Semana Santa, pudemos torná-la viva em nosso interior. Da entrada do Cristo em Jerusalém com todo júbilo e brilho, via purificação do templo e confronto com as autoridades judaicas, até a unção do Cristo e a Santa Ceia. Pudemos perceber como os acontecimentos se intensificaram e como a atmosfera ficou cada vez mais densa. O júbilo e o êxtase se transformaram no curso da semana em uma luta interior. Tudo estava direcionado para os acontecimentos mais importantes no desenvolvimento da humanidade. Na noite da Quinta-feira Santa começou a luta do Cristo com a morte.

E ele afastou-se deles, à distância do arremesso de uma pedra. Pondo-se de joelhos, começou a orar, dizendo: ‘Pai, se quiseres, afasta este cálice de mim; porém não a minha, mas a tua vontade se faça.’ Apareceu-lhe um anjo do céu que o confortava. Em estado de angústia, ficou a orar com mais afinco e o suor tornou-se em coágulos de sangue, que caíam na terra. Levantou-se depois da oração (…).” Lucas 22, 41-45

Esse trecho mostra o combate do Cristo com a morte que prematuramente queria se apossar dele, antes do comprimento de sua missão na Terra.
D
epois disso, o Cristo Jesus por vontade própria, colocou-se nas mãos dos adversários e seguiu para o julgamento até a morte na cruz. O Ser Divino, o Cristo, tornou-se inteiramente humano, até poder morrer na cruz. Ele foi baixado ao túmulo da Terra e vinculou-se totalmente a ela. Um grande silêncio se espalhou. O desenvolvimento do cosmos chegou a um momento decisivo e parou por um átimo. O mundo prendeu a respiração. O que acontecerá?
muito tempo não vivenciamos essa atmosfera da Paixão tão forte como nas últimas semanas. O medo, a dor e o sentimento de desamparo perante a morte invisivelmente ameaçadora. Medo de chegar no ponto final da vida. Dor em ver pessoas queridas lutando com a morte. Sentimento de desamparo por não poder acompanhá-los nesse caminho, por perdê-los. A morte parece, facilmente, o ponto final do desenvolvimento da vida humana. Nas semanas passados pudemos sentir como o mundo prendeu por um instante a respiração. Percebemos um grande silêncio se espalhando pela Terra. O que acontecerá?

Maria Madalena tinha ficado perto do túmulo, do lado de fora, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se para olhar dentro do túmulo. Ela enxergou dois anjos sentados, vestidos de branco, um na cabeça, outro aos pés, no lugar onde tinha sido posto o corpo de Jesus. E eles perguntaram: ‘Mulher, por que choras?’. Ela respondeu: ‘Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram.’ Dizendo isto, Maria virou-se para trás e vê Jesus de pé e não sabia que era Jesus. Jesus perguntou-lhe: ‘Mulher, por que choras? Quem procuras?’. Ela, pensando que ele fosse o jardineiro, disse: ‘Senhor, se foste tu que o levaste, dize-me onde o colocaste, e eu irei buscá-lo’. Então, Jesus falou: ‘Maria!’. Ela, voltou-se e exclamou em hebraico ‘Rabuni!’ (o que quer dizer Mestre). Jesus disse: ‘Não me toques. Ainda não ascendi para o Pai.’” João 20, 11-17

Em profundo luto, Maria Madalena fica em frente ao túmulo. O luto lhe oculta o acontecimento que mudou o mundo. Somente após ser chamada pelo nome (ser tocada em seu eu superior), ela desperta e reconhece o Ressuscitado à sua frente. Alguns discípulos também tem dificuldade em reconhecer o feito do Cristo. Eles tem dúvidas, isso se mostra claramente na passagem onde Tomé, para crer no ressurrecto, precisa tocar as feridas do Cristo. Pouco a pouco os discípulos perceberam as mudanças que se operaram no mundo.
A morte, não é mais o ponto final da vida. Ela se tornou, como o nascimento, a transição entre dois mundos. O desenvolvimento da humanidade tomou para sempre um novo caminho. O feito do Cristo na Páscoa, a vitória sobre a morte, é para todos e a qualquer momento factível.
Esse fato pode mudar nossa vida profundamente, ao nos tirar o medo da morte. Podemos vivenciar isso a cada dia: ao adormecer e ao acordar. Nessas situações transitamos entre o mundo terrestre e o mundo espiritual. Normalmente não temos medo de adormecer, de ir para o mundo espiritual. No dia seguinte podemos acordar com novas ideias e novos impulsos para a vida aqui na Terra. A morte não é muito diferente do sono. Nela também transitamos de um mundo para o outro. Nela também continuamos nosso caminho no mundo espiritual até um dia voltarmos com novos impulsos para a vida na Terra. Nela ficamos ligados com os nossos entes queridos. O nosso medo da morte, as nossas preocupações e o nosso luto, facilmente ocultam esse fato. Nós nos sentimos à mercê da morte. Em nosso desamparo não percebemos que o Cristo caminha à nossa frente. Ele faz esse caminho, esse sacrifico pelo amor aos seres humanos. Ele nos deu a possibilidade de segui-lo e nos prometeu:

