Reflexão sobre o Evangelho de João 28/3

“Porque todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.”
João 1, 16-18

Na civilização atual rege o princípio econômico da escassez e o princípio psicológico da insuficiência. Por um lado os recursos limitados determinam a necessidade de uma luta de buscar, pelo interesse próprio e egoísta, os meios para a sobrevivência ou o sucesso ou o dinheiro como parâmetros para a felicidade. Por outro lado, por nunca alcançarmos satisfação suficiente nessa busca, gera-se o sentimento de incapacidade, fracasso e imperfeição. Porém o princípio da graça divina, ao contrário, é o reconhecimento que, como filhos de Deus, a vida nos é dada em plenitude. O princípio da graça é o de abundância, não de escassez, e é de plena capacidade e não de insuficiência. Na tradição pré-cristã havia um preço para estar sujeito à graça – o preço da lei mosaica. Portanto, a graça seria condicional à obediência aos mandamentos. O Cristo, pelo meio do qual recebemos a graça divina, renova a concepção de que a graça corresponde ao amor incondicional de Deus pelos seres criados. O acesso à graça não é regido pela lei mas pela liberdade. Somos seres livres, na medida em que reconhecemos nosso valor como filhos amados por Deus e tomamos nas mãos o poder assumindo a responsabilidade consciente de nossas vidas. A humanidade antes, por ainda não ter um Eu suficientemente desenvolvido, ainda não tinha acesso direto a Deus em liberdade, necessitando ser guiada por aqueles que incorporavam uma espécie de Eu coletivo. Podemos dizer, não viam a Deus. Por meio do Cristo, Deus é revelado àqueles que, também por meio dele, amadurecem seus Eus a ponto de reconhecer em si mesmos a plenitude da qual, na verdade, sempre foram dotados, mas da qual ainda não tinham consciência.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João 27/3

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai. João deu testemunho dele, e clamou, dizendo: Este é aquele de quem eu disse:
O que vem depois de mim, passou adiante de mim; porque antes de mim ele já existia.”
João 1, 14-15

O que diferencia o Cristianismo de todas as outras religiões, não é tanto o seu conteúdo religioso; é o fato único de que, em Jesus Cristo, um ser divino se encarnou como homem na Terra. Este fato mudou toda a vida espiritual da humanidade. Haviam antes, nas correntes religiosas, a tendência de almejar um caminho espiritual para se libertar da Terra, esperando encontrar a salvação em um mundo meramente espiritual. O fato da encarnação do Cristo trouxe para a humanidade a possibilidade de olhar para a experiência na biografia terrena, como o caminho de aprender, desenvolver a individualidade, espiritualizar o ser humano e a Terra. Com certeza, a atitude espiritual da humanidade anterior ao Cristianismo, de ver a salvação na libertação do ser humano da prisão terrestre, continuou permeando o Cristianismo até a nossa época. Por isso, também dentro do Cristianismo encontramos tendências de ver a salvação em um reino celeste em oposição à existência terrestre. Mas esse não é o verdadeiro impulso do Cristo.
O Cristo se encarnou no Jesus, “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”, para dar um sentido à existência terrena. E o sentido da existência terrena é que podemos aprender: Nós somos os únicos seres encarnados que, a partir das nossas experiências na Terra, podemos aprender e nos desenvolvermos a nós mesmos. E o maior aprendizado que podemos ter surge a partir de um impulso livre e individual de aprender a amar.
De uma forma simples e muito profunda, a essência do Impulso do Cristo é expressa no Ato Dominical para as Crianças:

“Aprendemos para compreender o mundo.
Aprendemos para trabalhar no mundo.
O amor dos homens uns aos outros dá vida a todo trabalho humano.
Sem o amor, a existência humana torna-se desolada e vazia.
Cristo é o mestre do amor humano”

João F. Torunsky

Reflexão sobre o Evangelho de João 26/3

“Porém, os que a receberam, puderam através dela, revelar-se filhos de Deus. Os que confiaram em seu nome, não são do sangue, nem da vontade da carne e nem da vontade humana, porém tornaram-se por Deus. ”
João 1, 12-13

Desenvolver a confiança no impalpável tornou-se tarefa árdua para a humanidade moderna. Ainda estamos presos à nossa corrente consanguínea, aos nossos instintos e vontades. Muitas vezes são essas amarras que nos definem como ser humano.
Romper o que me define e me permitir estar no espaço entre o certo e o incerto, entre o definido e o indefinido, entre o passado e o futuro não é tarefa fácil, mas imprescindível para a nossa era.
No espaço entre reside a pulsante vida que nos desperta. Despertos recebemos a Luz, o Verbo, a Palavra, Ele.
Abrem-se as cortinas da alma, a verdade primordial é revelada: Somos filhos do Mundo do Espírito, através dele “nos tornamos”.

Viviane Trunkle

Reflexão sobre o Evangelho de João 25/3

„Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a todos ilumina. Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o mundo não a reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram.“
João 1, 9-11

Durante o dia a luz do sol ilumina e a tudo penetra. Ela é visível em tudo que encontra em seu caminho: as nuvens, as pedras, as plantas, os animais e os seres humanos. Eles a refletem e a tornam visível. Em dias escuros, chuvosos e com muitas nuvens percebemos que não seria possível viver por muito tempo sem a luz do sol.
Da mesma forma a Luz Divina, a Luz que veio do princípio, do começo de tudo, penetra em todas as coisas e seres. Mas ao contrário da luz do sol ela não é tão visível, tão presente para os nossos olhos físicos. Temos conciência da Luz Divina no mundo e em nós? Percebemos que sem ela também não poderíamos viver?
Para o ser humano moderno, o mundo físico é muito presente. No dia a dia, no trabalho e em nossa vida, atuamos e transformamos este mundo. E este atuar no mundo é muito importante. Porém, o estarmos voltados para o mundo físico com a velocidade da vida moderna, nos leva facilmente a esquecer o outro lado do mundo. O mundo da Luz Divina que vive e brilha em todos nós.
Como a luz do sol, a Luz Divina pode se tornar visível por meio de nós. Ela pode começar a brilhar em cada gesto carinhoso, na ajuda ao próximo e em todos os momentos de silêncio nos quais olhamos para a nossa alma. Passo a passo podemos começar a acolher a Luz Divina e irradiá-la no mundo.

Julian Rögge

Reflexão sobre o Evangelho de João 24/3

“Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio como testemunho, para que testificasse a respeito da luz, para que todos cressem por intermédio dele. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz”.
João 1, 6-8

Qual é o propósito da existência? Por que fomos criados por Deus à sua imagem e semelhança? Muitas vezes ficamos perplexos com essas questões, que não são meras especulações filosóficas, mas, principalmente em situações de crise, quando duvidamos de nossos propósitos, e perdemos uma visão de sentido na existência, ou olhamos para o mundo com perplexidade e medo, por não reconhecer tal propósito. Queremos uma resposta que nos ilumine e restitua o sentido, pois aí sentimos, no fundo de nosso ser, que não viemos meramente para subsistir e procriar. Mas se não por isso, então por que? Se Ele houvesse nos criado para sermos meros sobreviventes – a vida para nós perderia todo sentido, mas se foi para manifestar sua bondade e sabedoria em todos seres criados, então o nosso propósito com o tempo seria reconhecer isso. É desse modo que podemos ser testemunhas da divina bondade e sabedoria de Deus, por meio de seu filho, como o foi o precursor João Batista. Como precursores estamos no processo de nos tornarmos o “Eu-sou”, seres auto-conscientes, livres e amorosos. Aquele que já o é plenamente é a luz do mundo que podemos testemunhar. Como dizia Tomás de Aquino: “Ele é a luz essencialmente, nós o somos por participação”. A sua luz ilumina todas as coisas para que, assim, possamos vê-las como elas são. E vendo-as, podemos crer. Por meio do testemunho, podemos crer, não por cega obediência a outro que fala como autoridade. Em grego a palavra para testemunho é Martyria, a mesma raiz da palavra mártir. Os mártires foram testemunhas fiéis, que ofereceram a vida inteira por amor a Cristo e morreram fiéis a sua causa. Portanto somos testemunhas potencialmente, na medida em que podemos reconhecer o Cristo, mas a realização de nosso ser só pode se dar quando nos entregamos totalmente e permitimos que Ele atue em nós para que possamos nos tornar plenos.