E eis que eu estou convosco, todos os dias, até o fim dos tempos.” Mateus 28, 20

Somos chamados a sucedê-lo a vencer a morte. Ele estará conosco!

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 4 de abril

“No dia seguinte, ele decidiu partir para a Galileia e encontrou Filipe. Jesus disse a este: ‘Segue-me!’ (Filipe era de Betsaida, a cidade de André e de Pedro.) Filipe encontrou-se com Natanael e disse-lhe: ‘Encontramos Jesus, o filho de José, de Nazaré, aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, bem como os Profetas.’ Natanael perguntou: ‘De Nazaré pode sair algo de bom?’ Filipe respondeu: ‘Vem e vê!’
Jesus viu Natanael que vinha ao seu encontro e declarou a respeito dele: ‘Este é um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade!’ Natanael disse-lhe: ‘De onde me conheces?’ Jesus respondeu: ‘Antes que Filipe te chamasse, quando estavas debaixo da figueira, eu te vi.’ Natanael exclamou: ‘Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!’ Jesus lhe respondeu: ‘Estás crendo só porque falei que te vi debaixo da figueira? Verás coisas maiores que estas.’ E disse-lhe ainda: ‘Em verdade, em verdade, vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem!’”
João 1, 43-51

Na Gênesis, o primeiro livro das Escrituras Sagradas, encontramos no capítulo 28, 10-15 uma descrição do sonho de Jacó, iniciado e líder de seu povo.
“Em sonho, viu uma escada apoiada no chão e com a outra ponta tocando o céu. Por ela subiam e desciam os anjos de Deus”.
Este sonho foi carregado ao longo das gerações que prepararam a vinda do Messias. O que nos primórdios do povo israelita ainda era um sonho, torna-se realidade com o advento do Cristo.
Natanael como iniciado de seu povo, reconhece este momento na transição das eras: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!”
Cristo realiza a religação do ser humano com o divino não somente para seu povo, mas para toda a humanidade.
Rudolf Frieling (1901-1986) sacerdote da Comunidade de Cristãos descreve:
“No reino dos seres, o ser humano tem seu lugar ordenado entre o animal e o anjo. Como o animal, ele dispõe de um corpo material, que para além do “animalesco”, representa a coroação do mundo visível. Como o anjo ele tem uma ligação para cima com o divino”.
A pertencença a esta ordem evolutiva estava corrompida. Cristo traz aos seres humanos a possibilidade, agora, através da consciência, de retomarem seu lugar nesta ordem e realizarem sua missão na Terra. Caso contrário estaríamos deixando um buraco vazio entre o animal e o divino. Nada fica vazio, tudo é preenchido por algo…
2020. Como andamos com nossa missão? Qual responsabilidade temos para com o reino animal? Como os tratamos? De onde surge mesmo o Coronavírus? Com certeza não de um único povo, mas da humanidade como um todo.
E onde fica nossa consciência perante o divino?
Estamos muito necessitados de voltarmos nosso olhar para dentro em profundos processos de reflexão.
São nesses processos onde encontramos a escada que liga a Terra aos Céus. Ao assumirmos nossa missão entre o reino animal e os anjos, construiremos em conjunto com o Cristo a escada por onde subirão e descerão os anjos de Deus.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 3 de abril

“André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João e seguiram Jesus. Ele encontrou primeiro o seu irmão Simão, e lhe falou: ‘Encontramos o Messias!’ (o que traduzido quer dizer Cristo). Então, conduziu-o até Jesus, que lhe disse, olhando para ele: ‘Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas!’ (que quer dizer Pedra).”
João 1, 40-42