Carlos Maranhão

Reflexão sobre o Evangelho de João 23/3

„No princípio era o Verbo,
e o Verbo estava com Deus,
e o Verbo era Deus.
Este no princípio estava com Deus.
Todas as coisas existiram por ação dele
e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida,
e a vida era a luz dos homens.
E a luz brilha na escuridão,
e a escuridão não a recebeu.“
João 1, 1-5

Se queremos nos conscientizarmos do nosso passado podemos começar relembrando o que aconteceu ontem, na semana passada, no mês passado, no ano passado e assim até o momento da primeira lembrança que temos na nossa vida. Mais para trás do que este momento não temos uma recordação. Com certeza nossos pais nos contaram algo desta nossa primeira infância tão remota. Mas independentemente do que outros nos contaram, temos o sentimento óbvio, de que nós existimos ante do período do qual podemos nos recordar. Assim podemos pensar nestes primeiros anos da nossa vida como bebês, no tempo da gestação no ventre de nossas mães. E chegamos ao ponto da nossa fecundação.
E o que fomos antes? Podemos despertar em nós o sentimento, a convicção de que nós já tivemos uma existência antes da fecundação: não o nosso corpo, mas a nossa alma. E como foi esta vida da nossa alma no mundo espiritual? Quantas vezes já nos encarnamos, nascemos e morremos? Se tentamos imaginar algo concreto sobre estes tempos tão distantes, corremos o risco de torná-los muito abstratos. Mas ao invés de tentarmos imaginar algo concreto, podemos procurar fortalecer sempre mais o sentimento que nós e tudo o mais no mundo já existem por tempos muito longínquos. Este exercício de sentir o passado, sentir sempre mais a imensidão da corrente do tempo não nos deve levar à abstração de que o tempo é infinito. O sentimento da imensidão do tempo e da existência pode nos levar à consciência de que há um início para tudo: para nós, para o mundo, para o espaço e para o tempo.
Este é o princípio de tudo, um princípio que não só determina o ponto de partida, mas também a intenção, o sentido da criação de toda a existência. Neste princípio não existia nada daquilo que para nós é algo, mas era aquele nada do qual toda existência foi criada. É o princípio divino, que dá existência e sentido a tudo e a todos. Mas para que do nada surja algo, este princípio divino tem que se transformar em uma potência criadora. Esta potência criadora é de natureza divina, e incorpora em si a potência de criar a partir de um princípio: criar o tempo, criar o espaço, criar o mundo, criar a nós.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e Deus era o Verbo. Este, no princípio, estava com Deus. Todas as coisas existiram por ação dele e sem ele nada do que foi feito se fez.”

Se começamos a nos conscientizarmos da nossa existência percebemos que temos três níveis do nosso ser: temos um corpo (substância), temos vida e temos consciência. Um próximo passo de conscientização do divino na nossa existência é sentir que não apenas o mundo como substância tem sua origem num princípio divino, mas também nossa vida e nossa consciência.

“Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. “

Temos um corpo que dá a base para a nossa vida. Temos uma vida que dá a base para o desenvolvimento da nossa consciência. E aqui chegamos à pergunta básica da nossa existência: como podemos desenvolver uma consciência que seja capaz de receber a luz Divina que é a origem de tudo e de todos, que atua no mundo e em nós?

“E a luz brilha na escuridão, e a escuridão não a recebeu. “

João F. Torunsky