Simão foi levando por seu irmão ao Cristo e dele recebeu um nome. Ao longo de sua jornada como discípulo, Simão receberá uma tarefa ligada a este nome: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la.” (Mateus 16, 18)
Podemos perceber que o nome está ligado com um nível superior do nosso ser. Está ligado com nosso destino e nossa tarefa na Terra. Cristo cuida do destino do mundo. Dele recebemos nossa missão para a vida na Terra.
Ao nascermos esquecemos deste fato espiritual.
No evangelho André, mostra para Simão o caminho para o encontro com o Cristo, possibilitando assim a seu irmão o receber a tarefa de sua vida enquanto discípulo. Ao longo da vida recebemos sinais sobre nosso nome e nossa missão. Eles vem de nossos familiares, amigos e pessoas que encontramos. Estamos atentos? Ouvimos o que os nossos próximos nos falam? Aceitamos conselhos de outras pessoas? Na correria do dia a dia muitas vezes não estamos abertos o suficiente.
Uma aprendizagem nesses dias de recolhimento poderia ser: estar atento aos nossos próximos, ouvir o que eles nos falam e estar aberto para conselhos. Assim nos tornamos receptivos, como Simão Pedro, para o encontro com o Cristo. Através do encontro com os outros seres humanos, podemos relembrar nossa tarefa aqui na Terra. Podemos transformar o mundo!

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João, 2 de abril

“No dia seguinte João estava outra vez ali, na companhia de dois dos seus discípulos; e, vendo passar a Jesus, disse: “Eis aqui o Cordeiro de Deus”. E os dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus. E Jesus, voltando-se e vendo que eles o seguiam, disse-lhes: “Que buscais?” E eles disseram: “Rabi (que, traduzido, quer dizer Mestre), onde moras?” Ele lhes disse: “Vinde, e vede”. Foram, e viram onde morava, e ficaram com ele aquele dia; e era já quase a hora décima”.
João 1, 35-39

A primeira frase que Jesus fala no evangelho de João é: “O que você está procurando?” Ele nos desperta com essa pergunta do sono da inconsciência. Esse é o chamado para o discipulado – o chamado dos primeiros apóstolos, mas também é o chamado a cada um de nós em todos os tempos. Não precisamos continuar como antes. A vida não se resume apenas a trabalho, casamento, filhos, construção de casas e aposentadoria. O que estamos procurando? Nada causa mais sofrimento do que relacionamentos desfeitos, amizades terminadas, casamentos desfeitos. Pode-se viver em família sob o mesmo teto e ainda assim não saber nada um do outro. A lista de razões para o sofrimento é infinita, mas fica a questão: O que estamos procurando?
Os dois discípulos que correram atrás de Jesus responderam: “Onde moras?” Onde fica o seu lar? Os dois discípulos estavam procurando um lugar onde pudessem pertencer, onde pudessem ficar. Essa não é a situação da maioria de nós? Em sentido figurado, a busca por um lar também pode significar uma busca por significado, uma busca por sentido. Onde devo dedicar minha vida, onde sou de Deus com meus dons e habilidades, onde posso ser irmão, irmã, pai, mãe, filho, filha?
Jesus leva a busca a sério. Ele convida os dois discípulos: “Vinde e vede!”
Ele pede que eles saiam e sejam tirados de suas vidas antigas.
Os dois discípulos foram convidados, vieram, viram e passaram o dia com Jesus. Entraram na esfera de atividade de Jesus, tornaram-se receptivos, abriram os olhos e os ouvidos, esperavam que algo vital acontecesse. E eles ficaram. Jesus não os força a tomar uma decisão, ele apenas se oferece para que se exponham à sua influência. Uma decisão é tomada somente quando alguém chega, vê e depois percebe que encontrou a resposta. Todos nós também somos convidados. A décima hora é quatro horas da tarde, quase o fim do dia. Não precisamos deixar que o dia termine antes de aceitar o convite.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João, 1 de abril

“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Este é aquele do qual eu disse: Após mim vem um homem que é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. E eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, vim eu, por isso, batizando com água. E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele. E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. E eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus.”
João 1, 29-34

„O Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo“ são palavras do Evangelho que ganharam um significado muito grande no cristianismo, tanto que se tornaram parte da missa católica. Mas estas palavras correm risco de serem mal-entendidas. Normalmente se pronuncia essas palavras com o desejo de que o Cristo tire nossos pecados, o pedido de receber a absolvição, para que nós fiquemos livres do pecado. Assim é em geral entendido, apesar das palavras do Evangelho dizerem claramente que o Cristo, o Cordeiro de Deus, tira o pecado do mundo, não de nós.

Para ter uma possibilidade de compreender o profundo significado dessas palavras, podemos ter a ajuda da Antroposofia. Rudolf Steiner reconheceu a atuação dupla dos erros que cometemos, se usamos o termo religioso, do pecado. Tudo o que fazemos tem um lado objetivo e um lado subjetivo.
O lado objetivo é o significado para o mundo: pelas nossas ações mudamos o mundo. Na atualidade temos uma consciência mais aguçada para este fato em relação ao meio ambiente. Mas também em um âmbito moral, o mundo é impregnado pelo que fazemos. Se jogamos uma pedra contra uma janela e o vidro se quebra, fica óbvio que mudamos o mundo. Mas, por exemplo, uma mentira também se impregna no mundo e o transforma. A mudança do mundo pelas nossas ações é o lado objetivo do pecado.
O lado subjetivo é a responsabilidade que temos por tudo o que fazemos. Enquanto crianças, não temos a possibilidade de assumir a responsabilidade por tudo o que fazemos. É a tarefa dos pais assumir a responsabilidade pelos erros dos filhos. Mas isto não pode ser assim uma vida inteira. Passo a passo, a criança deve aprender a assumir a responsabilidade por aquilo que faz. Um jovem tem de ter muito mais responsabilidade do que uma criança, e um adulto que não assume responsabilidade pelos seus atos não atingiu a maturidade.
Para nos conscientizarmos dos nossos erros, dos nossos pecados, é necessário distinguir entre o lado subjetivo e o lado objetivo.

Temos que assumir a responsabilidade por nossos atos, se queremos ser individualidades livres. E aquilo que não é possível assumir em uma vida, esperamos poder assumir numa próxima. Para isto nos acompanha a sabedoria dos guias espirituais, nos ajudando a formar o nosso carma.

Não nos é possível assumir a responsabilidade pelo ferimento que provocamos no mundo por meio dos nossos atos, notadamente em relação às consequências morais das nossas imperfeições. Para este lado objetivo das consequências do pecado, e só para este lado, precisamos da ajuda divina e podemos pedir ajuda ao Cristo, como „Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo“.

João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João, 31 de março

“E havia enviados dos fariseus. E perguntaram-lhe: “Por que batizas, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?” João respondeu-lhes, dizendo: “Eu batizo na água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis: Aquele que vem depois de mim, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias.” Essas coisas aconteceram em Betânia, na margem além do Jordão, onde João batizava.”
João 1, 24 a 28

A atuação de João Batista se nos faz presente nos dias atuais. “Mudem o vosso sentido”, ele pregava. O significado destas palavras: Deem uma volta completa nos sentidos, transicionem.
João realizava o batismo que consistia em mergulhar o adulto na água até próximo do afogamento. Neste momento, a pessoa vislumbrava as misérias da própria alma. Por isso era também chamado: “Batismo da transubstanciação do espírito”
João conduzia os seres humanos à fronteira do reconhecimento da necessidade de mudar os sentidos, a vida da alma. E à vivência da esfera dos planos superiores.
E é de um dos maiores iniciados na evolução da humanidade que ouvimos: “Eu não sou digno de desatar a correia das sandálias”. João reconhece e sente a magnitude do Ser do Cristo.
Como caminhamos enquanto humanidade até agora? Muito temos ouvido nas últimas semanas, verbos recorrentes são: destruímos, negligenciamos, abandonamos, matamos. Ouvimos frases de impacto: “O capitalismo não pode parar, morra quem morrer”. E aos poucos começou a surgir o pensamento de que talvez a situação mundial possa ser transformada em oportunidade para cada um de nós voltar para casa. Para qual casa? Todas elas. As que abandonamos em busca desenfreada pelo mundo afora. Talvez, mais do que nunca seja o momento para darmos uma volta nos sentidos e olharmos as mazelas da alma. Claramente, objetivamente. Despertar o olhar para nós mesmos com olhos renovados. Reconhecer nossa indignidade perante os mundos espirituais. E assumir a parte que nos diz respeito, nossa missão: Receber em nossa pequenez Aquele que vem depois. Permitir que Ele ilumine todos os cômodos de nossa morada interior, até irradiarmos sua luz e criarmos uma humanidade digna em pronunciar: Cristo em nós.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João, 30 de março

“Este é o testemunho de João, quando os judeus enviaram, de Jerusalém, sacerdotes e levitas para lhe perguntar: “Quem és tu?” Ele confessou e não negou; ele confessou: “Eu não sou o Cristo.”  Perguntaram: “Quem és, então? Tu és Elias?” Respondeu: “Não sou”. – “Tu és o profeta?” – “Não”, respondeu ele. Perguntaram-lhe: “Quem és, afinal? Precisamos dar uma resposta àqueles que nos enviaram. Que dizes de ti mesmo?” Ele declarou:
“Eu sou a voz de quem clama no deserto: ‘Endireitai o caminho para o Senhor!’”, conforme disse o profeta Isaías.
João 1, 19-23

Quem és tu?
Ao olharmos para essa pergunta podemos pensar, num primeiro momento, que é fácil responder. Temos um nome, uma nacionalidade, temos uma orientação de gênero, temos uma profissão e assim por diante. A resposta parece meio óbvia. Mas, se aprofundarmos esse pensamento, chegarão as primeiras dúvidas. É isso o que me define? Sou determinado por aspectos externos? Nesse momento podemos sentir que é mais fácil dizer quem não somos. Na esfera do nosso eu, ligado com o nosso ser espiritual, com o nosso ser eterno, não somos definidos pela nacionalidade, por um gênero, ou pela nossa profissão.

Quem és tu?
A resposta só podemos encontrar em nosso íntimo, na solidão da nossa alma. É desse âmbito que vem a confissão de João: “Eu sou a voz de quem clama no deserto: ‘Endireitai o caminho para o Senhor!’” O ‘eu sou’ do João nos mostra a direção na qual podemos procurar a resposta. Esse ‘eu sou’ do João não vem da consciência do dia a dia, mas da parte do eu que está ligada ao nosso ser espiritual.
Qual é a nossa missão aqui na Terra? Com qual tarefa decidimos vir para cá? A resposta podemos achar na solidão de nosso íntimo. Momentos de silêncio, de recolhimento e de tranquilidade podem nos ajudar nessa busca. Nesses momentos podemos procurar e sentir no nosso íntimo a presença do Cristo que está ligado ao nosso destino, à nossa tarefa na Terra.

Quem és tu?
No caminho da solidão interior podemos cada vez mais chegar a uma resposta e clamar: “Eu sou…!” E assumir a nossa missão aqui na Terra.

Julian Rögge

Reflexão para o domingo, 29 de março de 2020

Referente ao pericópio: João 8, 1-11

Muitas vezes julgamos as pessoas sem perceber. Independentemente do motivo, não temos o direito de julgar ninguém. A maioria das pessoas não percebe seus próprios erros, mas se esforça para descobrir e apontar os erros de outras pessoas.
Quando nós erramos, sempre encontramos uma justificativa para essa falha, isso acontece desde Adão. Porém, nenhum de nós está em condições de atirar pedras no outro. Jesus não nos condena, mas diz “vá e não peques mais”, que pode ser traduzido como: “vá e toma consciência de seus atos e aja conforme tal consciência”.
Podemos pensar no pecado como o destino do ser humano, imposto pela condição de estar na Terra, separado do mundo espiritual, algo tecido em nossa condição existencial. Mas não de forma inexorável e definitiva. O encontro com o Cristo nos permite, como permitiu à mulher adúltera, despertar para algo que não é condenação e nem julgamento, mas oportunidade de despertar e interiorização com aquele que traz o antídoto do pecado. Nós nunca poderíamos nos tornar seres livres se não tivéssemos sido empurrados para baixo; mas esse não é o fim da história. Agora, tomados pela força do Cristo, é possível ascender ao reino dos ideais morais. Existe apenas uma maneira pela qual isso pode ser alcançado: ser capaz de atrair para si aquele que é mais real do que as forças de atração do pecado. Alguém que fala no sentido contrário a São Paulo pode dizer: “Não eu, mas meu corpo de pecado” – mas São Paulo diz: “Não eu, mas o Cristo em mim”.

Carlos Maranhão